sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Moça com chapéu de palha - Menalton Braff

O escritor Menalton Braff (vencedor do Prêmio Jabuti 2000 - categoria Ficção), lançou ontem em Ribeirão Preto, na Paraler Megastore, o seu livro MOÇA COM CHAPÉU DE PALHA- Editora Língua Geral.


"O título deste romance, Moça com chapéu de palha, antecipa muitos aspectos da técnica narrativa de Menalton Braff. De imediato, ele sugere uma composição impressionista, que induz o leitor a participar da criação do significado da obra. O texto é lírico, intenso, e a análise do narrador, voltada para a crise existencial mais grave de sua vida, modifica-se com o passar do tempo. Nesse sentido, o estilo narrativo de Menalton nos remete – ao reavaliar o mesmo fato à medida que o protagonista se distancia dele – à série de pinturas de Claude Monet sobre a catedral em Rouen.
 Este livro ainda revela muitas cenas campestres, pinceladas como se fossem uma natureza morta. É quando também há maior abertura para o registro de cenas cotidianas, triviais, mas que, pela qualidade com que as tintas e os movimentos são manipulados, ganha um papel muito relevante em Moça com chapéu de palha: elas completam o painel impressionista, que vai misturar a leveza do erotismo com o peso da incerteza sobre a vida. As impressões nascem ora do que vai sendo mostrado com solidez, o amor entre o protagonista e Angélica, sua mulher, ora pelas incertezas do narrador em torno do seu destino.
 E é justamente em torno das incertezas que o romance ganha um contraponto, um tom que por vezes, de modo instigante, nos faz lembrar da literatura noir, repleta de mistérios e suspenses. Acentua-se então o cenário urbano, da redação do jornal e das relações profissionais ali estabelecidas, da falta de ética, do poder que consome o compromisso com a verdade, um lema que a imprensa carrega consigo feito um estandarte.
De um lado, o campo, o cuidado na preparação da comida, na arrumação da mesa de jantar, no zelo com o jardim, na vida amorosa e sentimental, enquanto, de outro, estão a cidade e sua máquina incessante, brutal e estressante. Qual dos dois é mais verdadeiro? Qual dos dois é mais importante? São perguntas que se colocam neste romance e são formuladas em diálogo com a própria criação literária, num jogo metalinguístico que apenas um autor maduro como Menalton Braff poderia conquistar.'
Fonte: http://www.menalton.com.br/livros.html

Aniversário do blog É MARA


Hoje o blog completa um ano e este é o momento de agradecer a todos os que tem prestigiado este espaço: amigos, seguidores, visitantes, gente que tem passado por aqui e levado a minha poesia por aí, para outros blogs por esse mundo afora. Isto 
É MARAvilhoso!
 Obrigada!
Um abraço a todos!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Descoberta do Inefável - Lêdo Ivo

Descoberta Do Inefável

A Lêda

Sem o sublime, que é o poeta? Sem o inefável,
como pode louvar, não traindo a si mesmo,
a plena e estranha juventude da moça a quem ama?
Que é o poeta, que imita as marés,
sem adquirir com o tempo uma serenidade de coisa sempre nua
como se as estrelas estivessem caminhando governadas
pelo seu riso
e seus braços agitassem as árvores feridas pelo clarão da lua?

Sem que seu canto suba até os céus, sufocante música da terra,
que é o poeta?
Libertado estou quando canto. E quero
que minha respiração oriente a vontade das nuvens
e meu pensamento de amor se misture ao horizonte.
Cantando, quero outubro, gosto de lágrima, salsugem,
no instante anterior ao despertar, folha voando.

Sem o inefável, que dura sempre, sem permanecer,
como conseguirei louvar essa moça a quem amo
e que nasce em minha lembrança plena como a noite
e triunfante como uma rosa que durasse eternamente
e não se limitasse à glória de um dia?
Sem o inefável, que valoriza as mãos e faz o Amor voar,
não poderei descer de repente
ao inferno de seu corpo nu.

O sobrenatural ainda existe. E não seremos nós
que alteraremos a indizível ordem das coisas
com as nossas mãos que poderão ficar imóveis
em pleno amor, diante do corpo amado.

É inútil pensar que os anjos morreram
ou se despaisaram, buscando outros lugares.
Eles ainda estão, unidade admirável do Dia e da Noite,
entre as nuvens e as casas em que moramos.

Repentinamente, as vozes da infância nos chamam para a feérica viagem
e lembram que podemos fugir para o longe guardado ainda
no sempre.
Então, nossas necessidades não se reduzem apenas a comer,
dormir e amar.
Temos necessidade de anjos, para ser homens.
Temos necessidade de anjos, para ser poetas.

Vem, incontável música, e anuncia
(ao poeta e ao homem, humilde unidade)
a ressurreição diária dos anjos.
Restaura em mim a certeza de que a folha voando é seu indomável divertimento
pois às vezes sinto que meu primeiro verso foi murmurado talvez
sem que eu soubesse, por um anjo
perturbado com o meu ar desesperado de papel em branco.

Não é a manhã, depositando a semente de alegria no coração
dos homens.
Não é a vida, cântico triunfal descendo sobre as almas.
Não é o poeta, subindo pelos andaimes de carne da lembrança
de uma mulher.

São os anjos, que vieram ligar-nos mais uma vez
à ordem eterna e, à anunciação.
Não nos libertaremos jamais desses anjos
feitos de terra e mar, celestes criaturas
que deixam cair em nós o sol da harmonia.

É inútil matar os anjos.
Eles são invisíveis e traiçoeiros.
De repente, quando nos sentimos seguros, já não somos
os consumidores de instantes, e estamos
entre o Dia e a Noite, no umbral
de uma eternidade vigiada pelos anjos.

Lêdo Ivo
 (Maceió, 18 de fevereiro de 1924)
 é um jornalista, poeta, romancista, contista, cronista e ensaísta brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Li e gostei - A máquina - Adriana Falcão

Adriana Falcão: nunca tinha lido nada desta autora e me surpreendi com uma literatura deliciosa em A MÁQUINA, seu romance de estréia, um pequeno livro, numa edição caprichada, com ilustrações do artista plástico pernambucano Rinaldo. Uma autora e uma prosa que, no dizer de Luis Fernando Verissimo, "tem sortilégio": "A gente se encanta com ela no sentido de se deliciar mas também no sentido de cobra hipnotizada."

Em A MÁQUINA, ela nos conta da vida em Nordestina, um lugar onde ninguém mais quer ficar. Esta cidadezinha é o cenário da história de amor entre Antonio e Karina. Uma história capaz de parar o tempo. No afã de satisfazer os desejos de Karina, Antonio jura viajar até o futuro, oferecendo como garantia de sua proeza a própria vida. Com texto preciso e poético, Adriana Falcão nos conta essa história delicada e afetuosa, tão brasileira quanto universal. Uma fábula sobre o amor e o tempo.
Baseado no livro, foram feitas uma peça e um filme com o mesmo nome, ambos dirigidos por João Falcão.

Adriana Falcão, nascida no Rio mas criada em Recife, é roteirista da TV Globo (escreveu para as séries "Comédia da Vida Privada" e "Brasil Legal" e atualmente trabalha para o programa "Mulher").
Trechos do livro:


"Seu coração disse pra sua cabeça, vá, e sua cabeça disse pra sua coragem, vou, e sua coragem respondeu, vou nada, mas sua boca não ouviu e beijou."
 
"Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue."
 
"Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma."

Futuros amantes - Chico Buarque

 Adoro esta música do Chico...


Futuros Amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Argila - Helena Kolody


Argila

Somos argila dorida,
Sangrando em face dos astros,
Na vertente dos abismos.

Helena Kolody
(1912-2004)
Foi a primeira mulher a publicar haicais no Brasil, em 1941.

Mais sobre Helena Kolody em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_Kolody

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Papel Molhado - Mario Benedetti


Papel molhado

Mario Benedetti

Com rios
com sangue
com chuva
ou sereno
com sêmen
com vinho
com neve
com pranto
os poemas
costumam ser
papel molhado.

(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

Papel mojado

Con rios
con sangre
con lluvia
o rocio
con semen
con vino
con nieve
con llanto
los poemas
suelen
ser papel mojado

Mario Benedetti,
(1920-2009)
poeta uruguaio
Mais sobre Mario Benedetti em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Benedetti

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A máscara - Augusto dos Anjos


A máscara

Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.

No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.

Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.

E entre a mágoa que masc’ra eterna apouca
A humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.

Augusto dos Anjos

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A nossa vida é um carnaval...


"A nossa vida é um carnaval
A gente brinca escondendo a dor
E a fantasia do meu ideal
É você, meu amor
Sopraram cinzas no meu coração
Tocou silêncio em todos clarins
Caiu a máscara da ilusão
Dos Pierrots e Arlequins...'

 Trecho de música Turbilhão de
Moacyr Franco"

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Manhã de Carnaval - Luiz Bonfá e Antônio Maria



Manhã de Carnaval é o nome da canção mais popular de Luiz Bonfá e Antonio Maria, gravada na trilha sonora do filme Orfeu Negro, em 1959. Esta canção se tornou tradicional nos meios de jazz estadunidense e é tocada regularmente também por muitos artistas internacionais. A canção é considerada uma das mais importantes canções no mercado do jazz brasileiro nos Estados Unidos da America, que ajudou a estabelecer o movimento da bossa nova no final da década de 1950.

Manhã de Carnaval

Composição: Música: Luiz Bonfá - Letra: Antonio Maria

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor

Veja as interpretações de:

Nara Leão:

Amor é síntese - Mário Quintana


Amor é síntese

Por favor não me analise,
Não fique procurando cada ponto fraco meu,
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu
Ciumento, exigente, inseguro, carente,
Todo cheio de marcas que a vida deixou.
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese,
É uma integração de dados,
Não há que tirar nem pôr.
Não me corte em fatias,
Ninguém consegue abraçar um pedaço,
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.

Mário Quintana

(Obs: Quintana conseguia mesmo simplificar tudo. Adoro...)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Casas Separadas

'São duas casas totalmente separadas
A do desejo e da razão
E se revezam quase religiosamente
Tal qual a luz e a escuridão."

Trecho da música Fogo de Palha de
Lulu Santos 

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Céu azul

Hoje de manhã o céu estava tão azul, que eu não pude deixar de me lembrar desta letra da música Você é Linda:


"Choque entre o azul e o cacho de acácias,
luz das acácias, você é mãe do sol..."

(Caetano Veloso)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Aceitação - Cecília Meireles

Aceitação

É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
e assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
nem tu.
Densenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.

Cecília Meireles

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Doce Tarde - Mara Senna

E porque hoje é sábado, lembrei-me deste poema...


Doce tarde



Doce tarde de sábado,
em que tudo parece andar bem.
O trânsito flui,
os ipês roxos, brancos e amarelos
estão florindo.
Hoje aprendi a contar histórias,
além de vivê-las.
Doce tarde de sábado...
O rádio toca uma canção francesa,
sinto saudade de um sorriso longe
que uma brisa trouxe,
e agora a vida é como se já fosse
ontem de novo,
ou talvez já outro amanhã.
Volto para casa feliz e plena,
porque no caminho o sol brincou comigo
de lançar cores no trajeto da rotina.
Ah, doce tarde de sábado,
não me deixe!

Mara Senna
(Este poema faz parte do livro "Luas Novas e Antigas)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Depois do Fim - Mário Quintana

Criança sorri em orfanato em Porto Príncipe.
Após mais de uma semana de buscas por sobreviventes nos escombros deixados por um terremoto que devastou o país, o Haiti se preparava neste sábado para chorar seus mortos em meio a sinais de que o cotidiano começava a voltar ao devastado país caribenho.22/01/2010.REUTERS/Tomas Bravo

A notícia vai ficando antiga mas, a imagem do sorriso fica, assim como a imagem do menino saindo dos escombros de braços abertos. Há vida depois do fim.


Depois do fim

Brotou uma flor dentro de uma caveira.
Brotou um riso em meio a um De profundis.
Mas o riso era infantil e irresistível,
As pétalas da flor irresistivelmente azuis...
Um cavalo pastava junto a uma coluna
Que agora apenas sustentava o céu.
A missa era campal: o vendaval dos cânticos
Curvava como um trigal a cabeça dos fiéis.
Já não se viam mais os pássaros mecânicos.
Tudo já era findo sobre o velho mundo.
Diziam que uma guerra simplificara tudo.
Ficou, porém, a prece, um grito último da esperança...
Subia, às vezes, no ar, aquele riso inexplicável
de criança
E sempre havia alguém re-inventando amor.

Mário Quintana

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Aquele Momento - Caio Fernando de Abreu


Sempre tenho a estranha sensação, embora tudo tenha mudado e eu esteja muito bem agora, de que este dia ainda continua o mesmo, como um relógio enguiçado preso no mesmo momento – aquele.

Caio F. Abreu in “Os Dragões não Conhecem o paraíso”.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

É este meu poema ou será de outra? - Hilda Hilst


É este meu poema ou será de outra?

É meu este poema ou é de outra?
Sou eu esta mulher que anda comigo
E renova a minha fala e ao meu ouvido
Se não fala de amor, logo se cala?

Sou eu que a mim mesma me persigo
Ou é a mulher e a rosa escondidas
(Para que seja eterno o meu castigo)
Lançam vozes na noite tão ouvidas?

Não sei. De quase tudo não sei nada.
O anjo que impulsiona o meu poema
Não sabe da minha vida descuidada.

A mulher não sou eu. E perturbada
A rosa em seu destino, eu a persigo
Em direção aos reinos que inventei.

Hilda Hilst
(1930-2004)
Mais sobre Hilda Hilst em:
  http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst