quinta-feira, 21 de abril de 2016

Vila Rica



Foto de Toda Prosa - Mara Senna.

Vila Rica

Neste dia 21 de abril, dia de Tiradentes, como mineira de raiz que sou, me vem à tona a lembrança de Ouro Preto, antiga Vila Rica, cidade que conheci como a palma da minha mão em tempos de estudante, quando o coração também era de estudante.
Subir as suas ladeiras, andar pelos seus becos e vielas, é como entrar numa máquina do tempo e ouvir de novo os sussurros, as conspirações atrás das grandes portas e janelas.
É ouvir os suspiros de amor das alcovas, os poemas de Dirceu para sua Marília.
É contar os contos dos contos de réis.
É saber que cada uma daquelas pedras seculares traz um segredo, que jamais contarão. Não, as pedras de Ouro Preto não são traidoras como o foi Joaquim Silvério dos Reis. Se delas dependesse, as ruas não teriam bebido o sangue de Joaquim José da Silva Xavier.
Um dia, em uma das visitas à cidade, eu bem jovem, perambulando por suas ruas, perdi uma pulseira de ouro. Creio que deve ter caído em uma das suas infinitas gretas, e ali ficado invisível e inacessível entre as pedras. Talvez tenha ficado ali para sempre. Na época fiquei triste, porque era um presente de minha mãe. Hoje, agrada-me saber que ali deixei meu ouro misturado ao seu ouro negro. É como se, assim, eu tivesse me incorporado à sua história.
Hoje, quando vejo alguém que viaja ao exterior, mas que não conhece Ouro Preto, digo que é, sim, maravilhoso subir as ladeiras de Roma, ou de Montmartre em Paris, ou de São Francisco, que é muito bom subir e descer pelas ladeiras do mundo todo, mas que a sua viagem só será completa quando subir as ladeiras de Ouro Preto; só para encontrar ali a sua própria história na eterna Vila Rica dos sonhos de liberdade.
 
Mara Senna

foto: Google - desconheço o autor

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