domingo, 27 de novembro de 2011

Mia Couto

foto: Carmen Fanganiello

"Se chorasse agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos."

Mia Couto

Escritores - A hora da união - A.P. Quartim de Moraes

Texto excelente sobre a situação do escritor brasileiro por A.P. Quartim de Moraes em O Estadão
lhttp://www.estadao.com.br/noticias/geral,escritores-a-hora-da-uniao,803269,0.htm

Os cerca de 400 escritores de todo o País que participaram do Congresso Brasileiro de Escritores promovido em Ribeirão Preto, de 12 a 15 de novembro, pela União Brasileira de Escritores (UBE), certamente regressaram para casa felizes com o clima de camaradagem que reinou nos quatro dias do evento e animados com os debates que dominaram as dezenas de palestras, oficinas e mesas-redondas realizadas ao longo da variada programação. Foi um primeiro passo de inegável importância no projeto da UBE de resgatar as melhores tradições de combatividade dos escritores brasileiros na defesa de seus interesses e na luta cada vez mais árdua por espaço para a literatura brasileira no mercado editorial.
Considerado de uma perspectiva mais ampla e distanciada, porém, o congresso de Ribeirão Preto revela dramaticamente a enorme distância que ainda precisa ser percorrida para que a UBE chegue perto da meta colocada por sua atual diretoria: tornar-se a entidade efetivamente representativa dos escritores brasileiros, com a força e o prestígio políticos indispensáveis para enfrentar os enormes desafios que tem pela frente. O encontro deixa um saldo de três pontos negativos importantes: foi ignorado, com poucas e honrosas exceções, pelos escritores de maior renome e prestígio no panorama literário brasileiro; foi solenemente ignorado também, e aí sem exceções, pelos grandes veículos de comunicação; e, dentro da mesma lógica, minguaram os patrocinadores.
Estiveram em Ribeirão Preto e participaram ativamente da programação cerca de 20 escritores de reconhecida expressão nacional, além dos presidentes da Academia Paulista de Letras (APL), da Câmara Brasileira do Livro (CBL), do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu), mais o titular da Diretoria do Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC). Não é pouco. Mas está longe de ter sido suficiente para compensar o enorme esforço que um grupo de abnegados diretores da UBE despendeu durante mais de um ano para realizar, 29 anos depois do segundo, o terceiro congresso nacional da categoria.
Não se pode dizer que esse resultado tenha sido surpreendente. Para compreendê-lo, creio, é necessário entender, antes de mais nada, que a UBE tem vivido, ao longo de muitos anos, uma certa crise de identidade, que, aliás, já foi diagnosticada por muitos de seus atuais dirigentes. Sem desmerecer o trabalho de diretorias anteriores, comandadas por personalidades ilustres e dedicadas do meio literário, até agora a UBE jamais conseguiu assumir de fato o papel político que lhe cabe. Às vezes ela parece não se ter dado conta de que para reunir escritores no chá das 5 já existem a Academia Brasileira de Letras (ABL) e suas congêneres regionais.
O mundo do livro está repleto de entidades representativas, dentre as quais despontam a CBL, o Snel, a Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros) e a Associação Nacional de Livrarias (ANL), além de muitas entidades regionais, num universo de quase uma centena de siglas. Todas empenhadas em representar e defender os interesses do negócio do livro. E esses interesses, na atual conjuntura, em que a razão de mercado predomina sobre a valorização dos conteúdos, quase nunca coincidem com os dos escritores, pelo menos daqueles que veem no ofício de escrever livros a expressão de uma arte, e não apenas um meio de fazer dinheiro.
Uma evidência dessa discrepância é que hoje o mercado editorial brasileiro abre muito pouco espaço para a literatura brasileira - e investe nela menos ainda. Quem duvidar que tente encontrar, nas listas de livros mais vendidos, obras de ficção de autores brasileiros que não sejam celebridades midiáticas, ídolos musicais ou fenômenos internéticos. Assim mesmo, esses aparecem muito excepcionalmente. Os best-sellers de ficção são, quase invariavelmente, obras estrangeiras, nas quais as editoras comerciais investem centenas de milhares de dólares de adiantamento de direitos autorais, mais outro tanto em grandes tiragens e em promoção midiática e comercial.
Só uma união brasileira de escritores politicamente forte e influente, capaz de atuar com eficiência junto aos poderes públicos e ao próprio negócio editorial, terá condições de representar com eficácia os verdadeiros interesses dos escritores - e me refiro, em particular, aos autores de literatura ficcional e ensaística. Mas para isso é necessário que os próprios escritores, inclusive e principalmente aqueles que de alguma maneira já conquistaram o seu espaço, se disponham a pôr seu próprio prestígio a serviço da literatura brasileira, não apenas como artistas, mas como cidadãos. A escrita é um exercício solitário, "mas o escritor não precisa estar isolado", como apela a UBE no site do congresso de Ribeirão Preto. Mais do que não precisar, não deve.
Mas o fato é que muitos escritores prestigiosos e laureados, beneficiários de alguma intimidade com os contatos na mídia, requisitados pelo circuito dos eventos literários que lhes dão visibilidade, preferem se isolar na zona de conforto representada pelo privilégio de participar desse círculo restrito e tendem a ignorar a realidade perversa que os cerca: todos, sem exceção, vendem muito poucos livros (por isso jamais entram nas listas de best-sellers). E é assim porque é como o big business editorial quer que seja. Para atenuar isso - mudar é improvável - os escritores precisam agir politicamente.
Apesar das enormes dificuldades, a UBE pretende transformar o congresso de escritores em evento bianual. Dificilmente terá êxito se continuar sendo ignorada pela mídia, pelos patrocinadores e, principalmente, pelos próprios escritores.

JORNALISTA E EDITOR
E-MAIL: APQUARTIM@DUALTEC.COM.BR

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Nuno Júdice


Um outro Poema de Amor

No fundo, as relações entre mim e ti
cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite.

Nuno Júdice,
in "O Movimento do Mundo"

sábado, 19 de novembro de 2011

Sophia de Melo Breyner Andresen

foto: Carmen Fanganiello

"...Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas."

Sophia de Melo Breyner Andresen

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Congresso da UBE foi realizado em Ribeirão Preto

Estou reproduzindo aqui o artigo de Régis Martins para o Jornal A CIDADE, versão on line, que copiei do blog da amiga Regina Baptista
Congresso de escritores termina nesta terça-feira (15/11) em Ribeirão
Palestras de Frei Betto e Affonso Romano de Sant’Anna tiveram público recorde na tarde desta segunda-feira
Público acompanha a palestra de Affonso Romano de Sant’Anna, no Congresso da UBE
Ao contrário da Fliporto (Feira Literária de Olinda), em que polêmicas políticas conseguiram desviar o foco da literatura, o 3º Congresso da União Brasileira dos Escritores, que termina nesta terça-feira (15) em Ribeirão Preto, correu na mais perfeita harmonia.
E o balanço parcial parece ser de otimismo quanto ao futuro do livro e da profissão de escritor no Brasil. Pelo menos é o que garante o escritor Menalton Braff, diretor de Integração Nacional da UBE. "Raramente Ribeirão Preto assistiu a discussões com esse nível como agora. Algo que foi muito além de nossas expectativas", diz.
Menalton não tem ainda o número de participantes do evento, mas afirma que todas as atividades que ocorreram nestes quatro dias tiveram um público muito bom.
Em palestras de ‘estrelas’ como Frei Betto e o poeta Affonso Romano de Sant’Anna, ambas realizadas nesta segunda-feira (14), muitas pessoas ficaram de fora, tamanha a procura. "Affonso fez uma palestra sensacional, Falou sobre a leitura no mundo. Os vários tipos de analfabetismo e os vários tipos de leitores. Foi muito aplaudido", ressalta Menalton.
Para ele, a participação maciça de escritores de todo o país inscritos nas várias atividades do congresso comprova o interesse das pessoas em se atualizar e discutir temas oportunos sobre o ato de escrever. "A tônica do Congresso é acabar com o isolamento do escritor", afirma.
Núcleos
Não por acaso, Menalton coordenou nesta segunda-feira uma conferência que tratava da descentralização das atividades da UBE. Atualmente, explica o escritor, os núcleos da entidade espalhados por todo o país desenvolvem atividades literárias que podem ser divulgadas pela internet por meio de blogs. "Isso tem motivado para que os escritores sejam sujeitos culturais em suas cidades. Com isso, queremos que os acontecimentos de qualquer região tenha repercussão nacional", diz. Essa rede interligada vai de encontro com o tema do 3º Congresso: "A escrita é um ato isolado. Mas o escritor não precisa estar isolado".
Nesta terça-feira vai ser divulgada uma espécie de "Carta de Ribeirão Preto", que vai apontar os temas mais discutidos no evento e as reivindicações mais relevantes. "O congresso trouxe para Ribeirão, tudo o que ocorre no país em termos de literatura. Isso foi muito importante para a cidade", comenta.
Escritores de renome se reuniram na Uniseb/Coc desde o último sábado para debater temas como direito autoral, o relacionamento entre autores e editoras e o papel do governo no fomento da cultura. Entre os escritores presentes, além de Affonso Romano e Frei Betto, nomes como Betty Milan, Pedro Bandeira, Gabriel Chalita, Deonísio da Silva, Mouzar Benedito e Fernado Morais.
O último encontro foi realizado em São Paulo, em 1985. O professor Antonio Candido é o único remanescente dos dois primeiros eventos - o primeiro foi em 1945. "Eu participei do evento de 1985 e posso te dizer que o entusiasmo hoje é bem maior", garante Menalton.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Previsão do tempo

Previsão do Tempo

Previsão do tempo para hoje:
dia bom para aproximações e aconchegos
dia bom para acalentar saudades
dia propício para deitar no colo da chuva
e sonhar...
 Deixo aqui os versos de Ana Cristina César
para quem quiser levar:
"Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar."

Mara Senna

sábado, 12 de novembro de 2011

Mara Senna


Noite de
chuva
colcha
achonchego
cochilo.
A rua chama,
mas tão boa a cama!

Mara Senna

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Hilda Hilst


Não me procures ali
Onde os vivos visitam
Os chamados mortos.
Procura-me
Dentro das grandes águas
Nas praças
Num fogo coração
Entre cavalos, cães,
Nos arrozais, no arroio
Ou junto aos pássaros
Ou espelhada
Num outro alguém,
Subindo um duro caminho
Pedra, semente, sal
Passos da vida. Procura-me ali.
Viva.

 Hilda Hilst