segunda-feira, 31 de agosto de 2009

SOL DE PRIMAVERA


Eu adoro o mês de setembro, talvez pela sensação de renovação que vem em cada primavera, talvez pelas cores dos ipês que me fascinam e muitas outras cores que aparecem nos jardins. Todos os anos, quando setembro começa, imediatamente me vem à cabeça esta música do Beto Guedes, que faz parte da trilha sonora da minha vida. Amanhã entra setembro Bem-vindo!


Sol de Primavera


Beto Guedes/ Ronaldo Bastos


Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos
Quero ver brotar o perdão
Onde a gente plantou
Juntos outra vez
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender
Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa inventar
Uma nova canção
Que venha trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender

domingo, 30 de agosto de 2009

Literatura, Teatro, Música!

Esta semana que passou foi muito privilegiada, culturalmente falando.
Na terça, serão literário com o escritor Marcelino Freire, pernambucano radicado em São Paulo, autor, entre outros, de 'Contos Negreiros" e 'Racif ". Também organizou a coletânea "Os cem menores contos brasileiros do século". Engraçado, inteligente, irreverente.
Quem quiser conhecer um pouco mais, acesse o seu famoso blog: http://www.eraodito.blogspot.com/.
Na quinta, Olívia Byington com o show PERTO: maravilhoso, intimista, músicas belíssimas e a interpretação impecável de Olívia. Amei!
No sábado, muita diversão com a comédia " Concerto de Senhoritas", com o grupo Boca no Trombone, aqui de Ribeirão. As personagens são todas homens vestidos de mulheres, entre eles o impagável Djalma Cano,interpretando uma madame francesa.
E para fechar com chave de ouro (e ja´começando outra semana), acabo de chegar de um show com Miúcha e o Gupo Galo Preto, cantando modinhas e chorinhos. Sabe aquele show que você não quer que acabe nunca? Pois é...
Como diz o Millôr, a vida é perto...

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ponto e Vírgula - Mara Senna

Ponto e Vírgula

(Mara Senna)

Eu não sei por que
esta mania
de querer deixar traços,
marcas no chão,
levar pedaços,
eternizar momentos,
imortalizar pessoas,
levar uma vida atemporal.
Por que não vivo a razão gramatical
do ponto final?

Este poema faz parte do livro " Luas Novas e Antigas"
(todos os direitos reservados/all rights reserved)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Perfume - Mara Senna


PERFUME
Mara Senna
O seu perfume chega antes de você
e permanece quando você vai embora.
É prenúncio e lembrança.
É reminiscência
e outra vez a sua iminência
alegre de voltar.
Espalha-se por toda a nossa história,
cheirando a bálsamo de amor amigo,
a fragrância de amor renovado e antigo.
Tudo impregnado na memória do vento
que leva e traz de volta o perfume,
contra toda e qualquer força do tempo.


Este poema faz parte do livro " Luas Novas e Antigas", de minha autoria, e foi originariamente dedicado ao Paulo.
(todos os direitos reservados/all rights reserved)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Nem especialmente alegre ou triste

"Nem especialmente alegre ou triste se precisa estar. Ocorre como os chamados movimentos autônomos do corpo. Sem aviso me apanho cantando: "...Atestam-te os meus olhos rasos d'água a dor que a tua ausência me causou...." São preciosos registros, farelos de ouro, retalho de pano bom. Me levanto para guardar, botar no cofre, certamente em vão, têm natureza de nuvem, passam. Você olha, acha bonito, mas segurar não pode. Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo. Quero pôr o bonito numa caixa com chave para abrir de vez em quando e olhar."


Adélia Prado em Manuscritos de Felipa, pág 53

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Tentação - Clarice Lispector



Este é um texto apaixonante, um dos meus favoritos. Foi citado em uma postagem de julho aqui do blog, que é um texto do Caio Fernando Abreu, chamado Pequenas Epifanias. Vale a pena ler os dois. Ambos são tocantes e nos deixam com uma inquietante sensação de falta, a eterna dúvida do que teria sido aquilo que não quisemos, não pudemos ou não ousamos viver.


Tentação


Clarice Lispector


Ela estava com soluço.
E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava.
Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto de bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço, a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão.
Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento.
Na rua deserta nenhum sinal de bonde.
Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher ? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas.
O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão do Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnado na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam. Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava ? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo. Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos. Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo.
Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne.
Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. Mas ambos eram comprometidos. Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ele fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreendiam. Acompanhou-os com os olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Uma dose de Vinícius

Este poetinha entendia mesmo de amor...


Soneto do Amor Total



Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.


Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


Vinícius de Moraes

domingo, 9 de agosto de 2009

As mãos do meu pai - Mário Quintana


As Mãos do Meu Pai


As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos,
meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco,
longamente,vieste alimentando
na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos
e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...

(Mario Quintana)

Em homenagem a todos os pais, cujas mãos conduzem os filhos.

sábado, 8 de agosto de 2009

Clarice

Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania.
Depende de quando e como você me vê passar.
Clarice Lispector

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fernando Pessoa - Tenho Tanto Sentimento


Tenho Tanto Sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Hilda Hilst - DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO

foto by Carmen Fanganiello



DEZ CHAMAMENTOS AO AMIGO


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei.
E há tanto tempo
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu.
Pastor e nauta
Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst


*Hilda de Almeida Prado Hilst (Jaú, 21 de abril, 1930Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poetisa, escritora e dramaturga brasileira. Escreveu por quase cinqüenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários do Brasil.





segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Desejos de Drummond

Desejo a você…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Crônica de Rubem Braga
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Uma tarde amena
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.


domingo, 2 de agosto de 2009

Chico Alvim - Manhã de Sol com Azulejos


Manhã de Sol com Azulejos

Francisco Alvim

Tudo se veste da cor de teu vestido azul
Tudo - menos a dona do vestido:
meus olhos te passeiam nua
pela grama do campo de golfe
Uma curva e eis-nos diante de meu coração
Não amiga não temas meu coração;
é apenas um chapéu surrado
que humildemente estendo
para colher um pouco de tua alegria
de tua graça distraída
de teu dia





Biografia: Francisco Alvim ou simplesmente Chico Alvim (Araxá, 1938) é poeta e diplomata brasileiro. Estreou em 1968 com o livro de poema O sol dos cegos, que junto de Antonio Carlos de Brito, o Cacaso, marcava o aparecimento do que José Guilherme Merquior chamou de a primeira geração de poetas “pós-vanguardas”. Entre 1969 e 1971 vive em Paris, onde escreve parte de seu livro Passatempo, lançado em 1974 pela coleção Frenesi, que editou também os livros Grupo Escolar, de Cacaso, Corações veteranos, de Roberto Schwarz, Em busca do sete-estrelo, de Geraldo Carneiro, e Motor, de João Carlos Pádua, livros que compõem a chamada poesia marginal, que ganhou publicidade com a antologia 26 poetas hoje, organizada por Heloisa Buarque de Hollanda. Em 1978, publica Dia sim, dia não, com Eudoro Augusto, e, em 1981 Festa e lago, montanha, que mantinham a marca da produção independente e artesanal do autor.
Em 1981 a editora Brasiliense reuniu seus livros em Passatempo e outros poemas, com o qual granhou o
prêmio Jabuti. Em 1988, lança Poesia reunida, que lhe rendeu outro prêmio Jabuti, e em 2000, Elefante, livros depois reunidos em Poemas (1968-2000).
Obtido em "
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Alvim"





sábado, 1 de agosto de 2009

Naquela estação

Naquela Estação

Você entrou no trem
e eu na estação
Vendo um céu fugir
Também não dava mais para tentar....
lhe convencer....
a não partir
E agora tudo bem
Você partiu...
para ver outras paisagens
e o meu coração embora
finja fazer mil viagens
fica batendo parado naquela estação
João Donato de Oliveira Neto, mais conhecido apenas como João Donato (Rio Branco, 17 de agosto de 1934), é um instrumentista (pianista e acordeonista), arranjador, cantor e compositor brasileiro.