Mostrando postagens com marcador Thiago de Mello. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Thiago de Mello. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Diário de um brasileiro - Thiago de Mello

Às vésperas de mais uma eleição, vale a pena refletir nesse poema do grande Thiago de Mello, escrito há muito tempo, mas tão atual como nunca

Diário de um brasileiro

O brasileiro convive bem com o escândalo moral.
Os ladrões infestam os salões de luxo,
os Bancos estouram, os banqueiros
são cumprimentados com reverência,
o Presidente do Congresso chama o senador
de bandido, sim senhor, vossa excelência.

O Presidente diz pela televisão
que "é preciso acabar com a roubalheira
nos dinheiros públicos".

As pessoas das cidades grandes
vivem amedrontadas, qualquer
transeunte pode ser um assaltante.

As meninas cheiram cola. Depois
vão dar o que têm de mais precioso
ao preço de um soco na cara desdentada.

O brasileiro convive com o escândalo
como se fosse o seu pão de cada dia,
com uma indiferença letal.

Como se dormir na casa com um rinoceronte,
mas rinoceronte mesmo,
fosse a coisa mais natural do mundo,
chegando a cheirar a camélias.

O povo, um dia.

Do povo vai depender
a vida que vai viver,
quando um dia merecer.
Vai doer, vai aprender.

Thiago de Mello

sexta-feira, 14 de maio de 2010

As ensinanças da dúvida - Thiago de Mello

As ensinanças da dúvida

Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.

Agora (o tempo é que o fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.

Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.

Thiago de Mello

Mais sobre Thiago de Mello em http://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como um rio - Thiago de Mello


Como um rio

Ser capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.


E de lavar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva,
e lava.


Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.


Se tempo é de descer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.

E até mesmo sumir,
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.


Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
de águas impuras
que afloram a escondida
verdade nas funduras.


Como um rio, que nasce
de outros, saber seguir,
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.

Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.


Thiago de Mello


Mais sobre Thiago de Mello em