domingo, 27 de fevereiro de 2011

Adeus a Moacyr Scliar


Perdemos hoje um dos nossos mais queridos  e  melhores escritores: Moacyr Scliar, com quem tivemos o privilégio de conviver alegremente durante várias edições da Feira do Livro de Ribeirão Preto. Ele adorava vir aqui e brincava que ia se mudar para Ribeirão.
Transcrevo aqui o lindo texto de Lucia Bettencourt em seu blog Nadanonada, sobre Scliar, porque eu não saberia fazê-lo melhor.

"Hoje perdemos uma pessoa admirável, o nosso querido Moacyr Scliar. Gostava de ficar escutando suas histórias, pois ele era um exímio "contador". Ele, modesto, dizia que tinha aprendido isso com o pai. E até contava alguns casos do pai. Mas o que ele contava mesmo bem eram histórias da mãe: sabe como é, mãe judia, em seus extremos amorosos, parece mesmo obra de ficção. E a gente ria, escutando ele contar coisas que deviam remexer o mar de saudades que ele carregava dentro de si. Outras histórias eram sobre o filho, o único filho, que não gosta de ler (segundo ele contava, talvez para fazer graça) e as estratégias que ele inventava para obrigar o filho a ler. Só que eu ficava pensando que, se o Moacyr Scliar fosse meu pai, eu provavelmente não gostaria de ler também, pois quem não quer ficar escutando alguém nos contar histórias e nos divertindo em conjunto ao invés de ir para seu quarto e ler sozinho? Quem tem uma pessoa que conta histórias em sua casa, e conta bem histórias, só passa a ler quando o repertório do contador se esgota. O problema é que, com sua criatividade, as histórias de Scliar iam se multiplicando, sempre novas, sempre saborosas. Compreendo seu filho, e sei que agora ele há de procurar nos livros os ecos de sua voz, e encontrará consolo na leitura.
Vai em paz, Scliar, e que não te faltem histórias para contar e escutar pela eternidade. Nós sentiremos sua falta, mas honraremos sua memória e sua generosidade com nossas lembranças."...
Lucia Bettencourt, escritora.
http://nadanonada.blogspot.com/

sábado, 26 de fevereiro de 2011

15 anos sem Caio Fernando de Abreu

"Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu."

Caio Fernando Abreu
(Ontem, 25/01, completaram-se quinze anos que ele partiu para o andar de cima.
Ainda bem que nos deixou seus textos maravilhosos...)

Aniversário do Blog - 02 anos!

Mais um aniversário do blog - 02 anos!
Obrigada a você por estar perto: lendo, comentando, curtindo, seguindo, acreditando - porque a literatura é algo que não se constrói sozinho.
E as coisas boas da vida foram feitas para serem compartilhadas.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sophia de Mello Breyner Andresen



Ó dia de hoje, ó dia de horas claras
Florindo nas ondas, cantando nas florestas,
No teu ar brilham transparentes festas
E o fantasma das maravilhas raras
Visita, uma por uma, as tuas horas
Em que há por vezes súbitas demoras
Plenas como as pausas dum vento.

Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e de serem breves.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Adélia Prado


''Olha, antigamente, quando chovia encarreirado igual tá chovendo agora, eu gostava de pedir à mãe pra fazer mingau de fubá. A gente bebia e se enfiava debaixo das colchas pra escutar chuva e ser feliz.''

Adélia Prado

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Prêmio Sesc de Poesia, de novo!!

Menos de dois meses após receber a belíssima antologia da edição 2009, recebo a grata notícia de que fui novamente selecionada para a edição 2010 do Prêmio Sesc de Poesia Carlos Drummond de Andrade, desta vez com o poema 'Páginas de Outono'.
Bom demais!
Como diz Adélia Prado: ‎"A vida é mais tempo alegre do que triste, melhor é ser."
Veja a lista dos 36 selecionados de todo o Brasil:
http://www.sescdf.com.br/site/arquivos/downloads/carlos-drummond-de-andrade-091936.pdf

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O discurso do Rei


Acabo de assitir ' O Discurso do Rei'  e gostei muito.
Independente da discussão que corre por aí, se merece ou não a indicação aos doze Oscars, posso dizer que sai satisfeita do cinema. A atuação perfeita não só de Colin Firth que interpreta o rei gago George VI,  assim como  de todo o elenco, o  roteiro envolvente e a direção primorosa. Eu recomendo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Crença - Mara Senna

Crença

Eu não acredito em carma;
acredito em calma
Eu não acredito em arma;
acredito em alma.
Eu não gosto do dito pelo não dito;
gosto do que é bendito.
O que é maldito aprendi a expurgar.
Eu simplesmente acredito
no que é bonito.
Vou em paz pelo meu caminho
sem querer atrapalhar ninguém.
A vida vai me ensinando
e eu sigo dizendo amém!

Mara Senna

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cabelo arrumadinho - Mara Senna

Cabelo arrumadinho

Eu não gosto de cabelo arrumadinho.
Cabelo tem que ter um quê de ventania,
de vida própria,
um fio fora do lugar.
Cabelo fica em cima da cabeça
e das ideias,
e as ideias nunca estão todas no lugar...

Mara Senna
em Luas Novas e Antigas

Convite lançamento oficial da 11a. Feira do Livro de Ribeirão Preto

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Desapego - Cecília Meireles

Desapego

A vida vai depressa e devagar.
Mas a todo momento
penso que posso acabar.

Porque o bem da vida seria ter
mesmo no sofrimento
gosto de prazer.

Já não tenho vontade de falar
senão com árvores, vento,
estrelas, e águas do mar.

E isso pela certeza de saber
que nem ouvem meu lamento
nem me podem responder.

Cecília Meireles

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Guimarães Rosa

"O sertão é dentro da gente.
E esse sertão não é feito apenas de aridez e provocação,
mas também de veredas,
de estações de alívio e beleza em meio à solidão."

Guimarães Rosa

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Friedrich Nietzsche


"Depois que cansei de procurar aprendi a encontrar.
Depois que um vento me opôs resistência,
velejo com todos os ventos."

Friedrich Nietzsche

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Murilo Mendes


Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

Murilo Mendes
em Pré- História

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Estrela

Estrela

Há de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê sorrir
Há de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê chorar

O contrário também
Bem que pode acontecer
De uma estrela brilhar
Quando a lágrima cair

Ou então
De uma estrela cadente se jogar
Só pra ver
A flor do seu sorriso se abrir

Hum!
Deus fará
Absurdos
Contanto que a vida
Seja assim
Sim
Um altar
Onde a gente celebre
Tudo o que Ele consentir

Gilberto Gil

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pressa - Mara Senna

Pressa

Um dia, a pressa me fez perder a poesia
e, de um salto, fiquei vazia.
Mas
eu sou muito mais do que eu faço;
eu sou mais do que eu ganho.
Eu me lembrei, agora há pouco
de que ainda sonho.
Eu devo ter ainda guardado
o brilho nos olhos
de um beijo roubado.

Mara Senna
 do livro Luas Novas e Antigas