quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sempre é tempo de Ano Novo... - Mara Senna


Ano Novo é tempo que começa no coração.
Não precisa ser no primeiro dia do ano...
É quando a gente acorda e decide que quer viver
da melhor maneira possível,
incluindo aí a certeza de que nem sempre
as coisas vão sair como se tinha imaginado.
 Às vezes, fica difícil realizar a proposta.
Sim, porque tentar a gente tenta...
e muitas vezes esbarramos em nós mesmos.
Ano Novo é o tempo em que se constata
que dentro de nós habitam o humano imperfeito
e o Divino perfeito, convivendo e se tolerando.
O erro anda de mãos dadas com o perdão.
A desesperança abraça a esperança,
a tristeza a abraça a alegria,
a realidade abraça o sonho.
Se o corpo está doente, pede saúde,
se a alma está pesada, pede leveza.
Todo mundo, no fundo, só quer amar e ser amado.
A felicidade é sempre um estado a se almejar.
Alcançá-la de todo, ultrapassa a nossa capacidade.
Mas só o desejo de ser feliz nos move
e nos faz desejar um Feliz Ano Novo,
seja ele em que data for.

Mara Senna

A todos vocês, amigos aqui do blog,
Feliz Ano Novo, sempre!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Surpreendente - Mara Senna

Surpreendente

 Quando chega o final do ano,
tem algo que não deixa
de ser engraçado:
ninguém quer
que o futuro chegue
com a mesma cara do passado.
Mas se de repente
ele chega surpreendente,
fora do combinado,
coitado!
Logo querem que ele vire
passado,
mal aproveitam o presente.
 E passam a sonhar,
de novo,
 com um futuro diferente...

Mara Senna

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um poema de Natal - Mara Senna

Um poema da Natal

Se a data é bonita,
se o clima é de presentes,
por que insistem em doer em mim
as ausências?
Ah, danado de coração humano...
que quer o que não tem,
sofre pelo que não pode mais ter,
sem se dar conta de que,
no fundo,
jamais perde aquilo que amou de verdade.
Ah, danado de coração humano...
sempre faminto do alimento
que não tem,
sempre insatisfeito com o muito que ainda lhe sobra.
Ah, danado de coração humano...
que pensa ser dono de tudo
e não se dá conta de que tudo lhe é emprestado.
Sem se dar conta de que lhe é oferecida,
de bandeja,
a Eternidade.

Mara Senna

Feliz Natal, amigos!

A todos vocês que acompanham o blog,
desejo um lindo Natal, pleno de paz.
Abraços
Mara Senna

Clique White Christmas com Andrea Bocelli:

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Carpinejar


"Olho o céu com paciência. O azul não me cansa.
 Uma ave voando não significa que está partindo.
Uma ave voando pode estar regressando..."

Fabrício Carpinejar

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Inédito

Foto: Carmen Fanganiello

Chega uma hora em que perdoar
nem é assim tão complicado...
Eu quero é a mágica de esquecer.

Mara Senna
(trecho de poema do meu proximo livro)



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Traduzir-se - Ferreira Gullar

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
... fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Ferreira Gullar

in Na Vertigem do Dia (1975-1980)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sobre milhos, pamonhas e curaus

Sobre milhos, pamonhas e mingaus

O milho verde cozinhando na panela, o cheiro se espalhando pela casa e a minhas lembranças todas vindo à tona.
 Lembranças da época em que as pessoas colhiam os milhos em seus quintais, nas fazendas ou nos terrenos desocupados da cidade. As espigas eram bonitas, as colheitas fartas e as promessas de sabores eram irresistíveis.
Além da certeza de comer as espigas bem quentinhas com sal, queijo ou manteiga no fim da tarde, havia o prazer de ver as avós, as mães e as tias, diligentes, a fazer a pamonha e o 'mingau' (que é como se chama o curau em Minas Gerais); os quais também seriam devorados com mais prazer ainda. ...
Eram utilizados litros e mais litros de leite vindos da fazenda. Dava muito trabalho. Ralar o milho, coar, embrulhar as pamonhas... Deixar o curau esfriar, jogar a canela por cima. O aviso para não comer quente porque dava dor de barriga...
Era um ritual; um ritual que se perdeu no tempo, assim como se perderam esses cheiros e sabores da infância. Não que hoje não existam mais essas coisas; posso comprar milhos, pamonhas e mingaus (ou 'curau' na língua dos paulistas)na feira toda a semana.
O que não posso comprar é a solução para toda essa saudade que bate forte, aqui, bem dentro de mim. Saudade que faz encher a boca e os olhos de água.
.

Mara Senna

Clarice - Mara Senna

Clarice

Perdi a hora da estrela.
Enrolo-me nas cobertas,
choro,
grito abafado.
Quando enfim me levanto,
tenho um ar meio duro.
É que tenho que prosseguir
comendo
a minha maçã
no escuro.

Mara Senna

em homenagem ao dia de Clarice - 10 de dezembro

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Banho de chuva - Mara Senna

Banho de Chuva

Fazia tempo que eu não sabia mais o que era tomar um bom banho de chuva.
Depois deste dia calorento da minha cidade, acabo de relembrar essa deliciosa sensação. 
Passei de espectadora a protagonista dessa cena magistral que é a de uma pessoa se encharcando na chuva.
Deixei de ver apenas dois limpadores de pára-brisas entediantes desembaçando a minha visão, pessoas correndo à frente do meu carro e passei a sentir todos os efeitos especiais de alguém que é apanhado de surpresa pela famoso 'pé d'agua'.
 Na verdade, já havia chovido antes e já havia parado. Por isso, depois de sair da missa das seis, resolvi cair na tentação de ir, a pé, comprar um maravilhoso bolo de fubá com queijo. Quer coisa melhor para um tempo de chuva do que bolo de fubá com café passado na hora? Quem é mineiro sabe...
Foi aí que a danada da chuva me pegou, com bolo na mão e tudo... E eu, sem ter para onde correr, resolvi não correr. E fui andando calmamente debaixo de chuva de vestido, sandália e cabelos recém-lavados. Confesso que foi muito bom, sensação de alma lavada. Entrei no meu carro parado a alguns quarteirões dali, pingando felicidade, daquelas de quem fez uma travessura que queria fazer há muito tempo.
Ainda tive ânimo, mesmo encharcada, de parar no supermercado logo à frente e fazer umas comprinhas.
E foi lá que eu fechei, com chave de ouro, a minha aventura pluvial, quando o mocinho que empacotava as compras olhou para mim e disse: 'Dona, a senhora tomou chuva? Será que estragou a chapinha?' Bom demais...
Mara Senna

Companhia - Mara Senna

Minha maltês fica aqui ao meu lado enquanto escrevo.
Sua presença é silenciosa, afetuosa, gratuita e respeitosa. De vez em quando me olha com seus grandes olhos de jabuticaba como se dissesse: estou aqui, caso precise de mim. Mas, se o tempo fecha, se a chuva ameaça, é ela quem me pede colo e proteção, sem vergonha de demonstrar fraqueza; morre de medo de tempestades. Passa de guardiã a protegida, em um pulo.
Tento aprender esta sua capacidade de estar junto sem invadir, de amar incondicionalmente, de não ter vergonha de demonstrar o medo, de saber acolher e ser acolhida. Quem tem um animal, tem lições diárias de ternura.
E o que fizemos da nossa?

Mara Senna

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Rabindranath Tagore


Que a minha prece seja,
não para ser protegido dos perigos,
mas para não ter medo de enfrentá-los.

Que a minha prece seja,
não para acalmar a dor,
mas para que o coração a conquiste.

Permita que na batalha da vida
não procure aliados,
mas as minhas próprias forças.

Permita que não implore no meu medo,
ansioso por ser salvo,
mas que aguarde a paciência para
conquistar a minha liberdade.

Rabindranath Tagore

domingo, 4 de dezembro de 2011

Roupa de Domingo - Mara Senna

Roupa de Domingo

Minha roupa de domingo
é um espírito aberto e desnudo,
o corpo descoberto
e o pensamento despido de quase tudo.

Mara Senna

sábado, 3 de dezembro de 2011

Possibilidades - Wislawa Szymborka

POSSIBILIDADES

Prefiro o cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos sobre o Warta.
Prefiro Dickens a Dostoiévski.
Prefiro-me gostando das pessoas
do que amando a humanidade.
Prefiro ter agulha e linha à mão.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não achar
que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar sobre outra coisa com os médicos.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não escrevê-los.
Prefiro, no amor, os aniversários não marcados,
para celebrá-los todos os dias.
Prefiro os moralistas
que nada me prometem.
Prefiro a bondade astuta à confiante demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos conquistadores.
Prefiro guardar certa reserva.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de Grimm às manchetes dos jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem folhas.
Prefiro os cães sem a cauda cortada.
Prefiro os olhos claros porque os tenho escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que não mencionei aqui
a muitas outras também não mencionadas.
Prefiro os zeros soltos
do que postos em fila para formar cifras.
Prefiro o tempo dos insetos ao das estrelas.
Prefiro bater na madeira.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda e quando.
Prefiro ponderar a própria possibilidade
de ser ter sua razão.


Wislawa Szymborka,
in Poemas,
tradução de Regina Przybycien, Companhia das Letras;
extraído do blog de Roseana Murrray

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Tecendo a Manhã - João Cabral de Melo Neto -


Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Poemas de Dezembro - Drummond



"Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção."

Carlos Drummond de Andrade
(Dezembro de 1968)


domingo, 27 de novembro de 2011

Mia Couto

foto: Carmen Fanganiello

"Se chorasse agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos."

Mia Couto

Escritores - A hora da união - A.P. Quartim de Moraes

Texto excelente sobre a situação do escritor brasileiro por A.P. Quartim de Moraes em O Estadão
lhttp://www.estadao.com.br/noticias/geral,escritores-a-hora-da-uniao,803269,0.htm

Os cerca de 400 escritores de todo o País que participaram do Congresso Brasileiro de Escritores promovido em Ribeirão Preto, de 12 a 15 de novembro, pela União Brasileira de Escritores (UBE), certamente regressaram para casa felizes com o clima de camaradagem que reinou nos quatro dias do evento e animados com os debates que dominaram as dezenas de palestras, oficinas e mesas-redondas realizadas ao longo da variada programação. Foi um primeiro passo de inegável importância no projeto da UBE de resgatar as melhores tradições de combatividade dos escritores brasileiros na defesa de seus interesses e na luta cada vez mais árdua por espaço para a literatura brasileira no mercado editorial.
Considerado de uma perspectiva mais ampla e distanciada, porém, o congresso de Ribeirão Preto revela dramaticamente a enorme distância que ainda precisa ser percorrida para que a UBE chegue perto da meta colocada por sua atual diretoria: tornar-se a entidade efetivamente representativa dos escritores brasileiros, com a força e o prestígio políticos indispensáveis para enfrentar os enormes desafios que tem pela frente. O encontro deixa um saldo de três pontos negativos importantes: foi ignorado, com poucas e honrosas exceções, pelos escritores de maior renome e prestígio no panorama literário brasileiro; foi solenemente ignorado também, e aí sem exceções, pelos grandes veículos de comunicação; e, dentro da mesma lógica, minguaram os patrocinadores.
Estiveram em Ribeirão Preto e participaram ativamente da programação cerca de 20 escritores de reconhecida expressão nacional, além dos presidentes da Academia Paulista de Letras (APL), da Câmara Brasileira do Livro (CBL), do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu), mais o titular da Diretoria do Livro e Leitura do Ministério da Cultura (MinC). Não é pouco. Mas está longe de ter sido suficiente para compensar o enorme esforço que um grupo de abnegados diretores da UBE despendeu durante mais de um ano para realizar, 29 anos depois do segundo, o terceiro congresso nacional da categoria.
Não se pode dizer que esse resultado tenha sido surpreendente. Para compreendê-lo, creio, é necessário entender, antes de mais nada, que a UBE tem vivido, ao longo de muitos anos, uma certa crise de identidade, que, aliás, já foi diagnosticada por muitos de seus atuais dirigentes. Sem desmerecer o trabalho de diretorias anteriores, comandadas por personalidades ilustres e dedicadas do meio literário, até agora a UBE jamais conseguiu assumir de fato o papel político que lhe cabe. Às vezes ela parece não se ter dado conta de que para reunir escritores no chá das 5 já existem a Academia Brasileira de Letras (ABL) e suas congêneres regionais.
O mundo do livro está repleto de entidades representativas, dentre as quais despontam a CBL, o Snel, a Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros) e a Associação Nacional de Livrarias (ANL), além de muitas entidades regionais, num universo de quase uma centena de siglas. Todas empenhadas em representar e defender os interesses do negócio do livro. E esses interesses, na atual conjuntura, em que a razão de mercado predomina sobre a valorização dos conteúdos, quase nunca coincidem com os dos escritores, pelo menos daqueles que veem no ofício de escrever livros a expressão de uma arte, e não apenas um meio de fazer dinheiro.
Uma evidência dessa discrepância é que hoje o mercado editorial brasileiro abre muito pouco espaço para a literatura brasileira - e investe nela menos ainda. Quem duvidar que tente encontrar, nas listas de livros mais vendidos, obras de ficção de autores brasileiros que não sejam celebridades midiáticas, ídolos musicais ou fenômenos internéticos. Assim mesmo, esses aparecem muito excepcionalmente. Os best-sellers de ficção são, quase invariavelmente, obras estrangeiras, nas quais as editoras comerciais investem centenas de milhares de dólares de adiantamento de direitos autorais, mais outro tanto em grandes tiragens e em promoção midiática e comercial.
Só uma união brasileira de escritores politicamente forte e influente, capaz de atuar com eficiência junto aos poderes públicos e ao próprio negócio editorial, terá condições de representar com eficácia os verdadeiros interesses dos escritores - e me refiro, em particular, aos autores de literatura ficcional e ensaística. Mas para isso é necessário que os próprios escritores, inclusive e principalmente aqueles que de alguma maneira já conquistaram o seu espaço, se disponham a pôr seu próprio prestígio a serviço da literatura brasileira, não apenas como artistas, mas como cidadãos. A escrita é um exercício solitário, "mas o escritor não precisa estar isolado", como apela a UBE no site do congresso de Ribeirão Preto. Mais do que não precisar, não deve.
Mas o fato é que muitos escritores prestigiosos e laureados, beneficiários de alguma intimidade com os contatos na mídia, requisitados pelo circuito dos eventos literários que lhes dão visibilidade, preferem se isolar na zona de conforto representada pelo privilégio de participar desse círculo restrito e tendem a ignorar a realidade perversa que os cerca: todos, sem exceção, vendem muito poucos livros (por isso jamais entram nas listas de best-sellers). E é assim porque é como o big business editorial quer que seja. Para atenuar isso - mudar é improvável - os escritores precisam agir politicamente.
Apesar das enormes dificuldades, a UBE pretende transformar o congresso de escritores em evento bianual. Dificilmente terá êxito se continuar sendo ignorada pela mídia, pelos patrocinadores e, principalmente, pelos próprios escritores.

JORNALISTA E EDITOR
E-MAIL: APQUARTIM@DUALTEC.COM.BR

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Nuno Júdice


Um outro Poema de Amor

No fundo, as relações entre mim e ti
cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite.

Nuno Júdice,
in "O Movimento do Mundo"

sábado, 19 de novembro de 2011

Sophia de Melo Breyner Andresen

foto: Carmen Fanganiello

"...Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas."

Sophia de Melo Breyner Andresen

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Congresso da UBE foi realizado em Ribeirão Preto

Estou reproduzindo aqui o artigo de Régis Martins para o Jornal A CIDADE, versão on line, que copiei do blog da amiga Regina Baptista
Congresso de escritores termina nesta terça-feira (15/11) em Ribeirão
Palestras de Frei Betto e Affonso Romano de Sant’Anna tiveram público recorde na tarde desta segunda-feira
Público acompanha a palestra de Affonso Romano de Sant’Anna, no Congresso da UBE
Ao contrário da Fliporto (Feira Literária de Olinda), em que polêmicas políticas conseguiram desviar o foco da literatura, o 3º Congresso da União Brasileira dos Escritores, que termina nesta terça-feira (15) em Ribeirão Preto, correu na mais perfeita harmonia.
E o balanço parcial parece ser de otimismo quanto ao futuro do livro e da profissão de escritor no Brasil. Pelo menos é o que garante o escritor Menalton Braff, diretor de Integração Nacional da UBE. "Raramente Ribeirão Preto assistiu a discussões com esse nível como agora. Algo que foi muito além de nossas expectativas", diz.
Menalton não tem ainda o número de participantes do evento, mas afirma que todas as atividades que ocorreram nestes quatro dias tiveram um público muito bom.
Em palestras de ‘estrelas’ como Frei Betto e o poeta Affonso Romano de Sant’Anna, ambas realizadas nesta segunda-feira (14), muitas pessoas ficaram de fora, tamanha a procura. "Affonso fez uma palestra sensacional, Falou sobre a leitura no mundo. Os vários tipos de analfabetismo e os vários tipos de leitores. Foi muito aplaudido", ressalta Menalton.
Para ele, a participação maciça de escritores de todo o país inscritos nas várias atividades do congresso comprova o interesse das pessoas em se atualizar e discutir temas oportunos sobre o ato de escrever. "A tônica do Congresso é acabar com o isolamento do escritor", afirma.
Núcleos
Não por acaso, Menalton coordenou nesta segunda-feira uma conferência que tratava da descentralização das atividades da UBE. Atualmente, explica o escritor, os núcleos da entidade espalhados por todo o país desenvolvem atividades literárias que podem ser divulgadas pela internet por meio de blogs. "Isso tem motivado para que os escritores sejam sujeitos culturais em suas cidades. Com isso, queremos que os acontecimentos de qualquer região tenha repercussão nacional", diz. Essa rede interligada vai de encontro com o tema do 3º Congresso: "A escrita é um ato isolado. Mas o escritor não precisa estar isolado".
Nesta terça-feira vai ser divulgada uma espécie de "Carta de Ribeirão Preto", que vai apontar os temas mais discutidos no evento e as reivindicações mais relevantes. "O congresso trouxe para Ribeirão, tudo o que ocorre no país em termos de literatura. Isso foi muito importante para a cidade", comenta.
Escritores de renome se reuniram na Uniseb/Coc desde o último sábado para debater temas como direito autoral, o relacionamento entre autores e editoras e o papel do governo no fomento da cultura. Entre os escritores presentes, além de Affonso Romano e Frei Betto, nomes como Betty Milan, Pedro Bandeira, Gabriel Chalita, Deonísio da Silva, Mouzar Benedito e Fernado Morais.
O último encontro foi realizado em São Paulo, em 1985. O professor Antonio Candido é o único remanescente dos dois primeiros eventos - o primeiro foi em 1945. "Eu participei do evento de 1985 e posso te dizer que o entusiasmo hoje é bem maior", garante Menalton.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Previsão do tempo

Previsão do Tempo

Previsão do tempo para hoje:
dia bom para aproximações e aconchegos
dia bom para acalentar saudades
dia propício para deitar no colo da chuva
e sonhar...
 Deixo aqui os versos de Ana Cristina César
para quem quiser levar:
"Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar."

Mara Senna

sábado, 12 de novembro de 2011

Mara Senna


Noite de
chuva
colcha
achonchego
cochilo.
A rua chama,
mas tão boa a cama!

Mara Senna

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Hilda Hilst


Não me procures ali
Onde os vivos visitam
Os chamados mortos.
Procura-me
Dentro das grandes águas
Nas praças
Num fogo coração
Entre cavalos, cães,
Nos arrozais, no arroio
Ou junto aos pássaros
Ou espelhada
Num outro alguém,
Subindo um duro caminho
Pedra, semente, sal
Passos da vida. Procura-me ali.
Viva.

 Hilda Hilst

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dia D de Drummond

Hoje faz 109 anos do nascimento de Carlos Drummond de Andrade

"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua."

Drummond

E outubro se vai...

"(...)
entro nos corredores de outubro para
encontrar um abraço nos teus olhos,
este dia será sempre hoje na memória.''

José Luís Peixoto, in A Casa, A Escuridão

domingo, 30 de outubro de 2011

Caio Fernando Abreu.

“E me dá uma saudade irracional de você. Uma vontade de chegar perto, de só chegar perto, te olhar sem dizer nada, talvez recitar livros, quem sabe só olhar estrelas… dizer que te considero - pode ser por mais um mês, por mais um ano, ou quem sabe por uma vida - e que hoje, só por hoje ou a partir de hoje (de ontem, de sempre e de nunca), é sincero.”

Caio Fernando Abreu.

Fisionomia - Ana Cristina César

Fisionomia

Não é mentira
é outra
a dor que dói
em mim
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro
do objeto
em foco
a intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outra
outra a dor que dói.

Ana Cristina Cesar

(1952-1983)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Prêmio Sesc de Poesias Carlos Drummond de Andrade

Os selecionados dos prêmios literários do SESC - DF 2011 foram divulgados e mais uma vez estou entre eles com o poema inédito "Estrada'.

Nesta edição, o SESC recebeu 511 inscrições de todo o País, sendo 179 para a categoria contos, 102 para contos infantis e 230 para poesia. Além da premiação em dinheiro para os três primeiros colocados em cada categoria, serão produzidas três obras com os textos dos 35 selecionados. Mais uma antologia do SESC da qual tenho a grande honra de participar.
Assim que puder, divulgo o poema aqui.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Dia do Poeta - 20 de Outubro


Sina de poeta

Eu queria escrever um romance,
mas nunca acho o tema;
de dentro de mim, rasgado,
sai mais um poema.
Quem me dera escrever longa prosa,
mas eu, na minha agonia,
escrevo aos borbotões,
em forma de poesia.

Mara Senna
in Luas Novas e Antigas

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Reticências - Mara Senna


Reticências

Quando era criança,
eu sempre colocava
mais de três pontinhos
nas reticências.
Foi inútil...
Tudo passou do mesmo jeito.

Mara Senna
in Luas Novas e Antigas

Hilda Hilst



"E no entanto refaço minhas asas a cada dia, invento amor como as crianças inventam alegria."

Hilda Hilst

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Epílogo - Mara Senna

Epílogo

Eu nem queria escrever mais esta noite
mas saí lá fora e vi a lua cheia.
Ficou tudo tão claro...
Fiquei de um jeito
que só a palavra me aliviou.
Agora sim, por escrito,
durmo acalentada.
De vez em quando, soltando um suspiro.


Mara Senna
in Luas Novas e Antigas

Não basta abrir a janela - Alberto Caeiro

Foto: Carmen Fanganiello

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

Alberto Caeiro
(Fernando Pessoa )

sábado, 8 de outubro de 2011

Mia Couto vencedor do Prêmio Eduardo Lourenço 2011

O escritor moçambicano Mia Couto é o vencedor da sétima edição do Prêmio Eduardo Lourenço, no valor de 10 mil euros, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI).
A decisão foi comunicada por João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, no final de uma reunião do júri, a que presidiu, realizada hoje nas instalações do CEI, naquela cidade.
Instituído em 2004, o prémio anual, que tem o nome do ensaísta Eduardo Lourenço, mentor e presidente honorífico do CEI, destina-se a galardoar personalidades ou instituições, portuguesas ou espanholas, «com intervenção relevante no âmbito da cooperação e da cultura ibérica».
Desta vez, segundo o presidente do júri, foi atribuído a Mia Couto, escritor que «alargou os horizontes da língua portuguesa e da cultura ibérica».
João Gabriel Silva disse à agência Lusa que a distinção foi entregue ao escritor Moçambicano «por unanimidade e aclamação», num conjunto de 15 concorrentes, pela importância que a sua obra representa «para o espaço ibérico».
O presidente do júri referiu que, pela primeira vez, o Prémio Eduardo Lourenço «sai da Ibéria, indo até ao Índico», dado que Mia Couto nasceu e vive em Moçambique.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O Prêmio Nobel de Literatura 2011 é de um poeta!

Tomas Transtörme,  poeta sueco, é o Nobel de Literatura 2011.
A Biblioteca Nacional foi a única que já publicou poema de Tomas TranstörmE no Brasil
A tradução de .“Poemas haikai”foi publicada em 2006, na Revista Poesia Sempre, número 25, só com trabalhos da Suécia. A tradução é de Marta Manhães de Andrade.
A obra traz uma seleção de poetas suecos. Tomas é uma dos mais festejados do seu país. Seu trabalho, considerado por muitos surrealista, traz os mistérios da mente humana e sua obra se destaca entre as mais importantes desde a 2ª Guerra Mundial. Mesmos após um derrame, que o deixou parcialmente paralisado e sem conseguir falar, em 1990, seguiu produzindo e em 2004 publicou um livro de poemas.
Há anos encabeça a lista dos favoritos para ao Nobel. E agora, aos 80 anos, esse escritor nascido em Estocolmo confirma expectativa de suecos e fãs da sua obra. Ao receber o anúncio do nome de Tomas Transtörmer como Nobel de Literatura, a pequena plateia que acompanhava a cerimônia cidade se comoveu.
Leia “Poemas haikai”, de autoria de Tomas Transtörmer:

Poemas haikai
Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda a música

O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.

Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões

Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas
Logo logo tudo é sombra.

As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.

Fortalezas medievais,
cidade desconhecida, esfinges frias,
arenas vazias.

As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.

e a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.

Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão

Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.

Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas silentes.
O mar gelado.”

Tomas Transtörmer

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Insônia - Mara Senna

Insônia

Eu sofro todas as noites
porque tenho um coração que não dorme.
Eu tenho a insônia da memória,
perdida nas dobras do meu lençol.
Meu mundo é triste:
fala, anda, pensa, come.
Mas, na verdade, é um mundo insano
e passa fome.

Mara Senna
in Luas Novas e Antigas

sábado, 1 de outubro de 2011

Paulo Leminski

Atraso pontual

Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relogio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vêm sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?

Paulo Leminski

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mário Quintana

Boas Maneiras

Os anjos não dão os ombros, não;
quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas.

Mário Quintana

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sedução - Mara Senna


Sedução

Ontem, quando vinha pela estrada,
pareceu-me que os flamboyants
vestidos de vermelho
ofereciam-se a mim, voluptuosos.
Os ipês, já quase nus,
desavergonhados,
estendiam-me seus tapetes de florada.
Senti-me lisonjeada...
Ao chegar ao meu portão,
o jasmineiro lançou-me perfumes lascivos,
e a estrelitza,
que nunca havia dado flores,
abriu-se sensual,
revelando todas as suas cores.
Os antúrios tinham ares de desvarios,
sem falar nos lírios, perdidos em sonhar.
As roseiras estavam em festa, encarnadas,
e a flor azul miúda, da qual não sei o nome,
também rebentava
em pequeninos gozos de safira.
Abri meus braços,
completamente entregue.
Fui seduzida pela Primavera.

Mara Senna

poema publicado em Luas Novas e Antigas e na antologia Ave Palavra!