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sábado, 25 de dezembro de 2010

Poema de Natal, quase de amor. - Thiago de Melo

Poema de Natal, quase de amor.

Cristo nasceu. Nascido permanece.
Contudo não lhe fui à manjedoura:
à medida que morro desaprendo
o caminho sonhado por meus pés.
Ervas encobrem sendas de Judá
que outrora palmilharam magos, bois.
(Já à beira do Sinai, nascem fragores,
não das sarças ardendo, mas dos ódios.)

Aos olhos de quem soube do menino
e se aventura a achá-lo, entre destroços
de uma Jerusalém abandonada,
não brilha mais a estela solitária.
Hoje são muitas, todos nos confundem
e indicam mil caminhos: nenhum leva
ao Cristo adormecido entre capim.

O cristal do seu pranto está perfeito.
Os mugidos perduram, sempre humildes.
A mensagem de amor, o incenso, a mirra.
A palavra dos anjos ainda soa,
mas já não racha o muro dos ouvidos
que, por nada escutar, ficaram moucos.
Por isso nosso amor é diferente:
imperfeito e aleijado – um fogo surdo
que apenas arde, queima, e não aclara
o nosso obscuro e inútil coração.

No pecado, que é nosso abismo e amparo,
está no entanto a chave, humana e esquiva,
do mundo que nos coube e o seu mistério,
- se aprendermos a amar. Aquém de mar
o pássaro no azul, importa amar
tão simplesmente o pássaro, sem céu.

Amar (sem recompensa), por exemplo,
a carne repelida porque enorme
e inerme, e azeda, e amarga, após o abraço.
E amar, sem tornar vil, nossa alma de homem
- aí, frágil, desvairada alma, tão grande
para abrigar tão mínima aventura,
com sua podridão angustiada,
que nos consome porque não sabemos
o caminho que leva à manjedoura.

Thiago de Melo