quinta-feira, 29 de março de 2012

Adélia Prado



Foto: Carmen Fanganiello

“Eu sempre sonho que uma coisa gera,
Nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera”.
Adélia Prado

quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr Fernandes - (1924-2012)



Morreu Millôr Fernandes, um dos intelectuais mais completos e eficientes dos últimos 87 anos. Millôr era jornalista, tradutor, desenhista, poeta, dramaturgo, chargista, ilustrador, pensador, e realizava tudo com excesso de qualidade.
Há uma polêmica sobre a data de nascimento de Millôr. A família não sabe ao certo se foi em 16 de agosto de 1923 ou em 27 de maio, mas a carteira de identidade do desenhista aponta como certo o dia 27 de maio de 1924. Nascido no Meier, bairro do Rio de Janeiro, Millôr deveria ter se chamado Milton Viola Fernandes. Porém, por causa de uma caligrafia duvidosa, foi registrado como Millôr – fato só descoberto por ele aos 17 anos.
Em 15 de março de 1938, deu o primeiro passo na carreira de jornalista, assumindo o ofício de repaginador, factótum e contínuo no semanário “O Cruzeiro”. No mesmo período, Millôr ganhou um concurso de contos na revista “A Cigarra” utilizando o pseudônimo Notlim. Posteriormente, ao assumir a direção da publicação, passou a assinar seus artigos, publicados na seção "Poste Escrito", como Vão Gogo.


"Enterrem meu corpo em qualquer lugar.
 Que não seja, porém, um cemitério.
De preferência, mata;
Na Gávea, na Tijuca, em Jacarepaguá.
Na tumba, em letras fundas,
Que o tempo não destrua,
Meu nome gravado claramente.
De modo que, um dia,
Um casal desgarrado
Em busca de sossego
Ou de saciedade solitária,
Me descubra entre folhas,
Detritos vegetais,
Cheiros de bichos mortos.
(Como eu).
E, como uma longa árvore desgalhada
Levantou um pouco a lage do meu túmulo
Com a raiz poderosa,
Haja a vaga impressão
De que não estou na morada.

Não sairei, prometo.
Estarei fenecendo normalmente
Em meu canteiro final.
E o casal repetirá meu nome,
Sem saber quem eu fui,
E se irá embora,
Preso à angústia infinita
Do ser e do não ser.
Ficarei entre ratos, lagartos,
Sol e chuva ocasionais,
Este sim, imortais.
Até que, um dia, de mim caia a semente
De onde há de brotar a flor
Que eu peço que se chame
Papáverum Millôr.

Millôr Fernandes
em 1/6/1962

terça-feira, 27 de março de 2012

Anunciação - Clarice Lispector


Anunciação

Tenho em casa uma pintura do italiano Savelli - depois compreendi muito bem quando soube que ele fora convidado para fazer vitrais no Vaticano.
Por mais que olhe o quadro, não me canso dele. Pelo contrário, ele me renova. Nele, Maria está sentada perto de uma janela e vê-se pelo volume de seu ventre que está grávida . O arcanjo , de pé ao seu lado, olha-a . E ela, como se mal suportasse o que lhe fora anunciado como destino seu e destino para a humanidade futura através dela, Maria aperta a garganta com a mão, em surpresa e angústia .
O anjo, que veio pela janela, é quase humano : só suas longas asas é que lembram que ele pode se transladar sem ser pelos pés. As asas são muito humanas : carnudas, e o seu rosto é o rosto de um homem.
É a mais bela e cruciante verdade do mundo.
Cada ser humano recebe a anunciação: e, grávido de alma, leva a mão à garganta em susto e angústia . Como se houvesse para cada um , em algum momento da vida, a anunciação de que há uma missão a cumprir .
A missão não é leve : cada homem é responsável pelo mundo inteiro .

Clarice Lispector

domingo, 25 de março de 2012

Marcos Siscar

Fotode Catherine Legrand

"Bem antes do bater do vento no varal
as mãos amanheciam sob as roupas
em gestos ressentidos de domingo."

 Marcos Siscar
 

sábado, 24 de março de 2012


Há dias em que é preciso motivos para encher a casa de flores.
Mas hoje não.
Primeiro eu enchi a casa de flores, e depois encontrei os motivos.
E descobri que sempre há motivos,
 esperando por uma casa cheia de flores.

Mara Senna
 

quarta-feira, 21 de março de 2012

Outonal - Mara Senna


Outonal

Chegou o tempo da ceifa.
Há frutos de todos os tamanhos;
uns melhores, outros piores,
uns mais doces, outros nem tanto...
O que vi, o que ouvi, o que falei,
O que amei, o que fiz está feito.
O que não fiz não tem mais jeito...
Resta sentar-me à sombra da minha árvore,
saborear o gosto da minha vida,
e serena, agradecer pela colheita.

Mara Senna
in Luas Novas e Antigas

segunda-feira, 19 de março de 2012

Páginas de Outono - Mara Senna


Páginas de outono

O que eu gosto no outono,
é qualquer coisa de desalinho
e desalento.
É a supremacia do vento
sobre as folhas passadas,
sobre as páginas viradas.
É um desapego,
um despedir-se,
estendendo um tapete
de folhagem,
por onde o futuro,
triunfante,
desfila sua nova
roupagem.
O outono tem, sim,
qualquer coisa
de mutante.
É um desvencilhar-se,
para seguir
adiante.

Mara Senna

poema publicado na Antologia do Premio SESC de Poesia Carlos Drummonde de Andrade
- edição 2010 -
e estará também  em meu próximo livro Ensaios da tarde

quarta-feira, 14 de março de 2012

Poesia


A poesia


A poesia é o meu ofício,
meu vício,
meu fim e meu inicio.
Meu recomeço.
Um desejo que não me larga,
um amor que eu não esqueço.
Uma dor comprida,
uma alegria vivida,
uma saudade sentida
uma palavra sufocada.
A poesia em mim
é tudo ou nada.

Mara Senna 
14 de março - Dia da Poesia

Dia Nacional da Poesia



Meu poema em homenagem ao Dia da Poesia;


Ainda bem

Eu tenho uma loucura
 que não me larga.
Eu tenho algo insano
que ainda dá graça.
Ainda bem.
É como, no meio do dia,
por puro deleite,
sentar-me na praça.
É como sair dançando
a música que ninguém mais ouve.
É como acreditar no que me faz feliz
mas que ainda não houve.
É ter a lucidez do momento vão
que escorre pela mão do dia,
pegá-lo no ar e fazer dele
poesia.

 Mara Senna

  no Livro Luas Novas e Antigas
Em breve novo livro: Ensaios da Tarde

terça-feira, 13 de março de 2012

Meu encontro com Jorge Benjor

Meu encontro inesperado com Jorge Benjor

Coisas incríveis acontecem nesta vida sem que se possa sequer imaginar...
 Fui conhecer o projeto Corujão da Poesia no Rio (que por sinal é ótimo, super animado, recomendo)
e eis que, quando chegou a minha vez de declamar, entra Jorge Benjor, padrinho do projeto, que nem sempre está por lá, e depois de dar uma canja me anunciou e dividiu o palco comigo. Ainda bem que tem foto para acreditar.
O melhor de tudo é que ele curtiu muito o meu poema e ainda levou meu livro com ele.
Salve Jorge! Salve simpatia!

 
 A canja do Jorge Benjor no Corujão da Poesia:
 
Depois vou comentar nais sobre este projeto do Corujão da Poesia

Clarice Lispector, uma aprendizagem

Estive no Rio de Janeiro fazendo o curso Clarice Lispector, uma aprendizagem - no Instituto Moreira Salles, que contou com a presença de Benjamin Moser, Vilma Âreas. Nádia Batella Gotlib e Carlos Mendes de Sousa. Aqui vão alguns momentos:
 
Com o americano Benjamin Moser, autor da biografia Clarice, (Cozac Naify, 2009), na primeira aula do curso.Moser abordou o tema: Vida depois da Vida - a vida lendária e mítica de Clarice pós-mortem.

Na Livraria Travessa do Leblon ocorreu um evento estra-curso: um animado bate-papo com Benjamin Moser, Ancelmo Gois e Carlos Mendes de Sousa.   Lá fiquei sabendo das boas notícias para os aficcionados por Clarice Lispector: vem aí um filme (em inglês, uma co-produção com o Brasil) sobre a vida de Clarice e um livro sobre a Clarice pintora, que será um catálogo com todas as suas pinturas. Alem disso, Moser está traduzindo toda a obra de Clarice para o inglês, segundo ele com a difícil tarefa de achar uma 'voz' para Clarice naquele idioma.
 
Nádia Gotlib (foto) ministrou a aula " Estratégias narrativas". Ela não poderia deixar de estar lá com toda a sua bagagem sobre Clarice.
Vilma Âreas falou sobre o livro Legião Estrangeira em "Considerações sobre um livro fraturado".

O escritor potuguês Carlos Mendes de Sousa encerrou o curso com o tema " Ler e reler Clarice".
Ao final, houve o lançamento de seu livro 'Clarice Lispector - Figuras da Escrita", editado pelo Instituto Moreira Salles - uma bela ediçao.
Uma presença especial e para lá de discreta  durante o curso foi a de Paulo, filho de Clarice.