Metades
Sou
capaz de longas ausências,
de
navegar por anos a fio,
sem
mandar mensagens.
Sou
capaz de longos silêncios,
de
me calar por muito tempo,
sem
dizer bobagens.
E
então sou a sábia,
a
ponderada,
a
prudente,
a elevada.
Mas
também
sou
a mesma
que
deixa encalhar o navio
nos
bancos de areia,
que
segue o hipnotizante
canto
da sereia,
e
que solta o verbo
e
entrega tudo o que sente.
E
aí, então, sou a tola,
a
impulsiva,
a
inconsequente,
a
doidivanas.
Mas,
somando as metades,
eu
sou é humana.
Mara Senna
no livro Ensaios da Tarde
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