Bem-vindo(a) ao meu blog! Sou Mara Senna. A poesia é o meu ofício, minha virtude e o meu vício, meu fim e meu início.Meu recomeço. Um desejo que não me larga, um amor que eu não esqueço. Uma dor comprida, uma alegria vivida, uma saudade sentida, uma palavra sufocada. A poesia em mim é tudo ou nada.
quinta-feira, 28 de abril de 2016
segunda-feira, 25 de abril de 2016
23 de abril - Dia Mundial do Livro
Devoro-te com os olhos.
Sinto teus cheiros.
Desfolho uma a uma as tuas páginas,
pétalas sépias.
Se te tenho nas mãos, me possuis
Se me prendes, me libertas
com as palavras certas.
E desde o teu começo
renego o teu fim,
pois se em ti me esqueço,
quando findares,
o que será de mim?
Mas, generoso,
recompensas o meu apreço
e te reinventas, faz-te novo,
te eternizas em recomeços.
Sinto teus cheiros.
Desfolho uma a uma as tuas páginas,
pétalas sépias.
Se te tenho nas mãos, me possuis
Se me prendes, me libertas
com as palavras certas.
E desde o teu começo
renego o teu fim,
pois se em ti me esqueço,
quando findares,
o que será de mim?
Mas, generoso,
recompensas o meu apreço
e te reinventas, faz-te novo,
te eternizas em recomeços.
Mara Senna
23 de abril - Dia Mundial do Livro
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Velhas canções
Velhas canções
O rádio do carro toca flashbacks'', músicas diretas do túnel do tempo: temas de novelas, filmes, coisas de outras épocas douradas, ou pelo menos, que hoje, de longe assim me parecem.
Uma a uma eu as reconheço, e canto bem alto, revivendo as letras.
Nessa hora, sou de novo jovem, sou estudante, sou namorada....
Tenho nos lábios os tons da inocência perdida, no corpo, roupas de outras modas, nos olhos maquiagem de 'dancing days`.
Em que momento será que nos transformamos em velhas canções e nem percebemos?
Uma a uma eu as reconheço, e canto bem alto, revivendo as letras.
Nessa hora, sou de novo jovem, sou estudante, sou namorada....
Tenho nos lábios os tons da inocência perdida, no corpo, roupas de outras modas, nos olhos maquiagem de 'dancing days`.
Em que momento será que nos transformamos em velhas canções e nem percebemos?
Mara Senna
Vila Rica
Vila Rica
Neste dia 21 de abril, dia de Tiradentes, como mineira de raiz que sou, me vem à tona a lembrança de Ouro Preto, antiga Vila Rica, cidade que conheci como a palma da minha mão em tempos de estudante, quando o coração também era de estudante.
Subir as suas ladeiras, andar pelos seus becos e vielas, é como entrar numa máquina do tempo e ouvir de novo os sussurros, as conspirações atrás das grandes portas e janelas.
É ouvir os suspiros de amor das alcovas, os poemas de Dirceu para sua Marília.
É contar os contos dos contos de réis.
É saber que cada uma daquelas pedras seculares traz um segredo, que jamais contarão. Não, as pedras de Ouro Preto não são traidoras como o foi Joaquim Silvério dos Reis. Se delas dependesse, as ruas não teriam bebido o sangue de Joaquim José da Silva Xavier.
Um dia, em uma das visitas à cidade, eu bem jovem, perambulando por suas ruas, perdi uma pulseira de ouro. Creio que deve ter caído em uma das suas infinitas gretas, e ali ficado invisível e inacessível entre as pedras. Talvez tenha ficado ali para sempre. Na época fiquei triste, porque era um presente de minha mãe. Hoje, agrada-me saber que ali deixei meu ouro misturado ao seu ouro negro. É como se, assim, eu tivesse me incorporado à sua história.
Hoje, quando vejo alguém que viaja ao exterior, mas que não conhece Ouro Preto, digo que é, sim, maravilhoso subir as ladeiras de Roma, ou de Montmartre em Paris, ou de São Francisco, que é muito bom subir e descer pelas ladeiras do mundo todo, mas que a sua viagem só será completa quando subir as ladeiras de Ouro Preto; só para encontrar ali a sua própria história na eterna Vila Rica dos sonhos de liberdade.
Subir as suas ladeiras, andar pelos seus becos e vielas, é como entrar numa máquina do tempo e ouvir de novo os sussurros, as conspirações atrás das grandes portas e janelas.
É ouvir os suspiros de amor das alcovas, os poemas de Dirceu para sua Marília.
É contar os contos dos contos de réis.
É saber que cada uma daquelas pedras seculares traz um segredo, que jamais contarão. Não, as pedras de Ouro Preto não são traidoras como o foi Joaquim Silvério dos Reis. Se delas dependesse, as ruas não teriam bebido o sangue de Joaquim José da Silva Xavier.
Um dia, em uma das visitas à cidade, eu bem jovem, perambulando por suas ruas, perdi uma pulseira de ouro. Creio que deve ter caído em uma das suas infinitas gretas, e ali ficado invisível e inacessível entre as pedras. Talvez tenha ficado ali para sempre. Na época fiquei triste, porque era um presente de minha mãe. Hoje, agrada-me saber que ali deixei meu ouro misturado ao seu ouro negro. É como se, assim, eu tivesse me incorporado à sua história.
Hoje, quando vejo alguém que viaja ao exterior, mas que não conhece Ouro Preto, digo que é, sim, maravilhoso subir as ladeiras de Roma, ou de Montmartre em Paris, ou de São Francisco, que é muito bom subir e descer pelas ladeiras do mundo todo, mas que a sua viagem só será completa quando subir as ladeiras de Ouro Preto; só para encontrar ali a sua própria história na eterna Vila Rica dos sonhos de liberdade.
Mara Senna
foto: Google - desconheço o autor
terça-feira, 19 de abril de 2016
Ideia fixa
Ideia fixa
Desde que te encontrei às duas da tarde
no Largo da Matriz,
não paro de te encontrar...
às duas da tarde no Largo da Matriz.
Já tentei de outra maneira ser feliz,
mas tudo o que fiz até aqui
foi para te encontrar de novo
às duas da tarde
no Largo da Matriz.
Eu não consigo mais achar outra rima,
mesmo que esteja na ponta do meu nariz.
Eu só quero te encontrar de novo,
às duas da tarde
no Largo da Matriz.
no Largo da Matriz,
não paro de te encontrar...
às duas da tarde no Largo da Matriz.
Já tentei de outra maneira ser feliz,
mas tudo o que fiz até aqui
foi para te encontrar de novo
às duas da tarde
no Largo da Matriz.
Eu não consigo mais achar outra rima,
mesmo que esteja na ponta do meu nariz.
Eu só quero te encontrar de novo,
às duas da tarde
no Largo da Matriz.
Mara Senna
Imagem: Berdia Geliashivilli
segunda-feira, 18 de abril de 2016
Ausência
Ausência
Subitamente, o dia azul de abril tornou-se cinza. e embora houvesse muita luz, sol e harmonia naquela manhã de outono, para mim, havia cessado a estação. Tudo ficou opaco e pesado como o chumbo e eu senti afundar o chão sob meus pés. Minha mãe partira para sempre naquela manhã, avisava a voz do meu irmão ao telefone.
Fiquei sem rumo e francamente parva. Anteontem eu havia me despedido dela na porta de sua casa, parecia bem, acenou-me do alpendre com um sorriso. Mal sabia eu que seria o seu último adeus.
Aos meus ouvidos chegava agora o canto de algum pássaro indiferente, e desinformado da minha dor. Eu compreendera assim, num relance, que quando viesse a flor de maio, eu já não iria florir como de costume. Uma névoa circundou-me em um abraço gelado que só a morte sabe dar. Meu coração agora já estava em pleno inverno
Uma dor lancinante cobrava-me dentro do peito o muito que eu perdia assim, tão de repente. E me vinha ao pensamento um verso do Vinícius: “de repente, não mais que de repente do riso fez-se o pranto...”
E até o ‘de repente’ me soava estranho. Eu sabia o quanto eu havia tentado, ao longo da vida, me preparar para esta perda tão previsível, que Cecília, soube cantar tão bem em teus versos: “era uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se.” E, no entanto, quando se cumpriu, eu me vi totalmente desprevenida.
Quem disse que a vida permite ensaio? A morte estreia triunfante na sua hora precisa; nem um minuto a mais, nem a menos, estejamos nós preparados ou não. E, na verdade, nunca estamos.
Nas folhas secas do chão, súbito, enxerguei claramente a transitoriedade da vida. Elas simplesmente caem na estação prevista, tornam ao pó e outras folhas nascem, tomam seu lugar e assim o ciclo da vida se repete.
Olhei as paineiras que sempre florescem nessa época. Saltavam-me agora aos olhos os grandes espinhos no seu tronco, contrastando com a beleza rósea e suave das suas flores. Flor e espinho, riso e pranto, prazer e dor: seria essa a receita oculta da vida?
Eu buscava, como que desesperada, aprender de Drummond, a ausência “branca e pegada”, mas a minha, nesse momento, era negra e tinha mais a dureza da pedra do que o aconchego dos braços. Talvez, como disse o poeta mineiro, eu ainda fosse mesmo ignorante dessas coisas e lastimasse a falta. Mas ele que tanto entendeu das pedras, há de saber mais do que ninguém o que sinto e entenderá que também eu “tenho razão de sentir saudade.”
Mas, neste ponto, peço desculpas por ousadamente contradizer Vinícius, e dizer que eu não “deixarei que morra em mim a vontade de amar os seus olhos” tão verdes, nem o som gostoso da sua risada, o carinho das suas mãos nos meus cabelos, a doçura da sua voz. Até que um dia eu aprenda a transbordar tanto dessa ausência, que eu possa quase acreditar que de fato eu tenha voltado a ser feliz. E que nunca mais, nada nem ninguém, possa tirá-la de mim. E eu possa repetir Proust e afirmar que a ausência de minha mãe será para mim “a mais certa a mais intensa, a mais indestrutível e a mais fiel das presenças.”
Que assim seja. E há de ser.
Fiquei sem rumo e francamente parva. Anteontem eu havia me despedido dela na porta de sua casa, parecia bem, acenou-me do alpendre com um sorriso. Mal sabia eu que seria o seu último adeus.
Aos meus ouvidos chegava agora o canto de algum pássaro indiferente, e desinformado da minha dor. Eu compreendera assim, num relance, que quando viesse a flor de maio, eu já não iria florir como de costume. Uma névoa circundou-me em um abraço gelado que só a morte sabe dar. Meu coração agora já estava em pleno inverno
Uma dor lancinante cobrava-me dentro do peito o muito que eu perdia assim, tão de repente. E me vinha ao pensamento um verso do Vinícius: “de repente, não mais que de repente do riso fez-se o pranto...”
E até o ‘de repente’ me soava estranho. Eu sabia o quanto eu havia tentado, ao longo da vida, me preparar para esta perda tão previsível, que Cecília, soube cantar tão bem em teus versos: “era uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se.” E, no entanto, quando se cumpriu, eu me vi totalmente desprevenida.
Quem disse que a vida permite ensaio? A morte estreia triunfante na sua hora precisa; nem um minuto a mais, nem a menos, estejamos nós preparados ou não. E, na verdade, nunca estamos.
Nas folhas secas do chão, súbito, enxerguei claramente a transitoriedade da vida. Elas simplesmente caem na estação prevista, tornam ao pó e outras folhas nascem, tomam seu lugar e assim o ciclo da vida se repete.
Olhei as paineiras que sempre florescem nessa época. Saltavam-me agora aos olhos os grandes espinhos no seu tronco, contrastando com a beleza rósea e suave das suas flores. Flor e espinho, riso e pranto, prazer e dor: seria essa a receita oculta da vida?
Eu buscava, como que desesperada, aprender de Drummond, a ausência “branca e pegada”, mas a minha, nesse momento, era negra e tinha mais a dureza da pedra do que o aconchego dos braços. Talvez, como disse o poeta mineiro, eu ainda fosse mesmo ignorante dessas coisas e lastimasse a falta. Mas ele que tanto entendeu das pedras, há de saber mais do que ninguém o que sinto e entenderá que também eu “tenho razão de sentir saudade.”
Mas, neste ponto, peço desculpas por ousadamente contradizer Vinícius, e dizer que eu não “deixarei que morra em mim a vontade de amar os seus olhos” tão verdes, nem o som gostoso da sua risada, o carinho das suas mãos nos meus cabelos, a doçura da sua voz. Até que um dia eu aprenda a transbordar tanto dessa ausência, que eu possa quase acreditar que de fato eu tenha voltado a ser feliz. E que nunca mais, nada nem ninguém, possa tirá-la de mim. E eu possa repetir Proust e afirmar que a ausência de minha mãe será para mim “a mais certa a mais intensa, a mais indestrutível e a mais fiel das presenças.”
Que assim seja. E há de ser.
Mara Senna
Imagem: Leslie Stahl
O pão inventado
O pão inventado
A vontade de fazer um poema
vem como a fome
e se não há pão,
inventa-se.
Só passa a vontade ...
quando fico saciada
do pão inventado.
E porque invento,
vivo e sobrevivo
à míngua
e à mágoa.
É melhor viver a pão e água
do que viver sem poesia.
Mara Senna
foto: do Google
Bolhas de sabão
Bolhas de sabão
Meu pai sempre foi do tipo sério, até bravo, como era a maioria dos pais na minha época de criança.
Ditava as ordens, e tudo o que nós, filhos, pedíamos para nossa mãe, ela dizia: “fala com seu pai, só se ele deixar. E nós o respeitávamos muito, tanto que, quando ouvíamos o barulho das suas chaves fechando o armazém que se comunicava com a nossa casa, anunciando a sua chegada, cessavam todas as brigas, bagunça e desobediência para alivio da minha mãe, que lidava o dia todo com aquelas cinco crianças. Além disso, ele nunca bateu em nenhum de nós: bastava um olhar e já sabíamos que era hora de obedecer.
Ele nunca foi, e ainda não é, do tipo efusivo em beijos e abraços, porque também não foi acostumado a isso na infância. Mas sempre foi muito trabalhador e muito responsável. Zelava muito pela nossa proteção, sustento, educação e sempre nos amou muito a seu modo, tenho certeza.
Por isso tudo, pelo seu jeito de ser, uma cena agradavelmente destoante e especial ficou gravada na minha lembrança como um oásis em meio a toda a sua seriedade. Na hora do almoço ou do jantar, enquanto lavava as mãos no lavatório que havia na copa da nossa casa, ele nos chamava para ver as enormes bolhas de sabão que fazia soprando as duas mãos em concha. Eram bolas enormes, descomunais aos meus olhos de criança, verdadeiras façanhas que só as mãos do meu pai poderiam fazer. Era um momento de leveza no seu dia tão atribulado, tenho certeza. Era o seu modo de dar atenção em meio à tanta responsabilidade. Eu entendia, pai, obrigado.
Hoje ele tem 82 anos, continua trabalhando, correndo, lutando, e embora muito cansado e já sem tanta saúde, não sabe e não quer parar. Mas qualquer dia desses, quando ele estiver aqui em casa, vou pedir para ele fazer para mim as tais bolhas. Só para sentir a leveza delas a me transportar para o mundo dos sonhos. Só para eu ser outra vez sua filha criança.
Mara Senna
em homenagem ao meu pai e a todos os pais.
Se o nosso Fusca falasse
Se o nosso Fusca falasse
Na carona das lembranças da infância, me vem a do Fusca que meu pai tinha no final dos anos sessenta, início dos setenta. Na verdade, houve mais de um: lembro de um azul ou verde, não sei bem, e de um café com leite.
A melhor recordação que eu tenho é que nas noites de domingo, saíamos todos: meu pai, minha mãe e os cinco filhos para dar uma volta. Minha mãe se arrumava, vestíamos roupa de domingo e lá íamos nós felizes da vida.
Entre os irmãos, ...começava a disputa para decidir quem ia nas janelas. Eu, de minha parte, me lembro que adorava ir num "caixotezinho", uma espécie de bagageiro que o Fusca tinha atrás. A caçulinha, bem pequena, ia na frente ( sim, naquela época podia...) em um banquinho que meu pai mandou adaptar sobre o freio de mão.
O passeio consistia basicamente em passar pela rua principal, a Boa Vista, e parar em frente ao Cine Brasil para comprar pipoca do Sr. Durvalino, que sempre nos atendia com um sorriso largo.
Era a melhor pipoca que já experimentei, talvez porque fosse temperada por esse prazer tão simples dar uma volta de carro, o que era um luxo naqueles tempos de poucos luxos.
Se o nosso Fusca falasse, talvez diria que a simplicidade é o verdadeiro luxo, e que quando uma família se reúne, até um Fusca se torna um enorme coração.
A melhor recordação que eu tenho é que nas noites de domingo, saíamos todos: meu pai, minha mãe e os cinco filhos para dar uma volta. Minha mãe se arrumava, vestíamos roupa de domingo e lá íamos nós felizes da vida.
Entre os irmãos, ...começava a disputa para decidir quem ia nas janelas. Eu, de minha parte, me lembro que adorava ir num "caixotezinho", uma espécie de bagageiro que o Fusca tinha atrás. A caçulinha, bem pequena, ia na frente ( sim, naquela época podia...) em um banquinho que meu pai mandou adaptar sobre o freio de mão.
O passeio consistia basicamente em passar pela rua principal, a Boa Vista, e parar em frente ao Cine Brasil para comprar pipoca do Sr. Durvalino, que sempre nos atendia com um sorriso largo.
Era a melhor pipoca que já experimentei, talvez porque fosse temperada por esse prazer tão simples dar uma volta de carro, o que era um luxo naqueles tempos de poucos luxos.
Se o nosso Fusca falasse, talvez diria que a simplicidade é o verdadeiro luxo, e que quando uma família se reúne, até um Fusca se torna um enorme coração.
Mara Senna
foto: desconheço o autor
Matéria no Jornal Enfim sobre Eternidades na palma da mão
Esta matéria que reproduzo abaixo foi publicada no Jonal Enfim, de Ribeirão Preto, em 29 de jameiro de 2016 na página 12 , pelo poeta Antonio Ventura, a quem agradeço imensamente a gentileza.
"Mara Senna e a eternidade na palma da mão
Mara Senna, em seu primeiro livro Luas novas e antigas (2009), já
demonstrava ter uma linguagem própria,elegante e sóbria, no fazer poético. Depois veio Ensaios da Tarde (2012) e recentemente nos deu a alegria de seu mais recente livro Eternidades na palma da mão (2015), pela Editora Patuá, com precioso prefácio de Menalton Braff. O livro repete a linguagem amadurecida, da poeta que fala com propriedade das coisas simples e vida palpitante. Vale a pena reproduzir aqui alguns versos, como estes que refletem, quase como uma prece, da necessidade do voo e da poesia:
“Hoje eu preciso voar,
sair do chão
ficar em Tua companhia.
Ser apenas pluma,
bruma,
espuma do mar,
qualquer coisa muito leve,
que me eleve para o ar.”
Ou versos modernos como estes:
“Desde o dia em que ele olhou
bem fundo em seus olhos,
ela nunca mais voltou à tona
e segue atônita.
Se ele não fizer, com urgência,
uma respiração boca a boca,
ela morrerá afogada e louca.”
Ou sobre o amor:
“amar é a paciência de escrever
na areia
e deixar que a maré apague,
todo santo dia.”
Ou sobre a fugacidade do tempo:
“Já é meia-idade,
e eu não cheguei nem à metade!
Atraso meu
ou a vida anda passando
em excesso de velocidade?”
Vale a pena conferir.
Antonio Ventura, autor dos livros O catador de palavras e O guardador de abismos, que podem ser encontrados nas livrarias Travessa e Cultura de Ribeirão Preto."
O livro Eternidades na palma da mão pode ser adquirido em todo o Brasil pelo site da Editora Patuá www.editorapatua.com.br e em Ribeirão Preto diretamente comigo.
Com Eduardo Lacerda
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Texto de Ely Vieitez Lisboa sobre Eternidades na palma da mão no Jornal A Cidade
Texto publicado no jornal A Cidade sobre meu livro Eternidades na palma da mão. Agradeço imensamente à querida e admirável mestra e escritora Ely Vieitez Lisboa por esse precioso.presente # gratidão
POESIA E ETERNIDADE
(*) Ely Vieitez Lisboa
A ânsia pela eternidade, nos poetas, é compreensível. Sua alma rica e inquieta sempre procura caminhos. O terceiro livro de Mara Senna tem o título: “Eternidade na palma da mão”. A escolha não deve ter sido aleatória e lendo seus poemas dessa obra da Editora Patuá, publicada em outubro de 2015, lá se encontram ricos versos, notáveis metáforas que ilustram, de maneira perfeita, essa busca.
Menalton Braff, grande romancista e expert conhecedor do gênero lírico, é quem faz o prefácio da obra e termina seu comentário perspicaz sobre o novo livro de Mara, afirmando sabiamente: “Estamos assistindo à ascensão de uma poeta com talento e vocação para altos voos.” Ora, a qualidade dos dois primeiros livros de Mara Senna já prenunciava o teor excelso do terceiro. Em uma análise comparativa, detectam-se certas características poéticas da autora: preferência por poemas curtos, poeticidade delicada, abordagem do cotidiano, transformando-o em puro lirismo, com uma linguagem figurada rica e expressiva.
Outra característica de seus poemas é o enriquecimento com alusões literárias, bíblicas e mitológicas. Nota-se, no entanto, uma diferença. Mara, nesse terceiro livro, não apenas usa as alusões. Ela as recria, sugere, enriquece. Cite-se como exemplo o poema Fraqueza, da pág. 50; além da criatividade, a poeta usa a figura da personificação (figura de palavra ou tropo) que se alteia, terminando em uma metáfora maior, alicerçada em uma alusão mitológica: “Os desejos antigos / fitam-me com seus olhos enormes / e cheios de vontades. / Insones, / vigiam-me pelas frestas. / De vez em quando /num descuido meu, / encontram brechas, / e atiram, sem piedade, / as suas flechas, / bem no meu calcanhar de Aquiles”.
Aliás, a linguagem figurada de Mara Senna, em “A eternidade na palma da mão” é de uma riqueza rara. Uma das figuras mais usadas por ela é a personificação, que dá vida a seres inanimados. Às vezes encadeia metáforas, como no poema “Resquício” (pág. 49), presenteando o leitor com uma alegoria.
Junte-se à riqueza temática, seu encantamento pelo cotidiano, transformando-o em pura arte, o que nos faz lembrar do epíteto Demiurgo do Cotidiano, dado a Chico Buarque, que usava as pequenas coisas do dia a dia, em suas letras, criando verdadeiros poemas. Mara usa alguns temas recorrentes, como a inexorabilidade do tempo, abordagens metafísicas, a religiosidade, e, às vezes, perpassam pelos poemas um certo ceticismo e laivos de tristeza.
Sua concisão nos oferece até um poema em apenas dois versos, um dístico de grande sabedoria e beleza. A Poeta usa com precisão os pronomes “tu” e “vós”, realçando o primeiro para intimidades e o segundo, para temas mais universais. Veja-se o poema “Não perturbeis”, na pág. 75: “Nas feridas / que dormem em suas cascas / não toqueis com os dedos sujos de passado / não coloqueis emplastros de presente, / não apliqueis esperanças de futuro! / Não tendes permissão para isso, / pois só o coração é soberano / na duração de cada ferida: / pode ser um segundo, / pode ser uma vida. / Tudo vai depender da boa vontade / de Sua Majestade.”
Enfatize-se, no livro, a riqueza das alusões. O poema Ressurreição (pág. 80) é um belíssimo exemplo dessa característica, sinal de cultura e de criatividade: “Alguns podem até achar que eu faço fita, / mas, vez ou outra, / eu morro por dentro, / e só a poesia me ressuscita. / Sempre haverá um terceiro dia, / enquanto me restar / a poesia”.
Esta é Mara Senna, Midas da Poesia. Tudo que toca, vira ouro, em uma linguagem de aparente simplicidade.
https://www.facebook.com/poetamarasenna/photos/a.512633472159075.1073741826.512629005492855/952231941532557/?type=3&theater
Sarau e exposicão Fiori di Italia
Algumas fotos da exposição Fiori Di Itália com obras mistas da parceria de Denise Müller, (xilogravura), e José Roberto Nocera (aquarela) e 13 poemas meus inspirados nestas obras, sobre as regiões e flores da Itália.
Além da exposição, os poemas foram interpretados pelas atrizes Renata Martelli e Isabela Graeff, durante um sarau, que também contou com a musicista Gilda Montans e seu acordeon. Foi maravilhoso!
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1153367631349405
Além da exposição, os poemas foram interpretados pelas atrizes Renata Martelli e Isabela Graeff, durante um sarau, que também contou com a musicista Gilda Montans e seu acordeon. Foi maravilhoso!
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1153367631349405
Lançamento de Eternidades na palma da mào em Araxá
No dia 11 de março aconteceu o lançamento de Eternidades na palma da mão em Araxá, minha terra natal. O evento foi no Teatro Municipal de Araxá. Foi uma linda noite.
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1158623204157181
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1158623204157181
Lançamento de Eternidades na palma da mão em São Paulo
Lançamento de Eternidades na palma da mão em São Paulo na inauguração do Patuscada Bar Livraria e Café e lançamento da Antologia Patuscada da qual participei. Muito bom.
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1172035402815961
https://www.facebook.com/mara.senna.3/posts/1172035402815961
Minha participação em Dois Pontos na lLivraria Travessa
No dia 29/03 participei de um bate-papo sobre Mulheres na Literatura na Livraria Travessa do Ribeirão Shopping.. Foi ótimo!
https://www.facebook.com/TravessaRibeirao/posts/579337445555083
https://www.facebook.com/TravessaRibeirao/posts/579337445555083
Meu poema no fanzine
Meu poema Vigília publicado no fanzine do Rafael Nolli em Araxá. Muito legal!
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1175327729153395&set=pcb.1175328185820016&type=3&theater
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1175327729153395&set=pcb.1175328185820016&type=3&theater
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