quinta-feira, 14 de abril de 2016

Texto de Ely Vieitez Lisboa sobre Eternidades na palma da mão no Jornal A Cidade



Texto publicado no jornal A Cidade sobre meu livro Eternidades na palma da mão. Agradeço imensamente à querida e admirável mestra e escritora Ely Vieitez Lisboa por esse precioso.presente # gratidão
POESIA E ETERNIDADE
(*) Ely Vieitez Lisboa
A ânsia pela eternidade, nos poetas, é compreensível. Sua alma rica e inquieta sempre procura caminhos. O terceiro livro de Mara Senna tem o título: “Eternidade na palma da mão”. A escolha não deve ter sido aleatória e lendo seus poemas dessa obra da Editora Patuá, publicada em outubro de 2015, lá se encontram ricos versos, notáveis metáforas que ilustram, de maneira perfeita, essa busca.
Menalton Braff, grande romancista e expert conhecedor do gênero lírico, é quem faz o prefácio da obra e termina seu comentário perspicaz sobre o novo livro de Mara, afirmando sabiamente: “Estamos assistindo à ascensão de uma poeta com talento e vocação para altos voos.” Ora, a qualidade dos dois primeiros livros de Mara Senna já prenunciava o teor excelso do terceiro. Em uma análise comparativa, detectam-se certas características poéticas da autora: preferência por poemas curtos, poeticidade delicada, abordagem do cotidiano, transformando-o em puro lirismo, com uma linguagem figurada rica e expressiva.
Outra característica de seus poemas é o enriquecimento com alusões literárias, bíblicas e mitológicas. Nota-se, no entanto, uma diferença. Mara, nesse terceiro livro, não apenas usa as alusões. Ela as recria, sugere, enriquece. Cite-se como exemplo o poema Fraqueza, da pág. 50; além da criatividade, a poeta usa a figura da personificação (figura de palavra ou tropo) que se alteia, terminando em uma metáfora maior, alicerçada em uma alusão mitológica: “Os desejos antigos / fitam-me com seus olhos enormes / e cheios de vontades. / Insones, / vigiam-me pelas frestas. / De vez em quando /num descuido meu, / encontram brechas, / e atiram, sem piedade, / as suas flechas, / bem no meu calcanhar de Aquiles”.
Aliás, a linguagem figurada de Mara Senna, em “A eternidade na palma da mão” é de uma riqueza rara. Uma das figuras mais usadas por ela é a personificação, que dá vida a seres inanimados. Às vezes encadeia metáforas, como no poema “Resquício” (pág. 49), presenteando o leitor com uma alegoria.
Junte-se à riqueza temática, seu encantamento pelo cotidiano, transformando-o em pura arte, o que nos faz lembrar do epíteto Demiurgo do Cotidiano, dado a Chico Buarque, que usava as pequenas coisas do dia a dia, em suas letras, criando verdadeiros poemas. Mara usa alguns temas recorrentes, como a inexorabilidade do tempo, abordagens metafísicas, a religiosidade, e, às vezes, perpassam pelos poemas um certo ceticismo e laivos de tristeza.
Sua concisão nos oferece até um poema em apenas dois versos, um dístico de grande sabedoria e beleza. A Poeta usa com precisão os pronomes “tu” e “vós”, realçando o primeiro para intimidades e o segundo, para temas mais universais. Veja-se o poema “Não perturbeis”, na pág. 75: “Nas feridas / que dormem em suas cascas / não toqueis com os dedos sujos de passado / não coloqueis emplastros de presente, / não apliqueis esperanças de futuro! / Não tendes permissão para isso, / pois só o coração é soberano / na duração de cada ferida: / pode ser um segundo, / pode ser uma vida. / Tudo vai depender da boa vontade / de Sua Majestade.”
Enfatize-se, no livro, a riqueza das alusões. O poema Ressurreição (pág. 80) é um belíssimo exemplo dessa característica, sinal de cultura e de criatividade: “Alguns podem até achar que eu faço fita, / mas, vez ou outra, / eu morro por dentro, / e só a poesia me ressuscita. / Sempre haverá um terceiro dia, / enquanto me restar / a poesia”.
Esta é Mara Senna, Midas da Poesia. Tudo que toca, vira ouro, em uma linguagem de aparente simplicidade.




https://www.facebook.com/poetamarasenna/photos/a.512633472159075.1073741826.512629005492855/952231941532557/?type=3&theater

Nenhum comentário:

Postar um comentário