terça-feira, 22 de setembro de 2015

A hora

 
Foto de Poeta Mara Senna.
A hora

Qual será o limiar da dor
de quem espera a própria morte?
Partir de repente

será susto ou sorte?
Se só um é o que sabe a hora
porque sentimos que demora?
Da vida sabemos muito pouco,
da morte sabemos nada.
Somos meros viajantes de uma estrada
que só conhecemos olhando para trás
 
Mara Senna
 
 

Qualquer flor

 
 
Qualquer flor
 
Já é primavera, quero ser feliz e algo dentro de mim não floresce e incomoda feito espinho. Ainda tenho nas retinas a imagem do menino morto na praia, botão de flor ainda. Há meninos e meninas que não florescem lá e aqui, bem perto, e a gente nem vê. Se matam todo dia a flor da inocência, o que irá resistir?
É proibido ser triste na primavera. Eu não quero ser triste na primavera, mas a lucidez insiste e a sua flor já nasce murcha.
Peço perdão pelos erros dos ho
mens: a primavera não tem culpa.
As flores são incorruptíveis. Há homens e mulheres que pisam, matam, passam rasteiras. As fores não têm culpa. Enfeitam a vida e a morte. Nem podem escolher.
Meninos, meninas, homens, mulheres, acordem do seu sono!
É primavera aqui no hemisfério sul! Rezem para que brote uma flor na dureza dos corações: a "flor da náusea", a "bruta flor do querer", qualquer flor. Mas que brote como uma esperança vicejante. É preciso fazer jus à primavera.
 
Mara Senna
 

sábado, 5 de setembro de 2015

Sob medida

 
Foto de Poeta Mara Senna.
 
Sob medida
 
Qualquer dor
é dor suficiente.
Só sabe quem a sente...

e não quem a imagina.
Sentir junto é dor partilhada
ou somada,
não sei bem ainda.
Dor é roupa feita no corpo
de quem a veste,
sob medida.
 
Mara Senna