terça-feira, 21 de junho de 2016

Salão de Ideias Poesia com diferentes olhares sobre o mesmo tema


No dia 14/06  durante a na 16a, Feira do Livro de Ribeirão Preto. aconteceu o Salão de Ideias " Poesia com diferentes olhares sobre o mesmo tema" na preciosa companhia dos talentosos poetas João Augusto e José Augusto Camargo e mediação da querida e talentosa Nely Cyrino de Mello. Uma celebração em torno da Poesia. Muito obrigada pela presença e participação de todos!


Crepuscular

Este é o poema que recebeu o terceiro lugar nacional no
Prêmio Literário Mário Sérgio Cortella da 16a. Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto.
O tema foi "A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza." Lygia Fagundes Telles.

  Foto de Poeta Mara Senna.

Crepuscular

Poentes: já vi tantos,
e de tantos encantos vestidos.
O lusco-fusco a brincar comigo
como olhos fugitivos
que ora me alumiam,
ora me deixam só,
no prenúncio da escuridão.
Poentes: já vi tantos,
e não me canso dos seus tons quentes
de paixão, de cores indizíveis.
O fugaz encontro do dia e da noite,
o beijo breve de dois amantes impossíveis.
Poentes: já vi tantos,
o fogo do dia a queimar os últimos pavios,
antes de a noite embarcar, absoluta,
em seus negros navios.
Nada vai ser igual quando a escuridão chegar.
Nada será tão intenso quando o sol raiar.
Nada se compara à plenitude desse momento,
intenso e crepuscular.
Poentes: já vi tantos,
essa hora que é ao mesmo tempo,
beleza e incerteza,
chegada e partida.
E me pergunto, entre tantos desenganos:
quantos ainda hei de ver
da janela imprevisível da vida?

Mara Senna

foto: internet

Entrega do Prêmio Mário Sérgio Cortella



No dia 12 de junho recebi a premiação pelo terceiro lugar - modalidade poema  - nacional - no Prêmio Literário Mário Sérgio Cortellla da 16.a Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto. Parabéns a todos os premiados!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Video- homenagem do alunos surdos da E.E. Sebastião Fernandes Palma

Este é o video feito pelos alunos surdos que me fez chorar de emoção ontem na E. E. Sebastião Fernandes Palma. Agradeço de coração aos queridos alunos, às professoras Janaina Malta Lima e as interlocutoras de Libras: Camila de Paula e Dienifer, à professora Luciane Matheus que coordena Sala de Leitura, á diretora Maria Teresa e a todos da escola pelo carinho. E sou grata à Poesia que me proporciona essa riqueza.


https://www.youtube.com/watch?v=L2ssGpAoTOg&feature=share

Manhã e Tarde Poética na E.E. Sebastião Fernandes Palma

Ontem estive na Escola Estadual Sebastião Fernandes Palma a convite da coordenadora da Sala de Leitura Professora Luciane Aparecida Matheus para uma dupla jorna...da: uma manhã poética com os alunos do Ensino Médio e uma tarde poética com o alunos do 8o. Ano, entre eles os alunos surdos que freqüentam a Sala de Recursos da escola. Fui muito bem recebida pelas professoras Luciane, Adriana e os demais, pela diretora Maria Teresa e pelos alunos que já estavam fazendo leituras dos poemas dos meus três livros há alguns meses, e me encantaram com as declamações, desenhos, móbiles de poesia, homenagens e música. Além disso as lindas professora da Sala de Recursos e intelocutoras de libras Professora Janaina Malta Lima, Camila de Paula e Dienifer me presentearam com uma das mais belas homenagens que já recebi desde que me tornei escritora: os alunos surdos-mudos fizeram um vídeo em que declamavam meus poemas em libras com interlocução da professora Janaina. Chorei de emoção. Uma experiência inédita e maravilhosa. Agradeço de coração tanto carinho, tanto afeto. Como diz Adélia Prado: " que a Poesia use de todos os meios de transporte para chegar ao coração dos homens".
Vejam a s fotos no link:
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1220674401285394

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Premiação

E a semana começou com boas notícias: fui premiada com o terceiro lugar modalidade poema no Prêmio Literário Mário Sérgio Cortellla da 16.a Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto.
Do concurso participaram estudantes do ensino básico de Ribeirão Preto e adultos de todo o país.
A cerimônia de premiação será no dia 12 de junho de 2016 às 11:00 no Café do Theatro Pedro II.



sábado, 4 de junho de 2016

Poema anti-heroico









Foto de Poeta Mara Senna.

Foto de Poeta Mara Senna.Foto de Poeta Mara Senna.



Foto de Poeta Mara Senna.





Poema anti-heroico


O que me irrita
adoece-me feito criptonita,
e essa coisa de Batman e Robin...

há muito já deu pra mim.
Alguém poderá salvar o Homem-Aranha
enroscado na própria teia
ou a Mulher-Maravilha
presa em sua própria armadilha?
 
Mara Senna

31 de maio


Foto de Poeta Mara Senna.

31 de maio

De maio eu saio,
mas maio não sai de mim,
tenha sido ele dessa vez...

nem tão bom
e nem tão ruim.
Parto sem sair,
tento partir,
ensaio,
mas maio não sai de mim
nem eu de maio.

 
Mara Senna

Ausência

Foto de Toda Prosa - Mara Senna.

Uma crônica que escrevi há alguns anos e que ficou guardada até amadurecer o sentimento:

Ausência

Subitamente, o dia azul de abril tornou-se cinza. e embora houvesse muita luz, sol e harmonia naquela manhã de outono, para mim, havia cessado a estação. Tudo ficou opaco e pesado como o chumbo e eu senti afundar o chão sob meus pés. Minha mãe partira para sempre naquela manhã, avisava a voz do meu irmão ao telefone.
Fiquei sem rumo e francamente parva. Anteontem eu havia me despedido dela na porta de sua casa, parecia bem, acenou-me do alpendre com um sorriso. Mal sabia eu que seria o seu último adeus.
Aos meus ouvidos chegava agora o canto de algum pássaro indiferente, e desinformado da minha dor. Eu compreendera assim, num relance, que quando viesse a flor de maio, eu já não iria florir como de costume. Uma névoa circundou-me em um abraço gelado que só a morte sabe dar. Meu coração agora já estava em pleno inverno
Uma dor lancinante cobrava-me dentro do peito o muito que eu perdia assim, tão de repente. E me vinha ao pensamento um verso do Vinícius: “de repente, não mais que de repente do riso fez-se o pranto...”
E até o ‘de repente’ me soava estranho. Eu sabia o quanto eu havia tentado, ao longo da vida, me preparar para esta perda tão previsível, que Cecília, soube cantar tão bem em seus versos: “era uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se.” E, no entanto, quando se cumpriu, eu me vi totalmente desprevenida.
Quem disse que a vida permite ensaio? A morte estreia triunfante na sua hora precisa; nem um minuto a mais, nem a menos, estejamos nós preparados ou não. E, na verdade, nunca estamos.
Nas folhas secas do chão, súbito, enxerguei claramente a transitoriedade da vida. Elas simplesmente caem na estação prevista, tornam ao pó e outras folhas nascem, tomam seu lugar e assim o ciclo da vida se repete.
Olhei as paineiras que sempre florescem nessa época. Saltavam-me agora aos olhos os grandes espinhos no seu tronco, contrastando com a beleza rósea e suave das suas flores. Flor e espinho, riso e pranto, prazer e dor: seria essa a receita oculta da vida?
Eu buscava, como que desesperada, aprender de Drummond, a ausência “branca e pegada”, mas a minha, nesse momento, era negra e tinha mais a dureza da pedra do que o aconchego dos braços. Talvez, como disse o poeta mineiro, eu ainda fosse mesmo ignorante dessas coisas e lastimasse a falta. Mas ele que tanto entendeu das pedras, há de saber mais do que ninguém o que sinto e entenderá que também eu “tenho razão de sentir saudade.”
Mas, neste ponto, peço desculpas por ousadamente contradizer Vinícius, e dizer que eu não “deixarei que morra em mim a vontade de amar os seus olhos” tão verdes, nem o som gostoso da sua risada, o carinho das suas mãos nos meus cabelos, a doçura da sua voz. Até que um dia eu aprenda a transbordar tanto dessa ausência, que eu possa quase acreditar que de fato eu tenha voltado a ser feliz. E que nunca mais, nada nem ninguém, possa tirá-la de mim. E eu possa repetir Proust e afirmar que a ausência de minha mãe será para mim “a mais certa a mais intensa, a mais indestrutível e a mais fiel das presenças.”
Que assim seja. E há de ser.
 
Mara Senna
Imagem: Leslie Stahl