terça-feira, 10 de novembro de 2009

E o Rio de Janeiro continua lindo...

 
Voltei ao Rio recentemente, depois de alguns anos sem ir até lá. Riscos e balas perdidas à parte, o Rio sempre me fascinou e ainda fascina; é muita beleza! Sou apaixonada por aquele azul, aquelas montanhas... Na verdade nunca fui vítima de qualquer tipo de violência por lá, mas eu sei que para quem vive o dia-a-dia, a coisa não anda nada fácil.
Torço para que a situação melhore e nem sei qual seria a solução,  mas sei que é muito desperdício não poder usufruir plenamente da Cidade Maravilhosa.
Transcrevo aqui o poema que Manuel Bandeira fez há 50 anos atrás, com saudades do Rio antigo. Imaginem se Manuel vivesse agora...

Saudades do Rio antigo

Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada.
Lá o rei não será deposto
E lá sou amigo do rei.
Aqui eu não sou feliz
A vida está cada vez
Mais cara, e a menor besteira
Nos custa os olhos da cara.
O trânsito é uma miséria:
Sair a pé pelas ruas
Desta capital cidade
É quase temeridade.
E eu não tenho cadilac
Para em vez de atropelado,
Atropelar sem piedade
Meus pedestres semelhantes.
Oh! que saudades que eu tenho
Do Rio como era dantes!
O Rio que tinha apenas
Quinhentos mil habitantes.
O Rio que conheci
Quando vim para cá menino:
Meu velho Rio gostoso,
Cujos dias revivi
Lendo deliciosamente
O livro de Coaraci.
Cidade onde, rico ou pobre
Dava gosto se viver.
Hoje ninguém está contente.
Hoje, meu Deus, todo mundo
Traz na boca a cinza amarga
Da frustração...Minha gente,
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

(1886-1968)
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