Falcatruas brasileiras - Blog da FLIPJulho 03, 2009
Falcatruas, mamatas, narrativas míticas, literatura e música foram tema da conversa entre Chico Buarque e Milton Hatoum, na mesa 10 da FLIP 2009. Como se esperava, “Sequências brasileiras”, foi a mesa literária mais concorrida deste ano, até o momento. O blog da FLIP acompanhou a conversa de fora da Tenda do Telão, no início da noite de sexta, nas ruas lotadas de Paraty. Chico Buarque e Milton Hatoum contaram como conceberam seus relatos mais recentes: o romance Leite derramado e a novela Órfãos do Eldorado, respectivamente. O livro de Chico é narrado por Eulálio, um homem centenário que relembra os tempos de glória de sua família quatrocentona, inclusive algumas falcatruas, como a de um deputado paulista que ganhou uma “mamata”: a concessão para construir o porto de Manaus. “São histórias reais, que ouvi contar por gente conhecida minha.” O fato de ser filho do historiador Sergio Buarque pode ter ajudado na composição da história. “Papai gostava de contar muitas histórias e gostava muito de fofoca. “Reunia os amigos e contava coisas escabrosas”. O romance tem como protagonista e narrador esse membro de uma família da elite brasileira, que se denuncia no próprio relato. Milton Hatoum também foi buscar na história inspiração para sua novela. Mas a narrativa de Arminto Cordovil esbarra não só em episódios históricos, mas também no mito de Eldorado, a rica e mítica cidade perdida no fundo de um rio. Milton contou que sua pesquisa histórica, feita para compor a história, resultou em material farto a respeito das falcatruas brasileiras. Indagado se sentia um escritor regional, disse que sim, com orgulho. Sou tão regional que me torno universal. Num mundo globalizado como o de hoje, sem chão histórico, ser regional é motivo de orgulho.” Comentando algumas semelhanças sobre os dois livros, os dois escritores disseram, em tom de piada, que haviam copiado uma ao outro. Os autores comentaram ainda a concisão de suas obras, e outros escritores de que gostam, como Guimarães Rosa. Chico comentou ainda que prefere ler a escrever. “Escrever é chatíssimo”, disse ele. “Durante o tempo que eu escrevia o livro, todo dia relia o texto inteiro”. Comentou também a dificuldade de se livrar dos livros anteriores. “Os narradores permanecem na minha cabeça”. E falou também sobre a relação entre música e literatura. “Tenho necessidade de sentir musicalmente cada frase. Se o que escrevo não estiver cantável, jogo fora”.Ao final da mesa, Chico se pronunciou a favor das comunidades quilombolas, indígenas e caiçaras, que fizeram manifestação pelas ruas de Paraty nesta sexta.
Chico Buarque dispensa comentários. Mas eu teimo em fazer um comentário: ele realmente excede: em música, em poesia, em prosa. Grande Chico.
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