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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Paciência

Um poema do meu segundo livro Ensaios da Tarde:
Foto: Um poema do meu livro Ensaos da Tarde:

Paciência

A laranjeira está carregada
de frutos promissores
para daqui a três ou quatro dias, acho.
Não sei bem qual é o tempo de maturação 
das laranjas.
Não sei bem qual é o tempo de nada.
O que sei
é que vou esperar
o quanto for preciso.
Quanto maior a paciência,
mais doce o caldo. 

Mara Senna

Paciência
A laranjeira está carregada
de frutos promissores

para daqui a três ou quatro dias, acho.
Não sei bem qual é o tempo de maturação
das laranjas.
Não sei bem qual é o tempo de nada.
O que sei
é que vou esperar
o quanto for preciso.
Quanto maior a paciência,
mais doce o caldo.

Mara Senna



quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

As cores da tarde

As cores da tarde

Toda tarde sabe que morre no poente.
Toda tarde tenta ser diferente.
Não guarda em si os mistérios da noite
nem a esperança da manhã.
Não é vizinha do ontem
nem precede o amanhã.
Para não ser esquecida,
vai deixando em tudo
seus fulgores,
seus vestígios de fogo,
sua fugaz incandescência,
suas tardias digitais.
Precisa ser,
antes que seja tarde demais.
É preciso desmanchar-se
até o poente
para decifrar as suas cores,
a sua doce amargura,
o seu suave martírio,
a sua apoteose
de agonia e delírio.
Toda tarde esconde,
em sua beleza,
uma ferida.
A tarde dói
em tons
de despedida.

Mara Senna, do livro Ensaios da Tarde
Foto: Luís Avelima
 
As cores da tarde
Toda tarde sabe que morre no poente.
Toda tarde tenta ser diferente.
Não guarda em si os mistérios da noite
nem a esperança da manhã.
Não é vizinha do ontem
nem precede o amanhã.
Para não ser esquecida,
vai deixando em tudo
seus fulgores,
seus vestígios de fogo,
sua fugaz incandescência,
suas tardias digitais.
Precisa ser,
antes que seja tarde demais.
É preciso desmanchar-se
até o poente
para decifrar as suas cores,
a sua doce amargura,
o seu suave martírio,
a sua apoteose
de agonia e delírio.
Toda tarde esconde,
em sua beleza,
uma ferida.
A tarde dói
em tons
de despedida.

Mara Senna,
do livro Ensaios da Tarde

domingo, 16 de setembro de 2012

Estiagem - Mara Senna


Este poema de Ensaios da Tarde foi feito no ano passado,
nesta mesma época.
 E parece que este ano está ainda pior por aqui...


Foto: Este poema de Ensaios da Tarde foi feito no ano passado, nesta mesma época. E parece que este ano está ainda pior...
 
Estiagem
 
Arde, em meus olhos
e em minha garganta,
essa secura da tarde.
Da paisagem dos canaviais,
ainda tento arrancar doçura,
mas apenas aspiro 
a sua fuligem negra
e invasiva, como a memória.
Chego a sentir na boca
o gosto dessa poeira vermelha,
de alma roxa e sequiosa.
As imagens se refletem
nos espelhos escuros
dos ribeirões sedentos.
As lembranças assentam-se,
feito pó de viagem,
e tudo me aparece
qual miragem
ou vertigem.
Fantasmas da estiagem
em que eu faço chover
estas minhas palavras úmidas,
como voz solitária que clama no deserto.
 
Mara Senna in Ensaios da Tarde, 2012

Estiagem
 
Arde, em meus olhos
e em minha garganta,
essa secura da tarde.
Da paisagem dos canaviais,
ainda tento arrancar doçura,
mas apenas aspiro
a sua fuligem negra
e invasiva, como a memória.
Chego a sentir na boca
o gosto dessa poeira vermelha,
de alma roxa e sequiosa.
As imagens se refletem
nos espelhos escuros

dos ribeirões sedentos.
As lembranças assentam-se,
feito pó de viagem,
e tudo me aparece
qual miragem
ou vertigem.
Fantasmas da estiagem
em que eu faço chover
estas minhas palavras úmidas,
como voz solitária que clama no deserto.


Mara Senna
in Ensaios da Tarde, 2012

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Graça - Mara Senna

 
Graça
 
Ao primeiro sinal de nuvem,
eu já começo a florescer neste deserto,
a vislumbrar terras grávidas,
alegrias ávidas.
A achar graça no sorriso largo
do lagarto,
nas formas bizarras que os ventos
esculpem nas pedras.
A rir da incerteza do oásis,
a me divertir com a embriaguez
da miragem.
Acho que eu começo
é a ter coragem.

Mara Senna
em ENSAIOS DA TARDE, p.88

domingo, 5 de agosto de 2012

Lançamento de Ensaios da Tarde na Bienal de São Paulo - Convite

Caros amigos, o convite agora é para o
LANÇAMENTO DE ENSAIOS DA TARDE NA
BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO.
Será na próxima sexta-feira, dia 10/08, às 17:00 no estande da UBE (União Brasileira dos Escritores) na rua O - 79 no Anhembi. Espero por vocês, amigos de Sampa, 
e por quem mais estiver por lá!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Metades - Mara Senna

Metades

Sou capaz de longas ausências,
de navegar por anos a fio,
sem mandar mensagens.
Sou capaz de longos silêncios,
de me calar por muito tempo,
sem dizer bobagens.
E então sou a sábia,
a ponderada,
a prudente,
a elevada.
Mas também
sou a mesma
que deixa encalhar o navio
nos bancos de areia,
que segue o hipnotizante
canto da sereia,
e que solta o verbo
e entrega tudo o que sente.
E aí, então, sou a tola,
a impulsiva,
a inconsequente,
a doidivanas.
Mas, somando as metades,
eu sou é humana.

Mara Senna
no livro Ensaios da Tarde