Quando eu era criança em Araxá, Minas Gerais, morei até os meus treze anos, bem ao lado da Igreja de São Sebastião. Tão ao lado, que quando havia missa, dava pra ver e ouvir da varanda ou da janela de casa. O armazém do meu pai também era ali ao lado, e toda nossa infância girava em torno daquela praça.
E no dia 20 de janeiro, depois das noites de novena, acontecia a grande festa do santo. Até hoje sei de cor a música que dizia: " Sebastião santo, de Jesus querido..." ; era pungente, dolente como as flechas que transpassavam o seu corpo e que tanto me impressionavam.
Era grande a fé de todos, em especial da minha mãe, que amava tudo naquela praça de São Sebastião, onde ela também fora criada.
Guardo até hoje a voz do leiloeiro, gritando as prendas depois das missas: um frango (vivo) oferta do senhor fulano, uma leitoa assada, oferta da senhora sicrano... 'Quanto me dão?'
Guardo o cheiro da pipoca, a cor rosa do algodão doce, a tentação da maçã do amor, a doçura daquelas noites de novena e de festa.
Hoje penso como era tudo de uma simplicidade sem par. Nossas roupinhas de festa, as barraquinhas em frente à igreja, todo o povo bom que morava por ali, aquele nosso mundo onde a maldade parecia não existir.
Depois, nos mudamos dali e, após mais alguns anos, fui eu que me mudei de cidade para estudar em Ribeirão Preto e nunca mais voltei a morar na minha cidade natal.
Outro dia, em uma das minhas idas a Araxá, fui à missa na antiga e linda igreja de São Sebastião. E eis que a saudade da infância, sorrateira, atravessou-me doída como as flechas no corpo do santo.
Essas saudades que invadem o peito quando nos vêm as lembranças de infância, de momentos tão preciosos em nossas vidas são saudáveis, nos fazem reviver por alguns poucos instantes tantas coisas que pareciam estar esquecidas...
ResponderExcluirLinda crônica. Abraços
é verdade, Regina. Obrigada. Um grande abraço.
ResponderExcluirQue saudades desse tempo, infância feliz!!!
ResponderExcluirAinda bem que tivemos...bjs
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