quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Serão Literário com Fernando Fiorese


Mais um mineiro, mais um talento. Embora eles venham de diferentes regiões de Minas, das diversas Minas, como defende esse escritor, tenho notado em todos eles este ponto em comum: uma qualidade literária excepcional e um quê a mais em seus escritos. 
Menalton  apresentou Fiorese como um dos maiores poetas brasileiros atualmente e eu não duvido disso.
Sua poesia teve uma influência marcante de João Cabral de Melo Neto em sua estrutura, mas não se restringe a esse aspecto. Em seu livro atual Um dia, o trem ele diz ter radicalizado nessa influência justamente para poder, finalmente, deixá-la à parte.
Nesse serão, ele leu um conto muito forte de seu mais recente livro " Aconseho-te cureldade" e  poemas do  "Pequeno Livro de Linhagens,  cujas figuras que me remeteram direto à minha infância. Deixo aqui para vocês dois desses poemas

AVÓ DEPOIS DE MORTA

A Dona Rosa, minha avó

A avó ainda rega o canteiro
onde mirraram os brinquedos.

Mesmo morta ainda
ralha com a tempestade
que escondeu os meninos
em outra idade.

Ainda cose um pulôver
com os fios da mortalha.


NELSA, ENQUANTO COSTUREIRA

De corpo entendo.
O que me escapa
são os remendos
que amiúde pedem,
como se eu pudesse
costurar para dentro.

Um alfinete
é a dor que posso.
De roupa entendo.
O que me espanta
é porque tão ciosas
de esconder a nódoa,
quando um corpo
existe pelas dobras.

Um alfinete é pouco
para ensiná-las.

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