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terça-feira, 3 de abril de 2012

Quaresmeiras - Flora Figueiredo

 
Quaresmeiras
As Quaresmeiras têm um trato com Deus:
surgem após o carnaval,
um
momento antes da Paixão,
prevendo mudança de comportamento.
Sem muita convicção,
cobrem-se de paramentos;
variam entre o roxo e o rosa
numa inconstância entre o casto e o pagão.
Nem sempre cristãs, nem sempre melindrosas,
procuram ser pontuais.
Serviçais redondas e floradas,
polvilham de pétalas e rotina das calçadas
a mesmice preguiçosa dos pardais.
 
Flora Figueiredo 
in Estações, 2010, p. 23

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Enguiço - Flora Figueiredo

Enguiço

Eis um amor que bate à porta
em hora imprópria.
Ousado, liga a lâmpada frouxa,
joga a trouxa de roupa ainda manchada
do sangue das costas lanhadas.
Impõe cadeado no portão,
como se não fosse sair mais,
caminha decidido sobre minha paz.
Esse temido amor de hora errada
já vem assobiando pelo corredor.
O trinco da porta é fraco
e não sustenta;
a oração é rala e pouco agüenta,
o medo é pequeno e permissivo.
A tal amor que chega inoportuno,
eu me condeno.
E porque me condeno é que me sinto vivo.

Flora Figueiredo

sábado, 11 de setembro de 2010

Flora Figueiredo

Fragílimo

Está faltando só um pedacinho de noite
pra me fazer chorar.
Quando ela entrar
com seu passo manso e mudo,
libero a lágrima, reconsidero tudo.
Vou te buscar.

Flora Figueiredo

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Flora Figueiredo na Bienal do Livro de SP

Flora Figueiredo estará autografando na Bienal do Livro em São Paulo, sábado, dia 14, das 14hs às 16hs no espaço da Editora Novo Século.
Além do seu último livro “ Limão Rosa”, os títulos anteriores serão relançados.
Deixo aqui um poema de Limão Rosa, só para sentirem o gostinho:

Desembarque

Pausa para enlouquecer.
Quero descer para rasgar o tempo,
emperrar a máquina,
desatar a corda. 
 Sei que a roda não pode parar,
mas fico de fora por um momento.
 Arranco as vestes e abraço o vento.

Flora Figueiredo

terça-feira, 20 de julho de 2010

Amigo querido - Flora Figueiredo


Amigo Querido

Por onde andamos
nós que raramente nos falamos?
Engolidos pela pressa
ou pela saga do compromisso?
O'Deus que maratona é essa?
Deixo um recado de saudade
para você pensar.
Por mais que a vida corra e o mundo agite,
por favor, acredite:
o nosso coração não muda de lugar.

O tempo e a distância
costumam nos arrastar.
É como se folhas de outono
se separassem pelo sopro de algum vento.
Mas nosso coração não muda de lugar.

Conservo a mão estendida,
o peito aberto,
o ombro compreensivo,
o pensamento alerta.
A qualquer hora você pode me chamar.
O meu carinho permanece vivo.
É que o nosso coração não muda de lugar. 
 
Flora Figueiredo

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Atitude - Flora Figueiredo


Atitude

Esse seu silêncio
soa como um grito,
abafado em panos.
Só faz denunciar os danos que causei.
Desculpe o mau-jeito,
mas comporto, em minha quota de defeitos,
não levar junto os enganos que eu amei.

(Flora Figueiredo)

Mais sobre Flora Figueiredo em http://pt.wikipedia.org/wiki/Flora_figueiredo

terça-feira, 29 de setembro de 2009

FLORA FIGUEIREDO

 A primavera em Ribeirão chegou juntinho com a poesia. O Serão Literário deste mês de setembro, realizado dia 24/9 no Templo da Cidadania, trouxe uma convidada muito especial: Flora Figueiredo. Poeta, cronista e tradutora paulista, ela é autora de Florescência (1987), Calça de verão (1989) e Amor a céu aberto (1992), Estações(1995) e Chão de Vento (2006)
"Rima, ritmo e bom humor são características da sua poesia.
Flora deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida".
Foi uma noite muito agradável em que Flora declamou vários de seus poemas. Tentei selecionar só um para colocar aqui no blog, mas são tantos os que eu gosto, que não consegui; por isso aí vão logo três:


 Expectativa


O vento anda ficando mentiroso.
Prometeu trazer você - não trouxe.
Ficou de dizer o porquê, não disse.
Esperou que eu me distraísse,
passou depressa, rumo ao horizonte.
Já não tem importância
que cometa outra vez,
um ato de inconstância.
Aprendi a esperar.
Se ventos são capazes de levar embora,
a qualquer hora,
também,são capazes de fazer voltar.
(Flora Figueiredo)



Lembrete


Não deixe portas entreabertas.
 Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.




Grafite

Não seremos marido e mulher,
nem mesmo amantes.
Que tal apenas namorados intermitentes,
docemente nos amando, intinerantes?
Trocaremos afagos, quando o dia adormecer,
na encruzilhada;
deixarei em você meus cheiros de mulher.
Lançaremos olhares disfarçados,
que certamente passarão despercebidos,
pois namorados são de Deus os protegidos.
Quando nossas mãos roçarem-se furtivas,
vão insinuar desejos abafados,
pelas regras da vida censurados,
mas que sãos flores no canteiro, sempre - vivas.
Ao nos encontrarmos pela tarde rua acima,
lá onde a mangueira domina a rotatória,
assinarei um verso sublimado
a grafitar nossa parede divisória.
(Flora Figueiredo)