Perdemos hoje um dos nossos mais queridos e melhores escritores: Moacyr Scliar, com quem tivemos o privilégio de conviver alegremente durante várias edições da Feira do Livro de Ribeirão Preto. Ele adorava vir aqui e brincava que ia se mudar para Ribeirão.
Transcrevo aqui o lindo texto de Lucia Bettencourt em seu blog Nadanonada, sobre Scliar, porque eu não saberia fazê-lo melhor.
"Hoje perdemos uma pessoa admirável, o nosso querido Moacyr Scliar. Gostava de ficar escutando suas histórias, pois ele era um exímio "contador". Ele, modesto, dizia que tinha aprendido isso com o pai. E até contava alguns casos do pai. Mas o que ele contava mesmo bem eram histórias da mãe: sabe como é, mãe judia, em seus extremos amorosos, parece mesmo obra de ficção. E a gente ria, escutando ele contar coisas que deviam remexer o mar de saudades que ele carregava dentro de si. Outras histórias eram sobre o filho, o único filho, que não gosta de ler (segundo ele contava, talvez para fazer graça) e as estratégias que ele inventava para obrigar o filho a ler. Só que eu ficava pensando que, se o Moacyr Scliar fosse meu pai, eu provavelmente não gostaria de ler também, pois quem não quer ficar escutando alguém nos contar histórias e nos divertindo em conjunto ao invés de ir para seu quarto e ler sozinho? Quem tem uma pessoa que conta histórias em sua casa, e conta bem histórias, só passa a ler quando o repertório do contador se esgota. O problema é que, com sua criatividade, as histórias de Scliar iam se multiplicando, sempre novas, sempre saborosas. Compreendo seu filho, e sei que agora ele há de procurar nos livros os ecos de sua voz, e encontrará consolo na leitura.
Vai em paz, Scliar, e que não te faltem histórias para contar e escutar pela eternidade. Nós sentiremos sua falta, mas honraremos sua memória e sua generosidade com nossas lembranças."...
Lucia Bettencourt, escritora.
http://nadanonada.blogspot.com/