terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Poema Simples para 2015





Foto: Poema Simples

Em 2013 
Eu quero mais açúcar (sem culpa)
e mais afeto, direto.
Comer bolo de fubá quentinho na cozinha.
Reunir amigas para rir e tomar café.
Eu quero comer amoras e jabuticabas no pé,
ser tal qual um passarinho.
Quero continuar a escrever poesia
e que ela me escreva o tempo todo.
Não quero nada demais;
quero ser o mais simples que eu for capaz,
esteja eu onde estiver.
Quero quem eu tenho, 
mas também aceito quem mais vier.
Eu quero poder olhar nos olhos
sem ter que desviar o olhar.
Eu quero que me entendam
sem eu precisar explicar.
Eu quero poder abraçar
sem constrangimento.
Que eu não jogue fora 
nenhum momento.
Que eu possa cantar 
sem perder o tom.
E perdoe quem
não consegue enxergar
o meu lado bom.
 Quero proteção contra a maldade,
e gente que admire, sem invejar.
Não quero nada de ninguém,
pois tudo que é meu
sempre veio e ainda vem.
No mais, 
peço muita saúde e paz
para cada um de nós,
Amém!

Mara Senna.

Imagem: Photography

Poema Simples

Em 2013
Eu quero mais açúcar (sem culpa)
e mais afeto, direto.
Comer bolo de fubá quentinho na cozinha.

Reunir amigas para rir e tomar café.
Eu quero comer amoras e jabuticabas no pé,
ser tal qual um passarinho.
Quero continuar a escrever poesia
e que ela me escreva o tempo todo.
Não quero nada demais;
quero ser o mais simples que eu for capaz,
esteja eu onde estiver.
Quero quem eu tenho,
mas também aceito quem mais vier.
Eu quero poder olhar nos olhos
sem ter que desviar o olhar.
Eu quero que me entendam
sem eu precisar explicar.
Eu quero poder abraçar
sem constrangimento.
Que eu não jogue fora
nenhum momento.
Que eu possa cantar
sem perder o tom.
E perdoe quem
não consegue enxergar
o meu lado bom.
Quero proteção contra a maldade,
e gente que admire, sem invejar.
Não quero nada de ninguém,
pois tudo que é meu
sempre veio e ainda vem.
No mais,
peço muita saúde e paz
para cada um de nós,
Amém!

Mara Senna


 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Faces e flashes


Foto: Faces

Em época repleta de faces sorridentes,
por todos os lados,
percebo, surpresa, que de toda aquela nossa alegria, 
não temos sequer uma fotografia!
Será que naquele tempo,
éramos assim tão felizes,
a ponto de nem nos lembrarmos do ato
de deixar o amor registrado em um retrato?
Ou quem sabe foi tal a empolgação,
que a paixão ficou só nos negativos,
e nem levamos para a revelação?
Ou, até mesmo, quem sabe,
o amor não era assim tão firme,
e, sem querer, queimamos o filme?
Há mais mistérios nas antigas fotografias
do que possa explicar
a nossa vã tecnologia.

Mara Senna
 
Faces e flashes

Em época repleta de faces sorridentes,
por todos os lados,
percebo, surpresa, que de toda aquela nossa alegria,
não temos sequer uma fotografia!...
Será que naquele tempo,
éramos assim tão felizes,
a ponto de nem nos lembrarmos do ato
de deixar o amor registrado em um retrato?
Ou quem sabe foi tal a empolgação,
que a paixão ficou só nos negativos,
e nem levamos para a revelação?
Ou, até mesmo, quem sabe,
o amor não era assim tão firme,
e, sem querer, queimamos o filme?
Há mais mistérios nas antigas fotografias
do que possa explicar
a nossa vã tecnologia.

Mara Senna

 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Ressurreicão

 


Foto: Muita gente pode achar
que eu estou fazendo fita,
mas de vez em quando
eu morro,
e a poesia me ressuscita.

Mara Senna

Imagem: Kate Pugsley
 


Muita gente pode achar
que eu estou fazendo fita,
mas, de vez em quando,
eu morro de fato,
e a poesia me ressuscita.

 Mara Senna

Imagem: Kate Pugsley



 

domingo, 30 de novembro de 2014

Sarau na Sala De Leitura Cora Coralina da E..E. Tomas Alberto Whatelly

 Sarau na Escola Estadual Tomas Alberto Whatelly
 

Momentos de grande alegria e de confraternização poética:  assim foi o I Sarau da Sala de Leitura Cora Coralina da E.E.Tomas Alberto Whatelly. Alunos e professores de todas as áreas (Literatura, Português, Inglês, Física, Matemática - que legal!) declamaram tanto poemas de sua autoria, quanto poemas de autores como Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira, Casemiro de Abreu , Cora Coralina, Leminski, e ainda fizeram-me uma linda homenagem declamando meus poemas. Também ganhei flores e uma surpresa de ver meus poemas ilustrados com arte e projetados no telão. Tudo  muito emocionante.
A escola tem a tradição de um concurso interno de Poesia que está na 10a. Edição, e a vencedora desse ano leu o seu poema premiado. Tinha até ex-aluno que levou poemas de sua autoria, mostrando que a semente plantada frutificou.
Parabéns a todos os envolvidos nessa linda festa!  
Obrigada a todos os professores, aos coordenadores, aos alunos e à direção da escola pelas lindas homenagens, pelo carinho, pela calorosa recepção nessa minha segunda visita à Sala de Leitura Cora Coralina! Agradeço de modo especial ao Professor Márcio Tubaldini Lisboa pelo convite e às professoras coordenadoras da sala de leitura, Adriana Nogueira de Mello e  Karina Teix, pelo carinho.
Mais fotos em https://www.facebook.com/poetamarasenna/posts/739839439438476
 
 
 

 
Com o o coordenador André Augusto Maia, super atencioso e dedicado. Obrigada!
Com um exemplar do jornal da TAW, super caprichado, ao lado do coordenador e fotógrafo Marcelo Brigato

Sarau no Colégio Monteiro Lobato em Araxá - MG

Cenas de um sarau em Araxá - Colégio Monteiro Lobato.
 
Chovia a cântaros, mas os escritores Líria Porto ,Heleno Álvares,  Rodrigo Feres e eu estávamos a postos para o sarau do Colégio Monteiro Lobato em Araxá - MG, recepcionados pelo professor e escritor Rafael Nolli,,organizador do evento. A chuva só ajudou a fertilizar ainda mais a semente da poesia: se no começo houve uma certa timidez dos alunos, logo foram surgindo espontaneamente, leitores e leitoras que se identificavam com os poemas. A poesia cumpriu o seu papel como estrela da festa e contagiou a todos. Além disso, havia música maravilhosa na voz surpreendente da aluna Marina Leite, que talento!, acompanhada do violão do Gabri,el. Quero agradecer à diretora Maria Dolores Caixeta amiga e colega da época do colégio, pelo convite e ao Rafael Nolli pela acolhida. Parabéns pela iniciativa do sarau que já virou tradição. Foi um prazer para mim participar desse sarau com gosto de terra natal, em companhias tão agradáveis.
Veja mais fotos em : https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/897667163586121
Foto de Mara Senna.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Publicação no jornal da E.E. Thomas Alberto Whately -

Recebi esta linda homenagem da Escola Thomas Alberto Whately. 
Minha gratidão a toda a equipe da Sala de Leitura Cora Coralina que me acolheu tão bem, a todos os professores,  direção, coordenação  e alunos.
 
Publicação no jornal da E.E. Thomas Alberto Whately - é muito carinho para uma pessoa só.#gratidão com Adriana Nogueira de Mello Márcio Tubaldini Lisboa e Karina Tuix André Augusto Maia
 
Foto de Mara Senna.
 
Foto de Mara Senna.

Antologia virtual Poesia para mudar o mundo volume 2

Acaba de sair do forno o e-book do volume 02 da antologia "Poesia para mudar o mundo", e mais uma vez eu tenho a honra de participar a convite de Leila Míccolis. Entre, seja bem-vindo(a)!
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/obrasdigitais/mudarmundo/02/

Aqui vai uma pré-visualização da minha página, mas eu os convido a conhecer também os outros poetas, que são muito bons!
POESIA PARA MUDAR O MUNDO - 2014 - BLOCOS ONLINE
Minha página na Antologia "Poesia para mudar o mundo"- volume 2
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/obrasdigitais/mudarmundo/02/paginas/mara.php
Mara Senna
Mara Senna - Mara Lucia Senna Oliveira Vieira nasceu em Araxá – MG em 06 de maio de 1963. Vive em Ribeirão Preto, SP, há mais de 30 anos. Por formação, é cirurgiã-dentista, mestre em Periodontia pela FORP-USP, mas atualmente dedica-se à literatura. É autora de "Luas Novas e Antigas" (edição da autora, 2009) e de "Ensaios da Tarde" (Editora Coruja, 2012). Participou das antologias poéticas: "Frutos da Terra - Expressões Culturais de Ribeirão Preto" (2009), "Ave, Palavra!" (2009), "10º Concurso de Poesias da Universidade Federal de São João Del-Rei", MG (2010), "Prêmio SESC de Poesia Carlos Drummond de Andrade" - edições 2009, 2010 e 2011 e 2013 e "Poesia para Mudar o Mundo" - 2013. Recebeu o primeiro lugar no I Concurso Literário de Crônicas da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto – ALARP (2009), o terceiro lugar no II Concurso de Crônicas da ALARP (2010) e menção honrosa no Concurso Nacional de Poesias Helena Kolody, Paraná (2010). Em 2013, foi homenageada no projeto Nossa Aldeia da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto. É filiada à União Brasileira dos Escritores (UBE) e membro da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto (ALARP) onde ocupa a cadeira 29. Tem páginas em diversos sites como Blocos Online, Poesia Iberoamericana de Antônio Miranda - Poesia dos Brasis e outros. Publica no blog: eMARAnhados (http://marasenna.blogspot.com) e na página www.facebook.com.br/poetamarasenna
mara.senna06@gmail.com

Paz

A mim nem a ninguém deveria interessar
uma paz comprada.
Paz é fermento que se encontra
na despensa de casa,
e que leveda toda a massa
para fazer o pão.
Não é preciso procurar muito longe,
não.

Agulha

Por mais que eu tente manter
essa noite
a mente quieta,
uma ponta de inquietação
vem, bem sorrateira,
e me espeta.
A cabeça dói,
a poesia insiste.
Porém, nem ela me salva hoje
dessa coisa que lateja na testa
ecoa no peito,
escoa na vida.
Tudo faz parte da mesma dor,
da mesma ferida..
Mara Senna

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Homenagem a Manoel de Barros

Minha homenagem a Manoel de Barros,
poeta maior das delicadezas,
que hoje partiu para o andar de cima
 
.Foto: O passarinho Manoel
voou para o céu
fora da asa.
São Pedro, na entrada, anunciou:
- Entra, Poeta,
estás em casa!

Mara Senna em homenagem a Manoel de Barros, poeta maior das delicadezas, que hoje partiu para o andar de cima.
 
O passarinho Manoel
voou para o céu
fora da asa.
São Pedro, na entrada, anunciou:
- Entra, Poeta,
estás em casa!

Mara Senna
 
 

domingo, 2 de novembro de 2014

Restos - Mara Senna

Restos


A morte não é triste,
os restos é que são.
A morte é viagem para o outro lado.
Os restos ficam na estação.

Mara Senna
em Luas Novas e Antigas

31 de outubro - Dia do Saci

Foto: Folclore

Pra que que procurar tão longe?
Já que é para brincar de `assombrar`,
gosto mais do que temos aqui.
Dá -lhe Negrinho do Pastoreio,
mula-sem-cabeça, Cuca
Curupira e Saci!

Mara Senna
 
Folclore

Pra que que procurar tão longe?
Já que é para brincar de `assombrar`,
gosto mais do que temos aqui.
Dá -lhe Negrinho do Pastoreio,...

mula-sem-cabeça, Cuca
Curupira e Saci!

Mara Senna
 
 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

20 de outubro - Dia do Poeta


20 de outubro - Dia do Poeta
Outubro é cheio de datas que por missão cumprida carinhosamente me "pertencem": 

 Dia do Dentista, Dia do Professor... mas a de hoje tem sabor especial em minha vida, pois se confunde com a minha própria essência. Ser poeta é a minha essência.


A poesia é o meu ofício,
a minha virtude e o meu vício,
o meu fim e o meu início.
Meu recomeço.
Um desejo que não me larga,
um amor que eu não esqueço.
Uma dor comprida,
uma alegria vivida,
uma saudade sentida,
uma palavra libertada.
A poesia em mim é tudo
ou nada.

Mara Senna

Parabéns a todos os poetas!


20 de outubro - Dia do Poeta
Parabéns a todos os amigos poetas!
 

20 de outubro - Dia do Poeta 
Parabéns a todos os amigos poetas!
 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Anjo da Guarda

Foto: Hoje é dia do Anjo da Guarda

Solidão

Estou sozinha, sozinha.
Descubro que o silêncio tem barulhos.
Descubro que a escuridão não é total.
Descubro que não tenho medo,
que acredito em anjo da guarda
(e até sinto o roçar das suas asas!).
Descubro a delicadeza de Deus
em me fazer companhia.

Mara Senna in: Luas Novas e Antigas, 2009
 
02 de outubro - Hoje é dia do Anjo da Guarda

Solidão

Estou sozinha, sozinha.
Descubro que o silêncio tem barulhos....
Descubro que a escuridão não é total.
Descubro que não tenho medo,
que acredito em anjo da guarda
(e até sinto o roçar das suas asas!).
Descubro a delicadeza de Deus
em me fazer companhia.

Mara Senna
in: Luas Novas e Antigas, 2009



 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Poema Lição das Horas

Meu poema  Lição das Horas na página da Câmara Municipal de Ribeirão Preto
https://www.facebook.com/poetamarasenna/posts/860698117283026

Palestra no Otoniel Mota

No dia 23 /09 a palestra sobre Poesia foi para o terceiro ano do Ensino Médio da E. E. Otoniel Mota. O tema: Poesia para quê? - O papel da poesia no cotidiano Fui a convite da Profa. Heloisa Alves a quem agradeço. Estiveram presentes as Prof. Claudia Cantarella e Ana Martini que muito me horaram com a presença e participação. É sempre um prazer muito grande para mim poder falar de Poesia com os jovens.
Vejam fotos no link

Outonal


Em homenagem ao Dia do Idoso. Que todos possamos ter uma boa colheita nessa fase da vida. Plantemos boas sementes desde sempre.

 Foto: Em homenagem ao Dia do Idoso. Que todos possamos ter uma boa colheita nessa fase da vida. Plantemos boas sementes desde sempre.

Outonal

Chegou o tempo da ceifa.
Há frutos de todos os tamanhos;
uns melhores, outros piores,
uns mais doces, outros nem tanto...
O que vi, o que ouvi, o que falei,
O que amei, o que fiz está feito.
O que não fiz não tem mais jeito...
Resta sentar-me à sombra da minha árvore,
saborear o gosto da minha vida,
e serena, agradecer pela colheita.

Mara Senna
in. Luas Novas e Antigas, 2009
Outonal

Chegou o tempo da ceifa.
Há frutos de todos os tamanhos;...
uns melhores, outros piores,
uns mais doces, outros nem tanto...
O que vi, o que ouvi, o que falei,
O que amei, o que fiz está feito.
O que não fiz não tem mais jeito...
Resta sentar-me à sombra da minha árvore,
saborear o gosto da minha vida,
e serena, agradecer pela colheita.

Mara Senna

in. Luas Novas e Antigas, 2009

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O passado


Caros leitores do blog, hoje quero compartilhar com vocês um pouco do meu lado "prosa". Tenho muito carinho por este texto pois foi com ele que ganhei o meu primeiro prêmio literário no I Concurso de Crônicas da Academia de Letras e Artes... de Ribeirão Preto - ALARP
Espero que gostem.

O passado
Ela sonhara tanto com aquele momento que agora, ali, parada em frente ao espelho, mal podia acreditar que realmente o veria de novo.
Foram muitos anos, muitos longos anos! Não, não tinham sido anos de mocidade, quando o tempo parece ser mais generoso e só acrescentar mais graça e beleza ao corpo. Não. Tinham sido anos de maturidade, daqueles em que tudo vai mudando com uma rapidez extraordinária e um ano a mais parece acrescentar séculos ao rosto. Novas rugas, novos cabelos brancos, novas formas no corpo. Era isso que ela pensava enquanto se arrumava para encontrá-lo.
Por que ele não ligou antes? Por que não a procurou quando ela ainda parecia ter um resquício da bela mulher que fora? Não podia negar que por dentro se sentia bem melhor, mas o espelho, ah, o espelho, esse era implacável. Não a refletia por dentro, o insuportável...
Num impulso, pegou a fotografia que tinha dos dois juntos. Não, definitivamente ela não se parecia mais com a foto.
Por um instante, chegou a se arrepender de não ter feito aquela cirurgia plástica, de ter faltado tanto às aulas de ginástica, de não ter se cuidado tão bem quanto poderia. Ah, se ela soubesse que um dia iria encontrá-lo de novo, talvez até tivesse feito tudo isso... Mas, nos últimos tempos, andava de um jeito que se não tinha mais esperanças de um novo amor, muito menos de um antigo amor batendo à sua porta; e que amor!
Desde que começara a escrever romances, só vivia as histórias dos seus livros e dava a elas o rumo que bem entendia. Era a senhora do destino naquelas páginas. Só tinha se esquecido que o seu próprio destino continuava vivo.
Mais uma olhada no espelho. Talvez se puxasse o cabelo um pouco para frente, escondendo ligeiramente o rosto... E aquela blusa, ah, aquela blusa definitivamente não lhe caía bem! Não sabia onde estava com a cabeça quando a adquiriu naquela liquidação. E se usasse os brincos, aqueles que ele lhe dera? Melhor não – pensou - ele ficaria muito seguro de si ao saber que ela ainda os conservava.
Pensou em colocar algo vermelho. Ele adorava quando ela se vestia de vermelho. Olhou no guarda-roupa. Não havia uma só peça dessa cor.
E o perfume? Ainda tinha o vidro do perfume de que ele tanto gostava. Porém, ao abrir o frasco, logo sentiu o odor amargo das fragrâncias que envelhecem. Num relance, entendeu o que tinha acontecido. O caso dos dois era um perfume velho, com data vencida. Não possuía mais o mesmo aroma e não havia como voltar atrás.
Será que aconteceria o mesmo com os beijos, que não teriam mais o mesmo sabor? Com os abraços, que não teriam mais o mesmo calor? Com os olhares, que não teriam mais a mesma paixão? Seriam as mesmas pessoas se reencontrando? As respostas eram tão óbvias: não!
Olhou-se de novo no espelho. O problema não era só o que via. O problema era o que ela não queria enxergar: certas coisas ficam perfeitas na memória. Melhor deixá-las onde estão.
Lentamente foi tirando o sapato, a roupa, a maquiagem. Vestiu um roupão, sentou-se em frente ao computador e começou um novo livro, uma nova história, cheia de frescor.
O passado? Ele que a esperasse para o resto da vida.

Mara Senna
Esse texto recebeu o primeiro lugar no I Concurso de Crônicas da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, em 2009

Imagem da internet: desconheço o autor
Foto: Caros leitores da página, hoje quero compartilhar com vocês um pouco do meu lado "prosa". Tenho muito carinho por este texto pois foi com ele que ganhei o meu primeiro prêmio literário no I Concurso de Crônicas da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto - ALARP
Espero que gostem.

O passado  

Ela sonhara tanto com aquele momento que agora, ali, parada em frente ao espelho, mal podia acreditar que realmente o veria de novo.
Foram muitos anos, muitos longos anos! Não, não tinham sido anos de mocidade, quando o tempo parece ser mais generoso e só acrescentar mais graça e beleza ao corpo. Não. Tinham sido anos de maturidade, daqueles em que tudo vai mudando com uma rapidez extraordinária e um ano a mais parece acrescentar séculos ao rosto. Novas rugas, novos cabelos brancos, novas formas no corpo. Era isso que ela pensava enquanto se arrumava para encontrá-lo. 
Por que ele não ligou antes? Por que não a procurou quando ela ainda parecia ter um resquício da bela mulher que fora? Não podia negar que por dentro se sentia bem melhor, mas o espelho, ah, o espelho, esse era implacável. Não a refletia por dentro, o insuportável...
Num impulso, pegou a fotografia que tinha dos dois juntos. Não, definitivamente ela não se parecia mais com a foto.
Por um instante, chegou a se arrepender de não ter feito aquela cirurgia plástica, de ter faltado tanto às aulas de ginástica, de não ter se cuidado tão bem quanto poderia. Ah, se ela soubesse que um dia iria encontrá-lo de novo, talvez até tivesse feito tudo isso... Mas, nos últimos tempos, andava de um jeito que se não tinha mais esperanças de um novo amor, muito menos de um antigo amor batendo à sua porta; e que amor!
Desde que começara a escrever romances, só vivia as histórias dos seus livros e dava a elas o rumo que bem entendia. Era a senhora do destino naquelas páginas. Só tinha se esquecido que o seu próprio destino continuava vivo.
Mais uma olhada no espelho. Talvez se puxasse o cabelo um pouco para frente, escondendo ligeiramente o rosto... E aquela blusa, ah, aquela blusa definitivamente não lhe caía bem! Não sabia onde estava com a cabeça quando a adquiriu naquela liquidação. E se usasse os brincos, aqueles que ele lhe dera? Melhor não – pensou - ele ficaria muito seguro de si ao saber que ela ainda os conservava.
Pensou em colocar algo vermelho. Ele adorava quando ela se vestia de vermelho. Olhou no guarda-roupa. Não havia uma só peça dessa cor.
E o perfume? Ainda tinha o vidro do perfume de que ele tanto gostava. Porém, ao abrir o frasco, logo sentiu o odor amargo das fragrâncias que envelhecem. Num relance, entendeu o que tinha acontecido. O caso dos dois era um perfume velho, com data vencida. Não possuía mais o mesmo aroma e não havia como voltar atrás. 
Será que aconteceria o mesmo com os beijos, que não teriam mais o mesmo sabor? Com os abraços, que não teriam mais o mesmo calor? Com os olhares, que não teriam mais a mesma paixão? Seriam as mesmas pessoas se reencontrando? As respostas eram tão óbvias: não!
Olhou-se de novo no espelho. O problema não era só o que via. O problema era o que ela não queria enxergar: certas coisas ficam perfeitas na memória. Melhor deixá-las onde estão.
Lentamente foi tirando o sapato, a roupa, a maquiagem.  Vestiu um roupão, sentou-se em frente ao computador e começou um novo livro, uma nova história, cheia de frescor.
O passado? Ele que a esperasse para o resto da vida.

Mara Senna
Esse texto recebeu o primeiro lugar no I Concurso de Crônicas da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, em 2009

Imagem da internet:  desconheço o  autor

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Ipê branco

Foto: Como pipoca,
o ipê branco espouca
bem na porta da minha casa.
Sou  passarinho sem asa,
a contemplar do chão.

Mara Senna
 
Como pipoca,
o ipê branco espouca
bem na porta da minha casa.
Sou passarinho sem asa
a contemplar do chão,
tamanha explosão.

 Mara Senna
 

 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Feira do Livro de Sertãzinho - Convite

Convite:
Amigos, quero convidá-los a participarem nesta sexta, dia 05 de setembro,às 17:30 do ENTARDECER POÉTICO na Feira do Livro de Sertãozinho. Primeiro, serão feitas leituras dramáticas de poemas de Fernando Pessoa por Eliane Ratier e Zeluiz de...Oliveira e em seguida às 18:30 leituras dos poemas do Notícias Poéticas da Eliane Ratier e dos poemas dos meus livros Luas Novas e Antigas e Ensaios da Tarde por Zéluiz e ,Manu Carvalho. atores de Sertãozinho. Vai ser um show! Não percam!
Agradeço de coração ao poeta e ator Zé Luiz de Oliveira presidente da Academia Sertanezina de Lelras. pelo generoso presente. Gratidão.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Acordar Setembro



Acordar setembro
 
Abro a janela, enfim.
Acordo setembro
aqui, dentro de mim.
Visto a roupa dos ipês...
Compenso o cinza
que me deixou abril,
os espinhos de maio,
 as tristezas de junho,
as saudades de julho
e a solidão de agosto.
Tento brotar de novo;
não sei se volto inteira.
Tento brotar de novo;
ainda não sei de que maneira.
Mas tento.

Mara Senna
no livro Ensaios da Tarde, 2012
 Imagem:  Evgeny Mukovnin

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Abundância


 
Abundância

Existe coisa tão intensamente
generosa
quanto um cacho de ipê rosa?

 Mara Senna
Foto: Panoramio
 





Participação no Programa Sexo, Arroz e Internet

A convite de Mara Cabral fui ao programa Sexo, Arroz e Internet debater sobre a quesrão do reconhecimento que muitas vezes só chega após a morte. Muito bom. Confiram.

 http://www.canal20.com.br/programa/sexo-arroz-e-internet/sexo-arroz-e-internet-25-08-14/

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Palestra na E.E.Thomaz Alberto Whately

Café Filosófico com o tema "Poesia no Cotidiano'.

No dia 21/8 ministrei a palestra "Poesia numa hora dessas?" na bela Sala de Leitura Cora Coralina na E.E. Thomaz Alberto Whately, onde fui a convite do Professor Márcio Tubaldini Lisboa.
Fui carinhosamente recebida pelas coordenadoras da Sala, Adriana e Karina, pela direção, professores e, pelos alunos do primeiro colegial, turma atenta e participativa. Adorei.
Confiram as fotos no link:
https://www.facebook.com/poetamarasenna/posts/687408021348285

Ipê amarelo

Foto: Diga-me beija-flor:
se a flor do ipê amarelo
sob um céu azul
não for a explicação da alegria,
qual seria?

Mara Senna
Foto de Lurdinha Kumakura
 
Diga-me beija-flor:
se a flor do ipê amarelo
sob um céu azul
não for a explicação da alegria,
qual seria?

Mara Senna

 Foto de Lurdinha Kumakura