terça-feira, 29 de maio de 2012

Maria Carpi

Foi um grande e inesperado presente ser a mediadora do Salão de Ideias da poeta Maria Carpi na Feira do Livro de Ribeirão Preto. Quem lá esteve, se inebriou de uma poesia forte, marcante, mas incrivelmente carregadade ternura e de compaixão.
Leiam esta poeta, não sabem o que está perdendo quem ainda não a conhece.
Há quem tem perdido a fé no ser humano. Eu só aumento a minha quando conheço pessoas como ela. Realmente um presente.

OS PÃES

Eu sou filha do interior

onde os pães não levedam
com acúmulos do acaso,
mas artesanal virtude
desde a luz do trigo
à luz da fome. Onde a
farinha e a água estão
à flor da pele. Onde não
é o grão que se prepara
para a boca, mas a boca
que amadurece para o grão.
O trigo dali não sobe,
Mas desce-entre-nós.
O pão dali não apena
sustenta, mas profere
a palavra que dorme na
aparência. O pão escuta.
Maria Carpi
Vidência e acaso, 1992.

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