sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Depois do Fim - Mário Quintana

Criança sorri em orfanato em Porto Príncipe.
Após mais de uma semana de buscas por sobreviventes nos escombros deixados por um terremoto que devastou o país, o Haiti se preparava neste sábado para chorar seus mortos em meio a sinais de que o cotidiano começava a voltar ao devastado país caribenho.22/01/2010.REUTERS/Tomas Bravo

A notícia vai ficando antiga mas, a imagem do sorriso fica, assim como a imagem do menino saindo dos escombros de braços abertos. Há vida depois do fim.


Depois do fim

Brotou uma flor dentro de uma caveira.
Brotou um riso em meio a um De profundis.
Mas o riso era infantil e irresistível,
As pétalas da flor irresistivelmente azuis...
Um cavalo pastava junto a uma coluna
Que agora apenas sustentava o céu.
A missa era campal: o vendaval dos cânticos
Curvava como um trigal a cabeça dos fiéis.
Já não se viam mais os pássaros mecânicos.
Tudo já era findo sobre o velho mundo.
Diziam que uma guerra simplificara tudo.
Ficou, porém, a prece, um grito último da esperança...
Subia, às vezes, no ar, aquele riso inexplicável
de criança
E sempre havia alguém re-inventando amor.

Mário Quintana

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