quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Letras em Cena CPFL

No dia 28 de setembro a CPFL Cultura apresentou em Ribeirão Preto a leitura dramática da peça “O sonho de um homem ridículo”, de Fiódor Dostoievski,  texto sempre atual, com adaptação e direção de Rubens Curi. O texto, originalmente um monólogo, tem, nesta adaptação, a interpretação do narrador desdobrada para um ator (Clóvys Torres) e uma atriz (Elke Maravilha).
Esta concepção tem por objetivo comunicar, tanto que sua mensagem independe de gênero, como que o conflito proposto tem suas bases nos matizes das relações entre concreto e o abstrato, a razão e a emoção, a luz e a sombra, revelando que é na soma da diversidade humana que está a unidade: sejam quais forem nossas diferenças genéticas ou culturais, almejamos e tememos fundamentalmente as mesmas coisas.
O evento integrou a programação do projeto Letras em Cena – Leituras Dramáticas e Poéticas, idealizado por Clóvys Tôrres e Marina Mesquita com o objetivo de promover encontros entre autores, atores, poetas, produtores, diretores e o público, revelando o primeiro processo de uma montagem teatral: a leitura de mesa, momento em que começam os entendimentos sobre o texto, autor, período histórico, importância da obra, entre outros aspectos.
Foi um grande prazer conhecer Elke, uma pessoa iluminada e uma grande atriz. Da mesma forma, foi um presente assistir à interpretação de Clóvys Torres, grande ator até então desconhecido para mim. Sem falar na competência e simpatia do diretor Rubens Curi. Conversei com todos eles, e também com a Marina, após a leitura e foi muito proveitoso o nosso papo.  Mês que vem tem mais. Vejam as fotos:



Bate- papo após a leitura

Comigo, Eliane Ratier e o ator Clóvys Torres
Comigo,  Paulo e a maravilhosa Elke

O diretor Rubens Curi e eu

Serão Literário com Fernando Fiorese


Mais um mineiro, mais um talento. Embora eles venham de diferentes regiões de Minas, das diversas Minas, como defende esse escritor, tenho notado em todos eles este ponto em comum: uma qualidade literária excepcional e um quê a mais em seus escritos. 
Menalton  apresentou Fiorese como um dos maiores poetas brasileiros atualmente e eu não duvido disso.
Sua poesia teve uma influência marcante de João Cabral de Melo Neto em sua estrutura, mas não se restringe a esse aspecto. Em seu livro atual Um dia, o trem ele diz ter radicalizado nessa influência justamente para poder, finalmente, deixá-la à parte.
Nesse serão, ele leu um conto muito forte de seu mais recente livro " Aconseho-te cureldade" e  poemas do  "Pequeno Livro de Linhagens,  cujas figuras que me remeteram direto à minha infância. Deixo aqui para vocês dois desses poemas

AVÓ DEPOIS DE MORTA

A Dona Rosa, minha avó

A avó ainda rega o canteiro
onde mirraram os brinquedos.

Mesmo morta ainda
ralha com a tempestade
que escondeu os meninos
em outra idade.

Ainda cose um pulôver
com os fios da mortalha.


NELSA, ENQUANTO COSTUREIRA

De corpo entendo.
O que me escapa
são os remendos
que amiúde pedem,
como se eu pudesse
costurar para dentro.

Um alfinete
é a dor que posso.
De roupa entendo.
O que me espanta
é porque tão ciosas
de esconder a nódoa,
quando um corpo
existe pelas dobras.

Um alfinete é pouco
para ensiná-las.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Francisco Alvim


Argumento

Mas se todos fazem.

Francisco Alvim

Hoje - Prosa de Saberes com Ilana Volcov




Hoje, quarta -feira, às 19:00 horas, a Oficina Cultural Candido Portinari recebe Ilana Volcov para mais uma edição do Prosa de Saberes, dessa vez prestigiando a música. O evento será no auditório da Bilbioteca Padre Euclides., Rua Visconde de Inhaúma, 490 – 1º andar – Centro

A cantora Ilana Volcov há dois anos pesquisa a modinha, primeiro gênero da canção brasileira, derivada da moda portuguesa, dramática e sentimental, cujos primeiros letristas foram alguns dos principais poetas da época. Tem trabalhado ao lado de compositores como Eduardo Gudin, Guinga e Vanessa da Mata e participou em discos autorais de Zeca Baleiro, Vicente Falek e Beba Zanettini, no DVD de Luis Nassif e no CD Um jeito de fazer samba (2006), de Gudin, lançado também no Japão. O seu primeiro disco solo “Banguê” – expressão que significa cana-de-açúcar e remete à história da monocultura, da sociedade escravocrata e da cultura africana – é uma preciosa coleção de registros sobre a nossa gente, celebrada de maneira graciosa.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas na sede da Oficina Cultural Candido Portinari (mesmo endereço do evento) ou pelo e-mail oc.candidoportinari@gmail.com .
Mais informações pelos telefones (16) 3625-6161 ou (16) 3625-6970.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Chuva - Mara Senna

Chuva

Hoje eu acordei chuvosa como o tempo.
A melancolia escorria dos meus dedos
como a água da chuva nas telhas.
E eu chovi assim o dia inteiro.
Até que, à noite,
passou a chuva,
abriu-se o céu,
veio a lua alta
e me curou.

Mara Senna
in: Luas Novas e Antigas

domingo, 26 de setembro de 2010

Programação Cultural da Semana

A semana começa cheia de bons eventos culturais em Ribeirão Preto:

Amanhã dia 27/09  tem Serão Literário com Fernando Fiorese no Templo da Cidadania às 20:00 horas (ver postagem anterior do blog para mais detalhes).

Na terça, 28 de setembro, às  19h, tem Letras em Cena na CPFL com “O sonho de um homem ridículo”  de Fiódor Dostoievski. Direção e adaptação de Rubens Curi .Com Elke Maravilha e Clóvys Torres.

Também na terça dia 28. em comemoração ao Dia do Tango, haverá uma apresentação de música e de  dança com Juan e Adriana, às 20:30 horas no Teatro Municipal.

Na quarta dia 29/9 tem Prosa de Saberes com Ilana Volocov às 19:00 horas na Biblioteca Padre Euclides. Esse eu darei mais detalhes amanhã no blog.

É só ir e curtir.

Deixa chover!

Em função do mau tempo (ou seria bom tempo? Bendita chuva...) acabei não me apresentando hoje no Autor no Parque. Fica para a próxima; eu aviso.  Deixa chover!

"Certos dias, de chuva
Nem é bom sair
De casa, agitar
É melhor dormir...

Se você tentou
E não aconteceu
Valeu!
Infelizmente nem tudo é
Exatamente como a gente quer...

Deixa chover...
Deixa a chuva molhar
Dentro do peito
Tem um fogo ardendo
Que nunca vai se apagar..."

Guilherme Arantes

sábado, 25 de setembro de 2010

Autor no Parque

Amanhã é dia de Autor no Parque, que faz parte da programação do Ponto de Leitura que acontece todos os domingos no novo Parque Maurílio Biagi.
Eu estarei lá a partir das 11:00 horas, juntamente com outros autores, fazendo a leitura dos meus poemas. Apareça, participe!
Antes disso, haverá outras atrações como contação de histórias para crianças, uma delícia!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Glória - Miguel Torga

Glória

Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.

Miguel Torga

Carpinejar de volta a Ribeirão - hoje!

O irreverente escritor e poeta Fabrício Carpinejar estará hoje no Shopping Santa Úrsula a partir das 19:00 horas. Entrada franca.

"Se alguém me achar, me devolva."
Fabricio Carpinejar

(Ele não é uma figura?)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ângela Dutra de Menezes em Ribeirão Preto


Já está quase chegando o serão  literário de setembro e eu ainda não comentei sobre o de agosto, que contou com a presença da carioquíssima escritora e jornalista Ângela Dutra de Menezes.
Mais uma vez tivemos momentos muito agradáveis, contagiados pela simpatia de Ângela que nos presenteou com a leitura de seus textos.
A literatura de Ângela tem um estreita relação com Portugal e com a história de modo geral. Com seu primeiro romance, Mil anos menos cinquenta (1995), a saga de uma família em dez séculos de civilização (de Portugal à vinda para o Brasil), ela filia-se à corrente do romance histórico moderno, trabalhando uma linguagem colorida e rica em nuances. A autora realiza uma ficção reflexiva e crítica da História.  Em seu segundo romance, Santa Sofia (1997), que é um dos seus preferidos, ela mergulha no imaginário de Minas Gerais do século XIX.
Seus livros mais recentes são O avesso do retrato (1999), romance ambientado no Rio de Janeiro, que que explora a dualidade do caráter humano, e o excelente O português que nos pariu (2000), que está esgotado.
 Na foto acima, da esquerda para direita estão: Menalton Braff, Ãngela Dutra de Menezes, eu e a também escritora ribeirãopretana, Regina Baptista.

Serão literário com Fernando Fiorese

clique para ampliar

Mais uma vez, o escritor Menalton Braff traz ao Serão Literário um convidado da mais alta qualidade literária. Não percam!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dia da árvore com poesia de Olavo Bilac

Velhas árvores

Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas...

Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

Olavo Bilac

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Flor de ir embora

Flor de Ir Embora

Flor de ir embora
É uma flor que se alimenta do que a gente chora
Rompe a terra decidida
Flor do meu desejo de correr o mundo afora
Flor de sentimento
Amadurecendo aos poucos a minha partida
Quando a flor abrir inteira
Muda a minha vida
Esperei o tempo certo
E lá vou eu
E lá vou eu
Flor de ir embora, eu vou
Agora esse mundo é meu

Fátima Guedes

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer."

Mário Quintana

Leminski

Bom dia, poetas velhos

Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto de versos
mais fortes que não farei.

Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.

Paulo Leminski
(1944-1989)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Carpe diem

by Nannoo

Carpe Diem

Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

Não perguntes, saber é proibido,
o fim que os deuses darão a mim ou a você,

Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia não brinque.
É melhor apenas lidar com o que cruza o seu caminho.

Se muitos invernos Júpiter te dará
ou se este é o último, que agora bate
nas rochas da praia com as ondas do mar.

Tirreno: seja sábio, beba seu vinho
e para o curto prazo reescale suas esperanças.

Mesmo enquanto falamos,
o tempo ciumento está fugindo de nós.


Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.
Podemos sempre ser melhores.
Basta pensarmos melhor.

Horácio
(tradução do Latim)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Luiz Ruffato na LIivraria Cultura em São Paulo

Luiz Ruffato bate papo sobre o livro Eles Eram Muitos Cavalos.
Esse livro, publicado originalmente em 2001, conquistou, naquele ano, os principais prêmios da literatura brasileira: APCA e Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. Além disso, foi escolhido pelo jornal O Globo com um dos 10 mais importantes romances da primeira década do Século XXI. O livro está publicado também na Itália (Bevivino Editore), França (Éditions Métailié), Portugal (Quadrante) e Argentina (Eterna Cadencia).
O evento será conduzido pelo jornalista Claudiney Ferreira e contará com a participação do público.
Data e Horário: terça-feira, 14 setembro, às 19h
Local: Livraria Cultura - mezanino da Loja Record - Av. Paulista, 2073 - Conj. Nacional. São Paulo-SP.
Entrada franca - não há necessidade de reservas. 40 lugares.
Informações: (11)3170-4033 com Andréia, área de eventos

domingo, 12 de setembro de 2010

Arauto - Mara Senna

Arauto

Não pensem que eu sou triste
porque sempre falo da tristeza.
É que, quando sou alegre, não sei falar.
Não sou o arauto da desgraça,
pelo contrário,
tenho graça em mim.
Mas ela é muda.
Só fica na cara.

Mara Senna
in: Luas Novas e Antigas

Livro eletrônico por Lya Luft

 
Excelente artigo publicado em Veja de 12/09/10, o qual eu assino embaixo.
(Clique na imagem para aumentar)

" As dicussões sobre o fim do livro e a morte das editoras, quem sabe dos escritores, me parecem tolas, material de intermináveis diálogos e discussões vazias"
Lya Luft

sábado, 11 de setembro de 2010

Flora Figueiredo

Fragílimo

Está faltando só um pedacinho de noite
pra me fazer chorar.
Quando ela entrar
com seu passo manso e mudo,
libero a lágrima, reconsidero tudo.
Vou te buscar.

Flora Figueiredo
"Deixe em paz meu coração
 que ele é um pote até aqui de mágoa
e qualquer desatenção, faça não.
Pode ser a gota d'água."

Chico Buarque

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Exausto

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

Adélia Prado

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Mensagem a um desconhecido

"Teu bom pensamento longínquo me emociona.
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim,
e me entendeste profundamente.

Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado."

Cecília Meireles
Fevereiro de 1956
 In: Poesia Completa
Dispersos (1918-1964)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Florbela Espanca

«O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!»

Florbela Espanca

Alejandra Pizarnik

A carência

Não sei sobre pássaros,
não conheço a história do fogo.
Mas creio que minha solidão deveria ter asas.

Alejandra Pizarnik
poeta argentina
 in De Las Aventuras Perdidas (1958)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dona doida


Dona Doida

Uma vez, quando eu era menina,
choveu grosso, com trovoada e clarões,
exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

Adélia Prado

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Chuva!

Eu sei que já postei este poema aqui no blog mas, depois da chuva bendita que caiu hoje, não resisti em colocá-lo aqui de novo. Afinal, a poesia nos exprime.

Depois da chuva

Eu gosto de chuva.
Chuva é choro que lava a alma da natureza.
Mas eu gosto mais ainda do depois da chuva.
É como o alívio do depois de chorar.

Mara Senna
in Luas Novas e Antigas
"Saudade é uma tatuagem na alma,
só nos livramos dela perdendo
um pedaço de nós..."

Mia Couto

domingo, 5 de setembro de 2010

Mia Couto


Com um certo atraso, quero comentar o encontro literário com
Mia Couto.
Vai ser bom assim lá em Moçambique!
Apesar de todo o seu declarado cansaço por estar vindo de uma série de palestras, Mia foi amável com todos, engraçado ao contar histórias da sua infância e demonstrou ter 
a simplicidade dos que são realmente bons no que fazem
e a serenidade dos que cumprem bem
o seu papel em seu país e no mundo.
Uma das suas frases que mais me marcou foi a de que para ele
 " a poesia, mais do que um gênero literário, é um saber."
Deixo aqui um dos seus poemas e não será preciso dizer mais nada.

Horário do Fim

morre-se nada
quando chega a vez

é só um solavanco
na estrada por onde já não vamos

morre-se tudo
quando não é o justo momento

e não é nunca
esse momento


Mia Couto
in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"Não, os jardins não morrem no inverno, (...) apenas sofrem um pouco mais do que de costume.
Coisas assim, eu penso e aprendo olhando meu jardim sobrevivente."

Caio Fernando Abreu