quarta-feira, 13 de maio de 2009

Doida ou santa - Adélia Prado

foto: Mara Senna


A Serenata

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos-
só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela,se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado

2 comentários:

  1. Oi Mara,
    Muito gostoso o seu espaço.
    Adorei o poema...todas às vezes não sabemos ao certo o que é certo... ser doida ou ser santa?
    Eis o nosso dilema!
    Abraço,
    Mari

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