sexta-feira, 3 de julho de 2009

Pasárgada - Manuel Bandeira


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA


Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água.
Pra me contar histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Lá sou amigo do rei
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Nota da autora: dedico este poema ao grande artista Djalma 'Fênix' Cano, que sabe declamá-lo como ninguém.



2 comentários:

  1. Ah, Mara! Que momento delicioso para lembrar Manoel Bandeira! Todos um dia quisemos ir para Pasárgada. E tudo é muito mágico: o Bandeira, Pasárgada, a vida, o destino, as pessoas... Grande abraço!
    Djalma

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