quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Sísifo - Miguel Torga



Ilustração: Jonas Ranum Brandt

SÍSIFO

Recomeça...
Se puderes
Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga, in Diário XIII

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Chuva Tardia - Mara Senna

 


A chuva tardia veio
mansa e carinhosa,
como se soubesse
que, neste meu solo
seco e machucado,
aridez é ferida

que se cura com cuidado.

Mara Senna
trecho do poema Chuva Tardia, in Ensaios da Tarde, pag.89

domingo, 16 de setembro de 2012

Estiagem - Mara Senna


Este poema de Ensaios da Tarde foi feito no ano passado,
nesta mesma época.
 E parece que este ano está ainda pior por aqui...


Foto: Este poema de Ensaios da Tarde foi feito no ano passado, nesta mesma época. E parece que este ano está ainda pior...
 
Estiagem
 
Arde, em meus olhos
e em minha garganta,
essa secura da tarde.
Da paisagem dos canaviais,
ainda tento arrancar doçura,
mas apenas aspiro 
a sua fuligem negra
e invasiva, como a memória.
Chego a sentir na boca
o gosto dessa poeira vermelha,
de alma roxa e sequiosa.
As imagens se refletem
nos espelhos escuros
dos ribeirões sedentos.
As lembranças assentam-se,
feito pó de viagem,
e tudo me aparece
qual miragem
ou vertigem.
Fantasmas da estiagem
em que eu faço chover
estas minhas palavras úmidas,
como voz solitária que clama no deserto.
 
Mara Senna in Ensaios da Tarde, 2012

Estiagem
 
Arde, em meus olhos
e em minha garganta,
essa secura da tarde.
Da paisagem dos canaviais,
ainda tento arrancar doçura,
mas apenas aspiro
a sua fuligem negra
e invasiva, como a memória.
Chego a sentir na boca
o gosto dessa poeira vermelha,
de alma roxa e sequiosa.
As imagens se refletem
nos espelhos escuros

dos ribeirões sedentos.
As lembranças assentam-se,
feito pó de viagem,
e tudo me aparece
qual miragem
ou vertigem.
Fantasmas da estiagem
em que eu faço chover
estas minhas palavras úmidas,
como voz solitária que clama no deserto.


Mara Senna
in Ensaios da Tarde, 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sessão de autógrafos na I Mostra dos Escritores Ribeirão Preto e Região.

CONVITE:
Hoje 14/09, sexta -feira, às 15:00 no Centro Cultural Palace, venha compartilhar poesia comigo em "Das Tarde e das Luas": sessão de autógrafos e leitura de poemas dos meu livros Ensaios da Tarde e Luas Novas e Antigas, como parte da programação da I Mostra dos Escritores Ribeirão Preto e Região. Sua presença me fará muito feliz.
Para quem não sabe, o Centro Cultural Palace fica na Duque de Caxias ao lado do Theatro Pedro II.

Lançamento de Ensaios da Tarde em Araxá - MG



 
"Com açúcar com afeto", assim foi o lançamento de Ensaios da Tarde na minha cidade natal, Araxá - MG  dia 08/09/12.
Presença de muitas pessoas queridas e familiares na bela Fundação Cultural Calmon Barreto, antiga estação ferroviária da cidade.
Muito bom!

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Graça - Mara Senna

 
Graça
 
Ao primeiro sinal de nuvem,
eu já começo a florescer neste deserto,
a vislumbrar terras grávidas,
alegrias ávidas.
A achar graça no sorriso largo
do lagarto,
nas formas bizarras que os ventos
esculpem nas pedras.
A rir da incerteza do oásis,
a me divertir com a embriaguez
da miragem.
Acho que eu começo
é a ter coragem.

Mara Senna
em ENSAIOS DA TARDE, p.88

sábado, 1 de setembro de 2012

Acordar setembro - Mara Senna


Acordar setembro

Abro a janela, enfim
Acordo setembro
aqui, dentro de mim.
Visto a roupa dos ipês.
Compenso o cinza
que me deixou abril,
os espinhos de maio,
as tristezas de junho,
as saudades de julho,
e a solidão de agosto.
Tento brotar de novo;
não sei se volto inteira.
Tento brotar de novo;
ainda não sei de que maneira
Mas tento.

Mara Senna
in Ensaios da Tarde, p. 44