Agradecimentos

Último dia do ano é tempo de agradecer, então agradeço a cada de um de vocês, amigos e leitores, que durante todo esse ano curtiram, comentaram, compartilharam, incentivaram, opinaram, enfim, partilharam comigo este meu ofício de poeta. Espero que em 2014 possamos continuar com muita poesia em nossas vidas.
Um feliz e poético 2014 a todos!
Abraços
 

Mara Senna

 

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Supreendente

Surpreendente

 

Quando chega o final do ano,

tem algo que não deixa

de ser engraçado:

ninguém quer

que o futuro chegue

com a mesma cara do passado.

Mas se de repente

ele chega surpreendente,

fora do combinado,

coitado!

Logo querem que ele vire
passado,
mal aproveitam o presente.

 E passam a sonhar,

de novo,

 com um futuro diferente...

Mara Senna

 

Imagem: Suely Galli

Sarau ne E.E. Otoniel Mota e Poema Insone

A aluna Emilly da E.E. Otoniel Mota lendo 'Poema Insone' do meu livro Ensaios da Tarde durante o sarau que  aconteceu na biblioteca da escola.

Sinto-me muito gratificada em ver  tanotsjovens que gostam realmente de poesia.

E a escola Otoniel Mota aqui em Ribeirão Preto faz um trabalho maravilhoso de incentivo á leitura e à escrita de poemas com esta moçada.  Todo ano eles fazem releitura deum poeta e é publicada uma antologia que se chama 'Combinando Palavras" Parabéns!

Transcrevo aqui o poema lido pela a aluna.

Poema insone

 

Eu escrevo um poema

para acalentar a noite insone

e alimentar as horas vazias

que choram de fome.

Pelos sonhos não sonhados,

já enrolei sete novelos de lã

dos carneirinhos que conto

até a perder a conta.

A insônia me deixa tonta

e assim, desnorteada,

já teci mais de doze colchas,

com os fios soltos

desta madrugada.

Eu quero um poema

que me faça dormir

e, se não for pedir muito,

sonhar.

 

Mara Senna

Doce idílio

 

Doce idílio

Aí então,
vem a chuva num dia de domingo
deixando a muitos insatisfeitos,
o que já não é o meu caso,
  pois que ando apreciando
o 'dolce far niente',
um leito macio e quente,
e um livro envolvente.
Quero só o tempo que se faz hoje,
esse doce idílio
que acontece aqui dentro de mim.

Mara Senna

Imagem: Catrin Welz Stein

 

Autoexplicação

 

Autoexplicação

 

Que dia bom
para escrever poemas sobre preguiça.
Pena que estou com uma preguiça danada
de escrever...
A preguiça é tão autoexplicativa!

Mara Senna

 

'Poesia para mudar o mundo'

Tenho o prazer de divulgar aqui o recém-lançado e-Book,

'Poesia para mudar o mundo'

 uma valiosa antologia poética da qual participei junto com poetas de todo o Brasil, organizada por Leila Miccolis.http://www.blocosonline.com.br/
Para acessar é só clicar na imagem do mundo que está na página de rosto do site, e então clicar no meu nome. Vale a pena conhecer todos os autores.

 

Manteiga derrretida

Manteiga derretida

Eu ando tão derretida,
que nem manteiga em pão quentinho:
choro sem nem saber porque choro.
Mas chorar sempre tem que ter razão?...
Se nem mesmo a manteiga sabe
porque se derrete no pão...
Quando vê, já aconteceu.
Pois assim,
também ando eu.

Mara Senna
da minha página www.facebook/poetamarasenna

 

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quero convidá-los a visitar e curtir a minha página no Facebook:

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Apareçam por lá Será um prazer!

O dia seguinte de Adélia

 

O dia seguinte de Adélia

E então acontece,
no outro dia,
de Deus me devolver a poesia.
Já não vejo a pedra...
como ontem
eu via.

Mara Senna Publicado na minha página: www.facebook/poetamarasenna 

foto da página: facebook/meia canequinha de sidra doce meio bebida

 

Aprendiz

 

Aprendiz

Desde menina.
eu trazia de cor
os seus poemas de amor,
 mas aprender mesmo
a lição mortal da chama,
os mistérios da duração do infinito,
ah...
só muito mais tarde aprendi
com os meus desencontros.
E com eles fiz (e ainda faço)
cada verso meu.

Mara Senna
  em homenagem aos 100 anos do Poetinha.

Imagem: facebook/só mpb

 

Diagnóstico

Um poeminha para o Dia do Médico:

 

 

Diagnóstico

A moça suspirava horrores,
tinha febre, calafrios, calores...
O médico diagnosticou:
'- O caso é grave.
É amor do tipo febre terçã.
Se não arrancar a raiz hoje,
voltará com força
depois de amanhã.
Mas para arrancar a raiz,
é preciso ciência e cautela:
se eu arrancar com força,
trago junto o coração dela.
Recomendo então dar tempo ao tempo,
que é o melhor dos remédios,
até que venha um novo amor
e com ele uma nova febre.
É que esse é o tipo de vírus
que nunca mais sai do corpo.'

Mara Senna

 

imagem:  Jake Baddeley

 

Bazar

Bazar

 

A poesia ficou muito à vontade

entre tantas delicadezas, mimos,

coisas bonitas, singelezas.

Tudo que é feito com carinho...
irmana-se na mesma natureza.

Mara Senna

Adélia

Adélia

Para Adélia Prado

Morria de medo que descobrissem
que ela sonhava....
Logo ela, uma moça tão direita,
há de ser uma esposa exemplar,
daquelas que não suspiram pelos cantos.
O marido, feliz com seus encantos,
um São José encarnado
(perdoe-me o santo a ousadia de comparar).
Oh, minha Virgem Maria
quanto falta pra te alcançar!

Mara Senna
no livro Luas Novas e Antigas 
Foto: Com Adélia Prado na Fliaraxá

em Araxá - MG em setembro/2013

 

 

Abelha

 

Abelha
Pra fazer o mel da poesia,
eu voo muito
de flor em flor:
do bazar à bienal...
da feira ao festival
da mostra ao recital
da prosa ao parque,
da oficina ao sarau,
da escola ao etecetera e tal,
e volto com muito néctar
pra escrever aqui,
no meu quintal.

Mara Senna
Foto: Carmen Fanganiello

 

Sorte

 

Sorte

 

Eu não temo a sexta-feira 13.

Eu temo é deixar de viver plenamente

 mais um lindo dia de setembro,
só por ser sexta-feira 13.
Em questões de sorte,
para mim todos os dias são bons dias...
e todos os gatos são pardos.

Mara Senna

 

 

 

Eugênio de Andrade

 

Pequena elegia de Setembro

 

 

Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.

 

Eugénio de Andrade

 

Gata na janela

 

A gata na janela
anda cansada
de gente que passa
sem dizer nem 'bom dia'.
Será pressa, pudor,
mesquinharia?
Pura falta de cortesia?
A gata cansada mia:
melhor espiar só poesia.

Mara Senna
Foto minha em Tiradentes, MG

 

Meio Leminski

 

Meio Leminski

Maior do que meu sono,
só o meu sonho.

Mara Senna

Imagem: Andrius Kovelinas

Chuva

 

É tão bom quando a chuva
cai assim
como uma luva.

Mara Senna
Imagem: Catrin Weltz Stein

 

 

A esperança é necessária
para sossegar os nossos 'ais'.
O que seria de nós
se tudo fosse
nunca mais?

 

Mara Senna
Imagem: Will Barnet

 

 

Folga

 

 

Folga

Hoje a poesia mandou dizer
que não está,
mas que amanhã, sem falta,
voltará.

Mara Senna

Foto: Carmen Fanganiello

Recíproca

 

Hoje eu estou para a poesia
e ela está para mim.
Nada como ser correspondida no verso...

Mara Senna
Imagem: Alice Vegrova

Solução

 

Que os ventos de agosto
batam portas mal cerradas,
ou escancarem as que ficaram
entreabertas e esperançadas.
Nada é pior na vida
do que uma coisa mal resolvida...

Mara Senna

Descomplicado

 

Não queiram me complicar:
eu vivo
de pão com manteiga
e café,
muito verso
e muita fé.

Mara Senna

Foto: 'Meia canequinha de sidra doce meio bebida'

 

Feito cão e gato

Qualquer maledicência
não passa de boato...
Eles se amam
feito cão e gato.

Mara Senna

 

Latência

 

Latência

 

Que me perdoem a ausência,
mas de tanto frio,
hibernei.
Tenham um pouco de paciência...
Estou em estado de latência,
e voltarei.

Mara Senna

Imagem: Sylvie Tournangeau

 

Oferta

 

Oferta

Dias frios dão-me vontade
de escrever
romances densos,
contos nebulosos,porém continuo escrevendo
meus poemas teimosos.
Mas com eles me aqueço,
e os ofereço
a quem os aceitar.

Mara Senna 

Imagem: Catrin Welt Stein

 

Gostar

 

 Gostar

 

Dá-me esse gostar dos cachorrinhos
que a tudo perdoam e esquecem,
essa doçura dos bichinhos,
essa ternura que até dói...
E quando partem
nos deixam partidos,

bobos, perdidos
da falta desse gostar.

Mara Senna 

 

Retorno

 

Retorno

 

Casa cheia de lembranças.
Eu não vivo nesta casa,
mas habito suas lembranças.
E quando volto,
elas me habitam,
sem dó.

Mara Senna

 

Imagem: Facebook - Meia canequinha de sidra doce meio bebida

Com licença poética demais da conta

 

Com licença poética demais da conta

Quando eu nasci um anjinho barroco,
daqueles do Aleijadinho
me disse:
'vais ser mineira e poeta,

 mas antes serás Tiradentes,
até que estejas pronta
para carregar a bandeira da poesia.'
Despenquei das alturas de Minas,
atravessei a ponte do Rio Grande,
mas trouxe comigo esse sotaque
e uma nesga de sol nascente
para que me lembre de que vim
do planalto dos Araxás,
lugar de onde primeiro se avista o sol.
Casei-me com um mineiro bom,
e hora sim, hora não,
conheci a dor das mulheres sem-parto.
Continuo achando o Rio de Janeiro
uma beleza,
mas cumpro a sina dos canaviais.
Meus livros são minha linhagem,
a minha escrita, o meu reino.
Fora isso, não quero fundar mais nada.
Ser mineira e ser poeta
para mim,
não é maldição.
É ser ao mesmo tempo
gauche e droite.
É ser duplamente abençoada.
Eu sou.

Mara Senna 

livre adaptação, com todo respeito,

do poema 'Com Licença Poética' de Adélia Prado.

 

 

Parafraseando

 

Mar, mar, vasto mar...
se meu nome não tivesse um ‘a’
seria afinal a minha solução?

Mara Senna
Foto: Carlos Ivan

 

 

Pandora

 

Pandora

No cozimento da vida,
todos os males se evaporam,
todos os bens são consumidos.
A esperança fica no fundo da panela,
feito uma rapa de arroz bem cozido.

Mara Senna 

in Luas Novas e Antigas

 Imagem da Página do Facebook

 'Meia canequinha de sidra doce meio bebida

Benza Deus

Feito assim 'no repente', para o meu amigo poeta
Nilton Chiaretti

Benza Deus

Benza Deus
as suas porteiras,
a morena na janela.
Benza Deus trinco e tramela
e a natureza tagarela
que conta coisas ao poeta.
Benza Deus o quase-lugar
onde ele queria estar.
Benza Deus
sol quente e poeira
e a moça namoradeira.
Benza Deus essa saudade
que o poeta sente na cidade,
das coisas boas da roça,
dos bichos fazendo troça.
Benza Deus chuva e chuvisco,
o poeta e os seus rabiscos.
Benza Deus
e a Virgem Maria,
a poesia nossa de cada dia.

Mara Senna