domingo, 29 de novembro de 2009

Teia - Mara Senna


Teia

Mara Senna

Enquanto te espero, vou tecendo poemas,
com este fio prata que o luar me entrega.
Se o luar não sai, me desespero;
falta-me o fio.
Teço a minha teia, e a presa sou eu;
nela me enredo.
Continuo tecendo porque,
nesta sina de aranha,
só sei tecer...
Enquanto te espero, vou tecendo poemas.
De tanto te esperar, teci um livro.


Continuando a contar sobre o lançamento na Livraria da Vila, a leitura deste poema foi feita pela talentosíssima atriz Georgette Fadel (foto) que, merecidamente, já recebeu o  Prêmio Shell.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amor Desbotado



Amor desbotado

Mara Senna

O meu amor, hoje,
é só uma figura desbotada pelo tempo,
ultrapassada pelos anos
que minha janela viu passar.
Mas o pedaço de alma que me foi tirado,
este lateja como dor-fantasma.
E a falta, a fome, a fadiga de tudo
são a minha triste figura;
não a que se olha,
mas a que não se vê.
Somente quem prestar muita atenção
na minha janela,
talvez suspeite,
talvez suspire,
talvez até sussurre uma prece,
por compaixão de um amor igual.
Mas, hoje em dia, quem
ainda presta atenção em janelas?


Este poema, faz parte do meu livro Luas Novas e Antigas e foi interpretado lindamente durante o lançamento na Livraria da Vila em SP, pela atriz Vera Barreto Leite, a Vera Valdez (comigo na foto abaixo), que já foi a modelo preferida de Coco Chanel, participou dos filmes de Malle e hoje é o principal ícone do Teatro Officina.



LEITURA DOS POEMAS DE LUAS NOVAS E ANTIGAS


Acho que será impossível descrever em palavras e /ou fotos, o quanto foi emocionante a leitura dos meus poemas pelos atores Georgette Fadel, Paula Picarelli, Vera Barreto Leite, Daniela Duarte, Luciano Chirolli e Eduardo Celestino na Livraria da Vila (foto). Ao som da música belíssima de Gustavo Sarzi no acordeon, violão de Junior Pitta,clarinete de Diogo Maia e pandeiro de Barão do Pandeiro, além da voz cristalina de Ná Ozetti, eles arrasaram sob a direção artística de Heron Coelho, que também participou das leituras. Noite para não se esquecer jamais.






 Na foto, à minha esquerda o talentoso  produtor e
 diretor artístico Heron Coelho, que também interpretou e cantou.


O grande artista Barão do Pandeiro, puro ritmo



 O ator Euardo Celestino que cantou 'Tatuagem.'



Os músicos Gustavo Sarzi , Junior Pitta, e Diogo Maia deram um show à parte.

Vou postar nos próximos dias aqui no blog alguns dos poemas do meu livro que foram lidos pelos atores

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DEVER DE SONHAR - FERNANDO PESSOA



Dever de Sonhar

Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.

Fernando Pessoa

domingo, 22 de novembro de 2009

Piano de Maria João Pires


Ontem tive a oportunidade  de ver de perto o virtuosismo da pianista Maria João Pires (foto), em um concerto com a Orquestra Sinfõnica de Ribeirão Preto sob a regência de Claudio Cruz, no Teatro Pedro II.
Fantástico. No bis, Maria João e Claudio Cruz, fizeram um lindo dueto com violino e piano, tocando Beethoven.
Nascida em Lisboa a 23 de Julho de 1944,  Maria João muito cedo aprendeu a tocar piano: aos cinco anos deu o seu primeiro recital e aos sete tocou publicamente concertos de Mozart. Com nove anos recebeu o prémio da Juventude Musical Portuguesa. Entre 1953 e 1960 estuda com o Professor Campos Coelho no Conservatório de Lisboa. Prossegue os estudos musicais na Alemanha, primeiro na Musikakademie em Munique com Rosl Schmid e depois em Hannover com Karl Engel.
Maria João Pires torna-se reconhecida internacionalmente ao vencer o concurso internacional do bicentenário de Beethoven em 1970, que se realizou em Bruxelas.
Fez na sua carreira numerosas digressões onde interpretou obras de Bach, Beethoven, Schumann, Schubert, Mozart, Brahms, Chopin e muitos outros compositores dos períodos clássico e romântico. Maria João Pires é convidada com regularidade pelas grandes orquestras mundiais para tocar nas melhores salas de concerto, apresentando-se regularmente na Europa, Canadá, Japão, Israel e nos Estados Unidos.
Tem desenvolvido actividade tanto a nível individual (recitais, concertos, gravações) como em música de câmara: dos numerosos êxitos discográficos, destacam-se as gravações "Moonlight", com Sonatas de Beethoven; "Le Voyage Magnifique", integral dos Impromptus de Schubert; Nocturnos e outras obras de Chopin;. Sonatas de Grieg; e os Trios de Mozart com Augustin Dumay (violino) e Jiang Wang (violoncelo).
É a fundadora e dirigente do Centro de Belgais para o Estudo das Artes, no concelho de Castelo Branco, de cariz pedagógico, cultural e social.
Em 2006 a pianista mudou-se para o Brasil tendo declarado à Antena 2 e ao Aguarrás, ter sofrido muito em Portugal devido ao seu projecto, o Centro de Belgais para o Estudo das Artes. No Brasil adquiriu uma casa nos arredores da cidade de Salvador, capital do estado da Bahia.
Em 2009 a artista que tinha dupla nacionalidade, anunciou que irá ficar apenas com a nacionalidade brasileira.
 Fonte: Wikipedia

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Convite oficial para lançamento em São Paulo


Caros amigos e seguidores do blog,  
reforçando o convite do meu lançamento.
Espero que possam estar lá.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Lançamento da Antologia Poética Ave Palavra e Poema Sedução



  Dia 17/11 ocorreu o lançamento da belíssima e bem elaborada antologia Ave Palavra, no  Salão dos Espelhos do Tetro Pedro II.
Participei desta antologia, brilhantemente coordenada pela Profa. Ely Vieitez (comigo na foto acima), com o poema Sedução, que também faz parte do meu livro Luas Novas e Antigas.
Vejam fotos de alguns escritores que  também participaram da antologia:

Da esquerda para direita: Rita Mourão, eu , Célia Silli Barbosa, Elisa Alderani e Edina Duarte da Silva Prado

Da esquerda para direita: Maris Ester de Souza (presidente da Casa do Poeta), eu, Eliane Ratier e Alfredo Rossetti

Ruth Maria Sampaio de Freitas e eu

Comigo,Rita Mourão, que obteve o segundo lugar no concurso de crônicas da ALARP

E abaixo, o poema com o qual participei:

foto: Carmen Fanganiello.


Sedução

Mara Senna
Ontem, quando vinha pela estrada,
pareceu-me que os flamboyants
vestidos de vermelho
ofereciam-se a mim, voluptuosos.
Os ipês, já quase nus,
desavergonhados,
estendiam-me seus tapetes de florada.
Senti-me lisonjeada...
Ao chegar ao meu portão,
o jasmineiro lançou-me perfumes lascivos,
e a estrelitza,
que nunca havia dado flores,
abriu-se sensual,
revelando todas as suas cores.
Os antúrios tinham ares de desvarios,
sem falar nos lírios, perdidos em sonhar.
As roseiras estavam em festa, encarnadas,
e a flor azul miúda, da qual não sei o nome,
também rebentava
em pequeninos gozos de safira.
Abri meus braços,
completamente entregue.
Fui seduzida pela Primavera.





quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Prêmio Literário ALARP




A noite de ontem foi muito especial para mim, pois recebi o prêmio pelo primeiro lugar no I Concurso Literário de Crônicas da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto.
Foi uma imensa alegria, que contou com a presença de familiares, amigos e acadêmicos da ALARP e fez parte da V Noite das Artes, que teve muita música, dança, poesia e exposição de pinturas.
 O segundo lugar do concurso ficou com a escritora Rita Marciana Mourão e o terceiro lugar, para uma promissora jovem de 23 anos que se chama Patrícia Benedetti.
 A minha crônica se chama O Passado, em breve estará  no site da ALARP e também aqui no blog.
 O prêmio foi patrocinado pela acadêmica e escritora Lucília Junqueira de Almeida Prado que estava no evento. Recebi o diploma e o prêmio das mãos da Secretária da Cultura, Adriana Silva.
Abaixo, algumas fotos das presenças amigas no evento.


 
 Presenças muito especiais: o marido Paulo Fernando e a irmã Maria Aparecida Senna


 
Amigos de sempre: Carmo Carmen Fanganiello (e  Márcia e  Carol Salioni que não estão na foto)



As acadêmicas Maria Lúcia Cardoso e Jair Yanni que brilhantemente declamaram durante o evento.
A simpatia da acadêmica Nely Cyrino de Mello e da escritora Eliane Ratier

No cantinho da foto à esquerda o multitalentoso acadêmico Djalma Cano, que cantou  durante o evento, o Carmo, Paulo, Carmen, eu e Dia.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

E o Rio de Janeiro continua lindo...

 
Voltei ao Rio recentemente, depois de alguns anos sem ir até lá. Riscos e balas perdidas à parte, o Rio sempre me fascinou e ainda fascina; é muita beleza! Sou apaixonada por aquele azul, aquelas montanhas... Na verdade nunca fui vítima de qualquer tipo de violência por lá, mas eu sei que para quem vive o dia-a-dia, a coisa não anda nada fácil.
Torço para que a situação melhore e nem sei qual seria a solução,  mas sei que é muito desperdício não poder usufruir plenamente da Cidade Maravilhosa.
Transcrevo aqui o poema que Manuel Bandeira fez há 50 anos atrás, com saudades do Rio antigo. Imaginem se Manuel vivesse agora...

Saudades do Rio antigo

Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada.
Lá o rei não será deposto
E lá sou amigo do rei.
Aqui eu não sou feliz
A vida está cada vez
Mais cara, e a menor besteira
Nos custa os olhos da cara.
O trânsito é uma miséria:
Sair a pé pelas ruas
Desta capital cidade
É quase temeridade.
E eu não tenho cadilac
Para em vez de atropelado,
Atropelar sem piedade
Meus pedestres semelhantes.
Oh! que saudades que eu tenho
Do Rio como era dantes!
O Rio que tinha apenas
Quinhentos mil habitantes.
O Rio que conheci
Quando vim para cá menino:
Meu velho Rio gostoso,
Cujos dias revivi
Lendo deliciosamente
O livro de Coaraci.
Cidade onde, rico ou pobre
Dava gosto se viver.
Hoje ninguém está contente.
Hoje, meu Deus, todo mundo
Traz na boca a cinza amarga
Da frustração...Minha gente,
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

(1886-1968)
Mais sobre Manuel Bandeira em



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Reflexão




"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."
Rubem Alves

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Pavão - Rubem Braga



O Pavão


Rubem Braga

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Rio, novembro, 1958

Texto extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 149.

domingo, 1 de novembro de 2009

Depois de tudo - Cassiano Ricardo


Depois de tudo

Mas tudo passou tão depressa
Não consigo dormir agora.
Nunca o silêncio gritou tanto
Nas ruas da minha memória.
Como agarrar líquido o tempo
Que pelos vãos dos dedos flui?
Meu coração é hoje um pássaro
Pousado na árvore que eu fui.





Cassiano Ricardo
(1895-1974)