Bem-vindo(a) ao meu blog! Sou Mara Senna. A poesia é o meu ofício, minha virtude e o meu vício, meu fim e meu início.Meu recomeço. Um desejo que não me larga, um amor que eu não esqueço. Uma dor comprida, uma alegria vivida, uma saudade sentida, uma palavra sufocada. A poesia em mim é tudo ou nada.
sábado, 27 de agosto de 2011
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Gabriel Garcia Márquez
"Mas ao contrário daquela vez não sentiu agora a comoção do amor e sim o abismo do desencanto.
Num instante teve a revelação completa da magnitude do próprio engano, e perguntou a si mesma, aterrada, como tinha podido incubar durante tanto tempo e com tanta ferocidade, semelhante quimera no coração."
Num instante teve a revelação completa da magnitude do próprio engano, e perguntou a si mesma, aterrada, como tinha podido incubar durante tanto tempo e com tanta ferocidade, semelhante quimera no coração."
Gabriel García Márquez
em O Amor nos tempos do Cólera
sábado, 20 de agosto de 2011
O vestido branco - Clarice Lispector
O Vestido Branco
Acordei de madrugada desejando ter um vestido branco. E seria de gaze. Era um desejo intenso e lúcido. Acho que era a minha inocência que nunca parou. Alguns, bem sei, já me disseram, me acham perigosa.
Mas também sou inocente. A vontade de me vestir de branco foi o que sempre me salvou.
Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza. E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si. A pureza de que falo é límpida: até as coisas ruins a gente aceita. E têm um gosto de vestido branco de gaze. Talvez eu nunca venha a tê-lo, mas é como se tivesse, de tal modo se aprende a viver com o que tanto falta. Também quero um vestido preto porque me deixa mais clara e faz minha pureza sobressair. É mesmo pureza? O que é primitivo é pureza. O que é espontâneo é pureza. O que é ruim é pureza? Não sei, sei que às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
Acordei de madrugada com tanta intensidade por um vestido branco de gaze, que abri meu guarda-roupa. Tinha um branco, de pano grosso e decote arredondado. Grossura é pureza? Uma coisa sei: amor, por mais violento, é.
E eis que de repente agora mesmo vi que não sou pura.
Clarice Lispector
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Ternura - Vinicius de Moraes
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.
Vinicius de Moraes
sábado, 13 de agosto de 2011
De Repente - Mara Senna
De repente
Ninguém surge assim de repente...
Há que se tirar muitas camadas
antes de chegar ao âmago.
E lapidar muito mais para atingir
a intensidade,
a quintessência,
a plenitude de quem vive
com excelência.
O pior é morrer sem surgir,
nascer e não se descobrir.
Viver com casca, máscara,
passar a vida inteira atrás do personagem.
E só se dar conta na hora derradeira.
E só neste momento compreender
que o dissimular
custou a graça de uma vida inteira.
É...
Ninguém surge assim de repente.
mas é de repente que se vai!
Mara Senna
in Ensaios da Tarde ( a publicar)
Ninguém surge assim de repente...
Há que se tirar muitas camadas
antes de chegar ao âmago.
E lapidar muito mais para atingir
a intensidade,
a quintessência,
a plenitude de quem vive
com excelência.
O pior é morrer sem surgir,
nascer e não se descobrir.
Viver com casca, máscara,
passar a vida inteira atrás do personagem.
E só se dar conta na hora derradeira.
E só neste momento compreender
que o dissimular
custou a graça de uma vida inteira.
É...
Ninguém surge assim de repente.
mas é de repente que se vai!
Mara Senna
in Ensaios da Tarde ( a publicar)
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Canção - Emílio Moura
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.
Emílio Moura
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.
Emílio Moura
domingo, 7 de agosto de 2011
Páginas de Outono - Prêmio Sesc de Poesia
Acaba de ser lançada a edição 2010 do Prêmio SESC de Poesia Carlos Drummond de Andrade. Dela faz parte este meu poema 'Páginas de Outono', que foi um dos classificados dessa edição.
Páginas de outono
O que eu gosto no outono,
é qualquer coisa de desalinho
e desalento.
É a supremacia do vento
sobre as folhas passadas,
sobre as páginas viradas.
É um desapego,
um despedir-se,
estendendo um tapete
de folhagem,
por onde o futuro,
triunfante,
desfila sua nova
roupagem.
O outono tem, sim,
qualquer coisa
de mutante.
É um desvencilhar-se,
para seguir
adiante.
Mara Senna
terça-feira, 2 de agosto de 2011
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