terça-feira, 30 de março de 2010


"E antes mesmo do galo cantar
Eu te neguei três vezes..."

(Francis Hime - Embarcação)

Cálice - Chico Buarque de Holanda

Cálice

Composição: Chico Buarque e Gilberto Gil

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...(2x)

Como beber
Dessa bebida amarga
Tragar a dor
Engolir a labuta
Mesmo calada a boca
Resta o peito
Silêncio na cidade
Não se escuta
De que me vale
Ser filho da santa
Melhor seria
Ser filho da outra
Outra realidade
Menos morta
Tanta mentira
Tanta força bruta...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Como é difícil
Acordar calado
Se na calada da noite
Eu me dano
Quero lançar
Um grito desumano
Que é uma maneira
De ser escutado
Esse silêncio todo
Me atordoa
Atordoado
Eu permaneço atento
Na arquibancada
Prá a qualquer momento
Ver emergir
O monstro da lagoa...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

De muito gorda
A porca já não anda
(Cálice!)
De muito usada
A faca já não corta
Como é difícil
Pai, abrir a porta
(Cálice!)
Essa palavra
Presa na garganta
Esse pileque
Homérico no mundo
De que adianta
Ter boa vontade
Mesmo calado o peito
Resta a cuca
Dos bêbados
Do centro da cidade...

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue...

Talvez o mundo
Não seja pequeno
(Cálice!)
Nem seja a vida
Um fato consumado
(Cálice!)
Quero inventar
O meu próprio pecado
(Cálice!)
Quero morrer
Do meu próprio veneno
(Pai! Cálice!)
Quero perder de vez
Tua cabeça
(Cálice!)
Minha cabeça
Perder teu juízo
(Cálice!)
Quero cheirar fumaça
De óleo diesel
(Cálice!)
Me embriagar
Até que alguém me esqueça
(Cálice!)

Veja a interpretação memorável de Chico Buarque e Milton Nascimento em 1978
Clique: http://www.youtube.com/watch?v=26g1jQG-n4Y&feature=player_embedded

domingo, 28 de março de 2010


"Não há penitência melhor do que aquela que Deus coloca em nosso caminho todos os dias."
Dom Hélder Câmara

sábado, 27 de março de 2010

Às vezes - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Às vezes

Às vezes tenho ideias felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?

Álvaro de Campos, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa

sexta-feira, 26 de março de 2010

Serão Literário com Luiz Ruffato

O escritor Luiz Ruffato foi o convidado do Serão Literário deste mês. O autor fez  a leitura de vários dos seus textos e eu, que não o conhecia, achei o seu estilo de escrita diferente, forte e muito interessante.
Nascido em Cataguases (MG), em fevereiro de 1961, filho de um pipoqueiro e de uma lavadeira. Formado em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora, já foi, nesta ordem, pipoqueiro, caixeiro de botequim, balconista de armarinho, operário têxtil, torneiro-mecânico, jornalista do Estadão, sócio de assessoria de imprensa, gerente de lanchonete, vendedor de livros autônomo e novamente jornalista. Há oito anos vive somente da literatura.
Publicou Histórias de Remorsos e Rancores (1998) e Os sobreviventes em 2000, ambos coletâneas de contos.
Ganhou os prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional com o romance Eles Eram Muitos Cavalos, de 2001. Este livro foi publicado também na Itália (Milão, Bevino Editore, 2003), na França (Paris, Métailié, 2005) e Portugal (Espinho, Quadrante, 2006).
Em 2002, publicou As máscaras singulares (poemas) e Os Ases de Cataguases, contribuição para a história dos primórdios do Modernismo (ensaio).
Em 2005, iniciou a série Inferno provisório, projetada para cinco volumes, com os livros Mamma, son tanto felice e O mundo inimigo. Destes seguiram-se Vista parcial da noite e O livro das impossibilidades. Esses romances foram premiados pela APCA como melhor ficção de 2005.
O mais recente livro desta série é´"Estive em Lisboa e lembrei-me de ti".

quinta-feira, 25 de março de 2010


Mas os momentos felizes não estão escondidos nem no passado e nem no futuro.

(À francesa - Claudio Zoli)

Veja a interpretação de Marina Lima

quarta-feira, 24 de março de 2010

Despedida - Rubem Braga



Despedida

E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.
Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


Rubem Braga
Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

Neruda


Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

Pablo Neruda
(Últimos Poemas)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Recadinho

Gostaria de informar que o meu livro 'Luas Novas e Antigas' já pode ser adquirido na Livraria da Vila, em São Paulo - SP

Só sonho - Mara Senna

Só sonho

Deixe-me sonhar.
Prometo não perturbar o sono dos mortos
nem acordar os desejos apaziguados.
Prometo não alterar a ordem das coisas.
É só sonho,
daqueles de nuvem.

Mara Senna

( Este poema  faz parte do livro Luas Novas e Antigas)

AUSÊNCIA - Vinicius de Moraes

Ausência

Vinicius de Moraes

Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

Ouça declamação:
http://www.youtube.com/watch?v=qjuEdAFqa6A&feature=player_embedded#at=72

domingo, 21 de março de 2010

Dia de outono - Rilke

Encontrei no blog do Antônio Cicero, o filósofo e escritor , este belíssimo poema de Rilke, com tradução inédita de Nelson Archer:
.
Dia de outono

Rainer Maria Rilke

Senhor, foi um verão imenso: é hora.
Estende as tuas sombras nos relógios
de sol e solta os ventos prado afora.

Instiga a sazonarem, com dois dias
a mais de sul, as frutas que, tardias,
conduzes rumo à plenitude, e apura,
no vinho denso, a última doçura.

Quem não tem lar já não terá; quem mora
sozinho há de velar e ler sozinho,
escrever longas cartas e, a caminho
de nada, há de trilhar ruas agora,
enquanto as folhas caem em torvelinho



Herbsttag

Rainer Maria Rilke

 Herr: es ist Zeit. Der Sommer war sehr groß.
Leg deinen Schatten auf die Sonnenuhren,
und auf den Fluren laß die Winde los.

Befiel den letzten Früchten voll zu sein;
gib ihnen noch zwei südlichere Tage,
dränge sie zur Vollendung hin und jage
die letzte Süße in den schweren Wein.

Wer jetzt kein Haus hat, baut sich keines mehr.
Wer jetzt allein ist, wird es lange bleiben,
wird wachen, lesen, lange Briefe schreiben
und wird in den Alleen hin und her
unruhig wandern, wenn die Blätter treiben.

Rainer Maria Rilke nasceu em Praga em 4 de dezembro de 1875. É considerado como um dos mais importantes poetas modernos da literatura e língua alemã, por sua obra inovadora e seu incomparável estilo lírico.

Vi e gostei - Ilha do medo (Shutter Island)


Ilha do medo, filme estrelado por Leonardo Di Caprio, tem tudo que um bom filme de suspense precisa ter:  roteiro e direção de qualidade (Martin Scorsese), além de contar com um elenco competente, multinacional e muito luxuoso (como Ben Kingsley, só para exemplificar).
Já na abertura, acompanhada dos acordes iniciais de uma trilha absolutamente memorável, o espectador tem a impressão que está diante de um filmão. O que pode ser comprovado logo em seguida na apresentação magistral (visual e falada) de onde vai se desenrolar a trama. É quase impossível não ser pego nestes primeiros minutos e este é o grande trunfo da história: gerar envolvimento.
Di Caprio vive um agente federal atormentado pelo passado diante de uma trama psicológica que envolve do começo ao fim, fazendo lembrar os bons filmes de mestres do gênero, do qual Martin Scorsese não faz parte, mas poderia, porque cumpriu a missão com maestria.
Ilha do Medo entra, assim, para o rol dos suspenses de qualidade.
Repleto de referências cinematográficas e históricas (visuais e auditivas), o longa faz jus ao título que ganhou no Brasil e assusta, crescendo minuto a minuto. Quem gosta de tramas complicadas (não complexas) com enigmas, anagramas, traumas, alucinações e, claro , cenas impactantes, vigorosas e, algumas, que beiram um surrealismo de tirar o chapéu, não perde por esperar.
O visual bem elaborado em todos os ambientes do filme, externos e internos, faz com que eles atuem junto com os atores e o resultado é impressionante...impactante... Vale a pena assitir a Ilha do Medo.
Fonte: Adoro Cinema

sábado, 20 de março de 2010

Outono

Hoje começa o outono, uma estação que eu, particularmente, adoro e que me inspira muito.


“Outono é uma segunda primavera onde cada folha é uma flor.”

Albert Camus.

sexta-feira, 19 de março de 2010


"E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais..."

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 18 de março de 2010

“Não faço poesia
quando quero
e sim quando ela,
poesia, quer.”

Manuel Bandeira
(19/04/1886 – 13/10/1968)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Azar Nasifi - FLIP

Foi confirmada a primeira escritora da Flip 2010: a iraniana Azar Nasifi, autora de Lendo Lolita em Teerã. Traduzido para 32 línguas, o livro, que descreve as experiências de uma mulher secular que vive e trabalha na República Islâmica do Irã, ficou por 117 semanas na lista de bestsellers do The New York Times e rendeu a Nasifi alguns prêmios – o de livro do ano de não-ficção do Booksense e o Frederic W. Ness, entre outros, além de ter sido finalista do prêmio para memórias PEN/Martha Albrand, de 2004.

Nafisi foi embora do Irã com 13 anos para estudar na Inglaterra e nos EUA. Voltou ao país natal em 1979, após a Revolução Iraniana, e lá ficou por 18 anos. Durante esse tempo, ensinou literatura na Universidade de Teerã (de onde foi expulsa em 1981 por se recusar a usar véu tendo retomado suas aulas somente em 1987), na Universidade Livre Islâmica e na Universidade Allameh Tabatai.

Atualmente, é professora visitante de ética, cultura e literatura do Foreign Policy Institute, da Universidade norte-americana de Johns Hopkins. Em seu livro mais recente, O que eu não contei, lançado este ano no Brasil, a autora investiga as ligações entre o passado de sua família e a conturbada história do Irã.

Sua atuação não se restringe ao universo literário. Nasifi tem dado muitas palestras e escrito sobre as implicações políticas da cultura e da literatura, bem como sobre os direitos humanos de mulheres e meninas iranianas e o importante papel que desempenham no processo de mudança do Irã para se tornar um país plural e aberto.
Fonte: blog da FLIP

terça-feira, 16 de março de 2010

Memória

MEMÓRIA

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 15 de março de 2010

Simplesmente divertido

Se você quer ir ao cinema para simplesmente se divertir e rir muito, assista à comédia romântica
 'SIMPLESMENTE COMPLICADO (IT´S COMPLICATED).'
Com a deliciosa interpretação de Meryl Streep(que por si só, segura qualquer filme), Alec Baldwin (hilário) e Steve Martin fazendo tipo de sério (o que não deixa de ser engraçado), este é um filme sem grande pretensões, a não ser o entretenimento. A gente sai do cinema leve e bem-humorada.
A direção é de Nancy Meyers, a mesma do ótimo 'Alguém tem que ceder', lembra?

Saudosa Amnésia

Ontem foi o dia da Poesia e eu ESQUECI! Não fiz nenhuma homenagem no blog. Por isso, me redimo  hoje com o poema Saudosa Amnésia (rs rs,rs) do grande Leminsky.

Saudosa Amnésia

a um amigo que perdeu a memória

Memória é coisa recente.
Até ontem, quem lembrava?
A coisa veio antes,
ou, antes, foi a palavra?
Ao perder a lembrança.
grande coisa não se perde.
Nuvens, são sempre brancas.
O mar? Continua verde.
 
(Paulo Leminski)

domingo, 14 de março de 2010

Ausência - Sophia de Mello Breyner

Ausência

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner
poeta portuguesa
(1919-2004)

Mais sobre Sophia de Mello Breyner em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sophia_de_Mello_Breyner

Para Sempre


"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares
Escritor português, a propósito da perda de sua mãe, a escritora e poetisa Sophia de Mello-Breyner

sábado, 13 de março de 2010

Mulheres fortes da nossa literatura - Adélia Prado

Durante toda a semana do Dia Internacional da Mulher procurei homenagear algumas das nossas escritoras; mulheres fortes, batalhadoras, guerreiras. Claro que ficaram faltando muitas outras, maravilhosas, e peço perdão a cada uma delas. Mas, hoje, para concluir, quero homenagear a escritora Adélia Prado e através deste poema dela, todas nós mulheres, seres desdobráveis, que ainda carregamos bandeiras pesadas, na esperança de que num futuro bem próximo, não seja preciso exisitir um dia em  homenagem à mulher mas que ela seja valorizada todos os dias.
Com licença poética

Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade da alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Mulheres fortes da nossa literatura - Cecília Meireles


" Aprendi com as primaveras a  me deixar cortar. E a voltar sempre inteira"

Cecília Meireles

Opostos - Mara Senna


Opostos

Ah! Vá entender essas mulheres...
Os homens dormem e roncam
satisfeitos.
As mulheres, insones,
analisam seus defeitos.

Mara Senna
( poema do livro Luas Novas e Antigas)

terça-feira, 9 de março de 2010

Mulheres fortes da nossa literatura- Cora Coralina


"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores."

Cora Coralina

Felicidade - Abgar Renault

Dê dois cliquea para ampliar

Felicidade


Felicidade - o título tão comprido deste poema tão pequeno!
Felicidade - substantivo comum, feminino, singular, polissilábico.
Tão polissilábico. Tão singular. Tão feminino. E tão pouco comum.
Substantivo complicado, metafísico
que cabe todo
na beleza clara de alguém que eu sei
e no sorriso sem dentes de meu filho.

Abgar Renault

Abgar de Castro Araújo Renault (Barbacena, 15 de abril de 1901 — Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1995) foi um professor, educador, político, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro. Ocupou a cadeira número 12 da Academia Brasileira de Letras e a cadeira número 3 da Academia Brasileira de Filologia.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres fortes da nossa literatura - Clarice Lispector


"E se me achar esquisita,
respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar".

Clarice Lispector

Poema para todas as mulheres - Vinicius de Moraes

Quem melhor que o poetinha para nos homenagear?

Poema para todas as mulheres

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza, não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pelos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha, quero o colo de Nossa Senhora!

Vinicius de Moraes
(1913-1980)

Mais sobre Vinicius de Moraes em

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Cor de rosa choque

Nas duas faces de Eva
A bela e a fera
Um certo sorriso de quem nada quer
Sexo frágil, não foge à luta
E nem só de cama vive a mulher

Por isso não provoque
É cor de rosa-choque

Mulher é bicho esquisito
Todo mês sangra
Um sexto sentido maior que a razão
Gata borralheira, você é princesa
Dondoca é uma espécie em extinção

Por isso não provoque
É cor de rosa-choque

 Rita Lee/ Roberto de Carvalho 

Veja Rita Lee cantando essa musica em 1983

domingo, 7 de março de 2010

O domingo segundo Mário Quintana

Elegia Urbana

Rádios. Tevês.
Gooooooooooooooooooooooooooolo!
(O domingo é um cachorro escondido debaixo da cama.)

Mário Quintana

Nota: tinha colocado só uma frase e ficou meio fora de contexto, por isso editei e coloquei o texto inteiro.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Amavisse - Hilda Hilst

Amavisse*

Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.
Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

Hilda Hilst

*Nota: no Latim: o verbo a.ma.vis.se significa
ter amado; infinitivo perfeito ativo do verbo ămō, -āre, -āvi, -ātum

quinta-feira, 4 de março de 2010

Esquinas - Djavan

Esquinas

Djavan

Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar?
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei
Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar?
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Na correnteza do amor que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga de leve e trás
Toda a paz que um dia o desejo levou
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei
Só eu sei
E quem será
Na correnteza do amor...

terça-feira, 2 de março de 2010

Depois da chuva - Mara Senna

Aproveitando este tempo em que não para de chover, aí vai um dos meus poemas sobre chuva:



Depois da chuva

Eu gosto de chuva.
Chuva é choro que lava a alma da natureza.
Mas eu gosto mais ainda do depois da chuva.
É como o alívio do depois de chorar.

Mara Senna
Este poema faz parte do livro Luas Novas e Antigas

segunda-feira, 1 de março de 2010

" A gente passa e os livros ficam..." - José Mindlin

Aos 95 anos, morreu ontem, José Mindlin, um dos mais importantes bibliófilos brasileiros. O empresário que ergueu a maior biblioteca privada do país estava internado desde janeiro deste ano. Seu acervo de 38 mil obras, que inclui preciosidades como a primeira edição ilustrada do poeta italiano Franceso Petrarca, de 1488, e as primeiras versões anotadas de Graciliano Ramos e Guimarães Rosa, começou a ser constituído em 1927. Uma parte desse acervo – 17 mil títulos, ou 40 mil volumes – será abrigado na biblioteca Brasiliana, projeto acadêmico da Universidade de São Paulo (USP) que reunirá a maior coleção de livros e documentos sobre o Brasil, em um edifício de 20 mil metros quadrados na Cidade Universitária. Clique para ver uma bonita homenagem aqui:
http://www.brasiliana.usp.br/

10a.FEIRA NACIONAL DO LIVRO DE RIBEIRÃO PRETO


A 10a. edição  da
FEIRA NACIONAL DO LIVRO DE RIBEIRÃO PRETO
vai acontecer nos dias 10 a 20 de junho de 2010.
Os homenageados desta edição são:
País: Espanha
Estado: Acre
Autor: Gilberto Freyre
Autora local: Nádia Gotlib
Autor infanto-juvenil: Ziraldo
A patronesse e´ Marylene Baracchini
Mais uma vez, teremos um grande encontro de ideias.

Águas de março


"São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração."

Tom Jobim

Assista Tom e Elis cantando Águas de Março